EUA, Arábia Saudita, Rússia: COP30 certifica o nascimento de um "eixo do mal" climático

Foto: Kartikay Sharma/Unplash

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25 Novembro 2025

A recusa em mencionar petróleo ou gás na COP30, o que prejudicaria o negócio de vendas de hidrocarbonetos diante da ascensão das energias renováveis, revela o abismo que os EUA criaram nas negociações climáticas.

A reportagem é de Raúl Rejón, publicada por El Diario, 24-11-2025.

Os Estados Unidos, a Arábia Saudita e a Rússia. Uma espécie de "eixo do mal" climático emergiu durante a COP30, realizada em Belém do Pará, no Brasil. Seu objetivo? Inflar as contas de petróleo e gás — ou seja, as dos principais culpados pelas mudanças climáticas — diante do avanço objetivo das energias renováveis.

Em 18 de novembro, enquanto as negociações da cúpula climática estavam em seu ponto mais tenso, o presidente dos EUA, Donald Trump, se reuniu com o primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman. Os americanos não tinham um enviado de alto nível no Brasil, mas os sauditas tinham. Lá, o representante de bin Salman chegou a criticar a terceira vice-presidente, Sara Aagesen, por defender um plano para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Ele a acusou de colocar em risco o Acordo de Paris — um instrumento criado para combater as mudanças climáticas causadas pelo uso intensivo de petróleo, carvão e gás.

Trump selou a aliança árabe-americana ao declarar, juntamente com o saudita, que entrar em uma embaixada árabe para renovar o passaporte e sair morto e desmembrado, como aconteceu com o jornalista Jamal Khashoggi, são "coisas que acontecem". O americano havia garantido um investimento de US$ 600 bilhões dos sauditas, principalmente para impulsionar a energia nuclear e os minerais críticos.

“Os EUA não estiveram presentes na COP, mas é inconcebível que não tenham discutido o assunto na reunião amistosa entre Trump e Bin Salman na Casa Branca. Ou que não apoiem a postura pró-Rússia na guerra na Ucrânia”, explica Michael Jacobs, professor de Economia Política da Universidade de Sheffield.

Contra as energias renováveis, a favor de sua receita.

Na véspera da conferência climática da ONU, à qual havia decidido não comparecer, o governo dos EUA enviou seu secretário de Energia, Chris Wright, a uma conferência de energia na Grécia para dizer à Europa que ela deve permanecer dependente de combustíveis fósseis.

“A transição para energias renováveis ​​não funcionou. O mundo precisa se concentrar em garantir um fornecimento confiável de combustíveis fósseis”, argumentou Wright, que admitiu querer substituir “cada molécula” de gás russo que a UE compra da Rússia por gás extraído nos EUA.

A verdade é que o avanço das energias renováveis, longe de ser ineficaz, é uma realidade. Este ano, pela primeira vez, a produção de eletricidade a partir de energia solar e eólica ultrapassou a do carvão em todo o mundo, segundo uma análise da consultoria Ember. "O rápido crescimento da energia solar e eólica no primeiro semestre de 2025 indica que a demanda por combustíveis fósseis está se aproximando do seu pico", concluiu o relatório.

Portanto, o crescimento da energia limpa é o que ameaça o setor de combustíveis fósseis, ao qual o enviado de Donald Trump à Grécia se referia tão abertamente. Isso porque seu objetivo explícito é que os EUA sejam "dominantes em energia por décadas", como a Casa Branca enfatizou há alguns dias ao anunciar seu plano de intensificar a perfuração de petróleo e gás no fundo do mar na Califórnia e na Flórida.

Para seus aliados árabes, esse negócio gerou US$ 106 bilhões em receita líquida em 2024, arrecadados por meio de sua empresa estatal Aramco. Isso equivale a US$ 290 milhões por dia. No caso da Rússia, entre 30% e 50% de sua receita orçamentária depende de combustíveis fósseis.

Além disso, essa complexa teia é evidente nas negociações climáticas da COP. Bill Hare, diretor e cientista sênior da Climate Analytics, acredita que “os governos cederam à pressão dos países produtores de combustíveis fósseis e de sua indústria, apesar de quase 90 nações terem instado à criação de um roteiro para a eliminação gradual desses combustíveis”.

E o efeito cascata desse eixo anti-clima se estende muito além da própria cúpula da ONU. Quando o enviado da União Europeia, o Comissário para a Ação Climática, Wopke Hoekstra, tentava incluir na agenda alguma menção à redução da dependência de petróleo, gás e carvão, sua superiora direta, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, minou sua posição na reunião do G20 na África do Sul ao defender justamente esses combustíveis.

“Não estamos lutando contra os combustíveis fósseis. Estamos lutando contra as emissões desses combustíveis”, disse Von der Leyen, como se fossem questões separadas. Esse tem sido um argumento tradicional usado pelos países produtores de petróleo para evitar apontar a causa principal das mudanças climáticas.

Conflito aberto nas negociações climáticas

Neste ponto, vale lembrar que 90% das emissões de CO₂ provêm da queima de petróleo, gás e carvão. O CO₂ é responsável por 59% do aquecimento global, sendo outros 16% causados ​​pelo metano, principal componente do gás natural. A concentração de CO₂ na atmosfera aumentou 34% desde 1960 devido às emissões adicionais causadas pelo uso intensivo de petróleo, carvão e gás.

O economista Jacobs analisa que “a oposição implacável da Arábia Saudita, da Rússia, dos Emirados Árabes Unidos e da Índia a qualquer menção à transição para longe dos combustíveis fósseis na COP30 revela um conflito amargo e crescente no cerne das negociações climáticas”.

De acordo com o professor, em ambos os lados dessa divisão estão “aqueles que aceitam o fato científico de que, para lidar com as mudanças climáticas, o mundo precisa se desvencilhar dos combustíveis fósseis nas próximas décadas, e aqueles que resistem ativamente a isso para satisfazer seus interesses energéticos de curto prazo”. O eixo anti-clima.

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