24 Setembro 2025
O discurso de ontem (23/9) do presidente Lula na abertura da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi marcado por uma forte defesa da soberania do Brasil, da democracia brasileira e do multilateralismo como o único caminho para o desenvolvimento econômico e social global. O clima também esteve na fala de Lula, quando o presidente cobrou a apresentação das novas metas climáticas dos países sob o Acordo de Paris e disse que a COP30 em Belém será a “COP da Verdade”.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 24-09-2025.
“A COP30 (…) será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta. Sem ter o quadro completo das Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, caminharemos de olhos vendados para o abismo”, disse Lula. O presidente lembrou que o Brasil já apresentou sua NDC, com o objetivo de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035 em relação a 2005.
Além das NDCs, Lula também cobrou mais financiamento climático dos países ricos. “Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios. Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões. Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de Justiça”, afirmou.
O presidente retomou um argumento frequente em suas falas para reforçar a cobrança: as grandes potências gastam muito mais em armamentos e guerra do que em apoio à ação climática nos países mais pobres. “Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática”, disse Lula.
Lula não abordou a necessária eliminação dos combustíveis fósseis, mas falou sobre transição energética. Em uma menção curta, o presidente disse que a busca por minerais críticos, essenciais para o processo, “não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”.
Numa aparente resposta às críticas da escolha de Belém para a COP30, Lula afirmou que “o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia” na capital paraense. O presidente ressaltou a redução do desmatamento da região em seu governo e disse que erradicar a devastação “requer garantir condições dignas de vida” para os milhões de amazônidas.
Nessa linha, Lula falou do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), apresentado pelo presidente e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em um evento na tarde de ontem em Nova York. O presidente afirmou que o objetivo do TFFF é remunerar os países para a preservação de suas florestas, mas com ganhos financeiros também para os investidores do fundo.
Ao enaltecer a Convenção da ONU sobre o Clima, o presidente destacou a necessidade de “trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU”. Para isso, propôs a criação de um conselho “com força e legitimidade” para monitorar compromissos. “Trata-se de um passo fundamental na direção de uma reforma mais abrangente da Organização, que contemple também um Conselho de Segurança ampliado nas duas categorias de membros”, disse.
Para o Observatório do Clima, o discurso de Lula na ONU foi positivo, mas nada além do básico. “Quem estava esperando um discurso do grande líder climático do Sul Global que arrancou aplausos do mundo em 2022 na COP27, no Egito, pode ter se frustrado: a fala não foi a de um anfitrião de uma conferência do clima decisiva para garantir um futuro seguro para a Humanidade. Porém, o mundo e o Brasil de 2025 tampouco são os de novembro de 2022. A COP30 precisará triunfar num ambiente político e geopolítico muito desfavorável, e esse climão fica evidente em tudo que Lula disse e principalmente no que não disse”, destacou o OC.
O discurso de Lula na ONU foi repercutido por Agência Brasil, Valor, g1, UOL, Exame, Band, Correio Braziliense, UOL, Ansa e CBN, entre outros veículos.
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