21 Outubro 2025
"Meu marido já havia morrido no Mediterrâneo", conta Kéménani, uma mulher de 50 anos que mora no bairro de Falidie, periferia de Bamako, capital do Mali: "Ele decidiu partir porque a família havia aumentado demais e estávamos com muitos problemas. Depois de meses sem notícias dele, um amigo que estava com ele na Mauritânia nos ligou e nos disse que ele havia morrido. Então, meu filho Koniba começou a pensar em tomar o lugar dele. Implorei a ele: 'Não vá embora, já sou viúva, não aguentaria a dor'. Mas ele estava muito preocupado com a nossa família e, uma noite, sem me dizer nada, foi embora."
A reportagem é de Luca Attanasio, publicada por L'Osservatore Romano, 18-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O nome do meu filho era Mohamed", conta Awa, que mora em Missabougou, outro bairro de Bamako: "Ele adorava ir à escola, nunca havia repetido de ano e compareceu ao exame — uma espécie de prova para o segundo ciclo de estudos — com a certeza de que passaria. Mas, inexplicavelmente, não foi aprovado; talvez seu teste tenha sido avaliado de forma incorreta, ou talvez alguém estava bravo com ele; o fato é que Mohamed se fechou em si mesmo, não queria sair nem conversar com os amigos. Até que me disse: 'Mãe, já me decidi, vou estudar na Europa'. Entrei em uma espécie de pesadelo."
Os depoimentos de Kéménani e Awa são apenas alguns dos depoimentos de mães de jovens migrantes coletados em Bamako, onde se realizou a segunda etapa do projeto Mums, contar as migrações pelas vozes das mães. Esse projeto jornalístico é financiado pela Coordenação Nacional de Comunidades para Menores (CNCM), com sede em Florença. No debate sobre migração, muitas vezes os números acabam sendo exagerados, os fenômenos são usados para mero consenso e, acima de tudo, os fatores determinantes são ignorados ou omitidos. Um dos aspectos mais negligenciados diz respeito aos afetos dos migrantes, considerados ausentes ou sem importância, como se qualquer um que deixa qualquer país do chamado Sul Global em busca de um futuro e segurança contra conflitos, desastres ou pobreza não tivesse por trás de si família, laços ou amores. Não tivesse mães angustiadas em espera de um sinal de seus filhos, que, cada vez mais, nunca chega. A remoção da história pessoal dos migrantes é o último dos direitos negados.
O Mums foi lançado justamente para resgatar essas histórias e trazer à tona as vozes de quem fica. Consiste em várias missões em países africanos e visa coletar depoimentos de mães de migrantes e produzir, além de artigos, uma série de curtas-metragens (um para cada país) que formarão um único documentário final. Ao contrário dos depoimentos coletados na Gâmbia em setembro de 2024 — onde as quatro mulheres entrevistadas relataram seu sofrimento como mães que esperaram meses por notícias de seus filhos que partiram para a Europa, além da felicidade de saber finalmente que estão vivos e, de alguma forma, estabelecidos na Itália —, aqueles coletados no Mali são todos de mães desesperadas porque aquelas notícias sobre seus filhos, após meses, às vezes anos de espera, nunca chegaram. Ou melhor, uma notícia chegou após uma espera infinita, a mais dramática.
"Durante meses, após sua partida, não tive notícias", continua Kéménani, "até que finalmente ele me ligou para dizer que havia deixado a Argélia e partido para a Líbia; por um tempo, trocamos notícias, digamos, uma vez a cada dois ou três meses. Depois, as comunicações se interromperam novamente e eu mergulhei na angústia. No fim, um dos amigos que viajavam com Koniba me ligou: dois dos quatro haviam sobrevivido e meu filho estava entre os mortos." Nos olhos da mulher, pode-se ler a angústia de um preço altíssimo pago por políticas injustas, a dor de perder dois entes queridos que não puderam partir com um visto regular em um voo regular devido às estratégias de fechamento das fronteiras de natureza ainda colonial.
"Por que vocês, europeus, não entendem que nossos filhos partem em busca da felicidade para si e para suas famílias?", ela parece gritar num lampejo de consciência que quase a desperta da dor de sua narrativa. "Vocês são bem-vindos aqui e podem ir e vir sem problemas. Por que nossos filhos não podem?" A pergunta ecoa entre muitas outras de outras tantas mulheres, homens e crianças, e se torna ensurdecedora, mas permanece sem resposta.
"Uma mulher malinesa que morava no Marrocos e que havia dado emprego ao meu filho por alguns meses me ligou", relata Awa. "Quando Mohamed foi embora, lhe deixou meu número pedindo que me ligasse para dar notícias. Ela me falou com a voz trêmula de uma mãe que entende: 'Seu garoto morreu.' Todos começamos a chorar, foi um choque indescritível, ele tinha apenas 16 anos. Minha saúde começou a piorar a partir daquele dia, minha pressão subiu acima de 200." Aqui Awa se interrompe e mostra toda a dificuldade de recordar, mesmo que a lembrança daquele dia dramático, juntamente com a lembrança de seu filho, esteja sempre presente. "A última lembrança que tenho dele? Ele me ligou para dizer que tinha ganhado algum dinheiro e estava prestes a me enviar, ele estava feliz e me disse: 'Estou indo para a Espanha'. Aquele dinheiro chegou depois de um tempo, mas eu nunca tive coragem de usá-lo."
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