06 Outubro 2025
Sébastien Lecornu sai, pedindo "humildade" nas negociações e colocando os interesses do país antes da militância.
A reportagem é publicada por El Diario, 06-10-2025.
O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, renunciou esta manhã. Lecornu apresentou sua renúncia ao presidente francês, Emmanuel Macron, que a aceitou, apenas um dia após anunciar a formação de seu governo e menos de um mês no cargo. Os dois se encontraram por uma hora no Palácio do Eliseu, segundo a BFMTV.
“Os partidos políticos continuam a se comportar como se tivessem maioria absoluta. Já me vi em situações em que um acordo estava próximo, mas cada partido queria que os outros adotassem integralmente sua plataforma”, explicou Lecornu após a decisão, em uma aparição sem perguntas. Ele disse que, à medida que negociava com os vários partidos – que não nomeou – e que se avançava nos compromissos, “a linha mudou”.
"Sou militante, mas é preciso sempre colocar o país à frente do partido", concluiu, antes de afirmar que chegar a um acordo exige humildade, já que, na realidade, as diferenças não são tão grandes.
Lecornu deveria apresentar seu programa de governo à assembleia na terça-feira. A oposição já havia ameaçado apresentar uma moção de censura sobre a composição do governo.
O breve primeiro-ministro expressou sua disposição de suavizar as medidas de austeridade anunciadas por seu antecessor, François Bayrou, que foram rejeitadas por unanimidade pela oposição. No entanto, ele não renunciou à redução da dívida pública e dos déficits. A questão era se Lecornu conseguiria encontrar um compromisso aceitável entre macronistas e socialistas. No sábado, o primeiro secretário do Partido Socialista dos Trabalhadores (PS), Olivier Faure, declarou em entrevista ao Le Parisien: "Estamos caminhando diretamente para um voto de desconfiança se a situação não mudar". Essa incerteza foi rapidamente resolvida negativamente.
A pressão agora recai diretamente sobre Macron. Mathilde Panot, líder da França Insubmissa (LFI) na Assembleia da República, publicou uma mensagem no X afirmando que "Macron precisa sair" e que a "contagem regressiva começou".
A crise atual na política francesa está passando por uma nova reviravolta. Macron poderia agora tentar nomear um novo primeiro-ministro – seria o quarto em um ano, após as tentativas frustradas de Michel Barnier e François Bayrou, além do próprio Lecornu – ou até mesmo dissolver o parlamento e convocar eleições. A LFI, por sua vez, propõe uma votação parlamentar para destituir o próprio Presidente da República, conforme previsto na Constituição francesa, em caso de "incumprimento de suas funções manifestamente incompatível com o exercício de seu mandato".
O presidente do partido de extrema-direita União Nacional, Jordan Bardella, também pediu a dissolução da Câmara e a realização de novas eleições legislativas. "A estabilidade não pode ser restaurada sem o retorno às urnas", escreveu ele no X. "Chegamos ao fim da linha. Não há outra solução", confirmou a líder Marine Le Pen.
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