"Todos os países ocidentais devem parar de apoiar Israel". Entrevista com Shirin Ebad

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16 Setembro 2025

Trump ganhar o Prêmio Nobel da Paz? Seria um erro, argumenta Shirin Ebadi, que recebeu o prêmio em 2003 como advogada e ativista que dedicou sua vida à luta pelos direitos humanos. Neste fim de semana, ela participou da Conferência Europeia para a Liberdade e a Democracia, organizada em Ventotene pela vice-presidente do Parlamento Europeu, Pina Picierno, de onde lançou um apelo à Europa para que lute pela democracia no mundo.

A entrevista é de Flavia Amabile, publicada por La Stampa, 15-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Trump afirma que mereceria o Prêmio Nobel da Paz, afirmando ter interrompido seis guerras. O que acha?

Não sou membro do Prêmio Nobel, mas, na minha opinião, Trump não deveria receber esse reconhecimento. Acho que o comitê não cometerá esse erro. Já fizeram isso com Obama, mas o ex-presidente dos EUA trouxe a paz a algum lugar do mundo? Na minha opinião, o Prêmio Nobel deveria ser concedido à sociedade civil, às ONGs e aos ativistas dos direitos humanos, não aos políticos. Vocês veem a situação do mundo? O que os políticos fizeram para receber o Prêmio Nobel?

Um dos políticos que não está fazendo nada pela paz é o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que em 9 de setembro lançou um ataque ao Catar, sem conseguir eliminar os líderes do Hamas. O que isso significa para o Oriente Médio?

Todo conflito traz instabilidade, e Netanyahu e Khamenei são ambos responsáveis pelo que está acontecendo na região. Na minha opinião, as raízes da situação caótica no Oriente Médio também devem ser buscadas na República Islâmica do Irã, porque desde o início adotou a política errada.

O que a Europa deveria fazer, na sua opinião?

A coisa mais importante que a Europa pode fazer por nós é parar de apoiar a República Islâmica do Irã. Se a democracia for restabelecida no Irã, todo o Oriente Médio certamente recuperará a estabilidade.

O mesmo deveria ser feito em Israel, a quem a Itália e a Europa continuam a fornecer apoio, além de armas.

Não só o Ocidente apoia Israel, mas também a China e a Rússia. O problema é que, ao ignorar as resoluções da ONU — e é isso que Israel está fazendo — fica evidente o quão enfraquecidas as Nações Unidas se tornaram.

Agora que as Nações Unidas parecem mais fracas e todo o sistema de direito internacional em que se baseou o mundo do século XX está desaparecendo, qual pode ser o caminho para a paz?

Precisamos dar maior prioridade à segurança da humanidade, não à segurança de nações individuais. E há a questão ambiental: se continuarmos a ignorá-la, enfrentaremos tragédias, além de guerras.

Se você tivesse a oportunidade de se encontrar com Trump, o que lhe diria?

Eu diria a ele para pensar na segurança da humanidade, não apenas na segurança de sua própria nação. E eu o lembraria de que os Estados Unidos se retiraram dos tratados climáticos e perguntaria a ele: em quarenta anos, acha que as pessoas conseguirão respirar?

E a Netanyahu?

Eu diria a ele que devemos esquecer os interesses políticos. Os israelenses não podem viver a vida inteira em guerra, e a única maneira de alcançar a paz é por meio de um entendimento entre israelenses e palestinos.

A Khamenei?

Eu diria apenas uma palavra: morra. Ele já viveu o suficiente; quando é demais é demais.

Mulheres israelenses e palestinas estão trabalhando juntas pela paz e pedem que as mulheres estejam presentes à mesa de negociações. Você também considera isso certo?

Toda vez que me encontrava com o movimento de mulheres palestinas e israelenses que trabalham lado a lado, eu lhes dizia: parabéns! Até que a paz seja alcançada, as famílias não poderão viver bem. Infelizmente, ao contrário das mulheres, os homens não compreenderam a importância da unidade, nem os israelenses nem os palestinos. Por quanto tempo mais querem continuar travando guerras?

Então, é preciso mulheres às mesas de negociações?

Não há outra solução.

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