11 Setembro 2025
O Exército israelense matou, em média, uma criança palestina a cada hora, durante quase dois anos de agressão genocida. Assim, aniquilou 2% da população infantil de Gaza, no que a Save the Children denunciou como “uma guerra deliberada contra as crianças e o seu futuro”. “O pior é que previmos isso”.
A reportagem é publicada por Naiz, 08-09-2025. A tradução é do Cepat.
O Exército israelense matou, em média, uma criança palestina a cada hora, durante os 23 meses de agressão genocida em Gaza. O número de crianças mortas superou 20.000, segundo denúncia da Save the Children.
Israel exterminou, portanto, pelo menos 2% da população infantil de Gaza. E isto apenas de acordo com os registros de mortes diretas, que podem ser multiplicadas caso sejam consideradas as mortes por doenças e ferimentos causados pelas forças israelenses.
Ao menos 1.009 crianças mortas tinham menos de um ano de idade, e quase metade (450) desses bebês nasceram e morreram durante a ofensiva israelense.
Além disso, 42.011 crianças ficaram feridas e outras 21 mil ficaram permanentemente incapacitadas, com amputações graves de braços e pernas. Milhares de outras estão desaparecidas ou supostamente soterradas sob os escombros.
A vida dos que sobreviveram está diariamente em risco. A Save the Children também estima que a fome será ainda mais forte nas próximas semanas. Ao menos 132.000 crianças menores de cinco anos enfrentam o risco de morte por desnutrição aguda. Dos 387 palestinos que Israel matou de fome até agora, 138 são menores.
A ONG relatou que os pais sofrem uma dor insuportável e são incapazes de lidar com seus sentimentos, ao mesmo tempo em que sobrevivem à desnutrição, ao deslocamento e aos bombardeios constantes.
“O pior é que previmos isso”
“O pior é que previmos isso”, denunciou Ahmad Alhendawi, diretor regional da Save the Children para o Oriente Médio, África do Norte e Europa do Leste. “Ataques sistemáticos a lares infantis, parques infantis, escolas e hospitais, fome planejada, e o mundo não está fazendo nada para interromper isto”, criticou.
Alhendawi destacou que Israel está travando “uma guerra deliberada contra as crianças de Gaza e seu futuro, uma geração roubada. Se a comunidade internacional não reagir, corremos o risco muito real da aniquilação total das futuras comunidades palestinas”, alertou.
Além disso, recordou que foram cometidos crimes de atrocidades, incluídos crimes contra a humanidade e crimes de guerra, e que o risco plausível de um genocídio deve ser suficiente para desencadear uma ação internacional urgente.
“Todos os estados têm a obrigação legal de prevenir o crime de genocídio. Todos os estados devem agir de forma decisiva, antes que seja tarde demais”, acrescentou.
As forças israelenses danificaram 97% das escolas e 94% dos hospitais, e deixaram dezenas de milhares de crianças feridas, com maior probabilidade de morrer por ferimentos de explosão do que os adultos. “Seus corpos são mais vulneráveis ao trauma, e muitas vezes sofrem tipos diferentes de lesões que exigem tratamento especializado, adaptado à sua fisiologia e desenvolvimento”, um tratamento que Israel também agiu para que não possam receber.
Por isso, a Save the Children não só pede “um cessar-fogo imediato e definitivo, e sem restrições”, para fornecer ajuda vital a crianças e famílias em toda Gaza, como também ressalta que “todos os Estados devem interromper imediatamente a transferência de armas, peças e munições usadas contra crianças e civis”.
“O cumprimento dessas normas é o cumprimento da humanidade e não é opcional”, concluiu.
Nas últimas horas, os ataques de Israel estão arrasando a Cidade de Gaza. No domingo, bombardeou e demoliu outro edifício alto, o terceiro em três dias. No sábado, destruiu a torre Susi e, na sexta-feira, a torre Mushtaha, blocos de torres residenciais e comerciais que constituíam um importante legado naquela que já foi uma capital vibrante.
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