31 Mai 2025
Brasil tem potencial para protagonismo, mas o paradoxo da exploração mineral no país ainda carece de regulação.
A informação é publicada por ClimaInfo, 04-05-2025.
Os chamados minerais críticos, estratégicos, de terras raras, estão em especial evidência por serem essenciais para tecnologias utilizadas no processo de transição energética, como baterias de carros elétricos e turbinas eólicas. Embora o mercado desses minerais hoje seja dominado pela China, as reservas brasileiras têm um inegável potencial, como revelado pela edição 2025 do Mineral Commodity Summaries, relatório do Serviço Geológico Americano (USGS), segundo noticiado por O Globo e Valor. O país avançou uma posição nos rankings globais de terras raras e lítio em 2024, ocupando agora a segunda e a sexta posição, respectivamente.
Enquanto cresce a necessidade de acelerar a descarbonização, o Ministério de Minas e Energia (MME) aposta na mineração como “mola propulsora” desse movimento, com mais de 50 projetos de mineração em fase desenvolvimento que podem transformar o país em um dos principais fornecedores mundiais. Porém, especialistas alertam para os riscos de dependência econômica e impactos socioambientais.
A Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM), de Minaçu (GO), única produtora fora da Ásia de terras raras como neodímio e disprósio, já planeja dobrar sua produção até 2030 – um sinal de que o Brasil pode se tornar peça-chave na geopolítica dos minerais críticos, mas também alvo de disputas comerciais e pressões regulatórias.
O domínio brasileiro no nióbio (94,1% das reservas mundiais) e sua crescente produção de lítio, grafite e manganês coloca o país em posição privilegiada na mesma medida em que revela uma contradição: enquanto empresas como a CBMM investem em tecnologias de ponta, como baterias de nióbio para ônibus elétricos, o país ainda exporta grande parte de seus minerais como commodities, sem agregar valor.
A ANM aprovou 4.630 projetos de pesquisa em 2024, mas a falta de uma política industrial clara ameaça perpetuar o papel brasileiro como fornecedor de matéria-prima. O BNDES tenta reverter esse cenário com um edital de R$ 5 bilhões para inovação em minerais estratégicos, mas o desafio vai além do financiamento. A pressão por licenciamentos ágeis e a atração de investimentos estrangeiros esbarram em questões ambientais e na histórica instabilidade regulatória do setor.
A corrida pela exploração dos minerais da transição não se restringe, claro, ao Brasil. A China conta com 30 dos 50 principais minérios deste tipo e utiliza esses recursos como moeda, por exemplo, ao impor sanções para exportações aos EUA por conta da guerra tarifária iniciada por Donald Trump, e pode influenciar diretamente indústrias nada comprometidas com um futuro mais justo, ainda que fundamentais para a economia norte-americana, como a produção de armas, avaliou o South China Morning Post. Não por acaso, Trump iniciou uma ação desenfreada para agilizar a busca por esses minerais no fundo do mar no mês passado.
A Austrália, informou a Reuters, também anunciou um investimento inicial de AU$ 1,2 bilhão ($763 milhões) para criar uma reserva estratégica de minerais críticos, buscando se posicionar como alternativa à China no fornecimento global. O governo pretende fortalecer sua autonomia e resiliência econômica, reduzindo a dependência do mercado dominado pelos chineses.
A medida surge após restrições de exportação impostas pela China e visa assegurar suprimentos para a Austrália e seus parceiros internacionais. Ao que parece, o cenário que coaduna descarbonização e mineração ainda irá arregimentar muitos esforços além de alimentar paradoxos exploratórios, sobretudo em territórios marcados pela presença de biodiversidade e Povos Ancestrais.