10 Setembro 2025
"À medida que o cortejo se aproxima da basílica, alguns rostos se tornam mais recolhidos. Muitos rezam. Um a um, passam pela Porta Santa. Como qualquer outro peregrino".
O artigo é de Mikael Corre, jornalista, publicado por La Croix, 08-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Mais de 1.400 pessoas de cerca de vinte países cruzaram no sábado, 6 de setembro, a Porta Santa da Basílica de São Pedro na primeira peregrinação LGBT+ incluída no calendário do Ano Santo.
No sábado, 6 de setembro, por volta das 15h. O ponto inicial da Via della Conciliazione, a rota designada para os peregrinos do Jubileu, se prepara para receber um novo cortejo. Na primeira fila, uma mulher trans de mão com a Irmã Geneviève Jeanningros. Atrás dessa francesa octogenária, amiga do Papa Francisco, que vive em um trailer perto de Roma, onde acompanha rom, pessoas homossexuais e transgênero, a procissão se encaminha em direção à Porta Santa: mais de 1.400 pessoas responderam ao convite da associação italiana La Tenda di Gionata.
Em suas camisetas, vestidos e cabelos, sinais arco-íris. Mas o Vaticano instruiu os organizadores a não exibirem sinais militantes. Os que se destacam, informam principalmente sobre a multidão de grupos que surgiram dentro da Igreja nos últimos anos: LGBT Catholis Westmister (Inglaterra), D&J Arc-en-ciel (ex David&Jonathan, França), Outreach (EUA), Diversidade Católica (Brasil)… Muitos pais de pessoas LGBT+ estão caminhando ao lado de seus filhos.
Na internet, sites católicos conservadores haviam atacado a iniciativa em dezembro passado. Mas neste último sábado, a peregrinação ocorre sem incidentes. "Sinto-me tranquilo", explica o padre jesuíta James Martin ao La Croix. "Não houve protestos. A atmosfera era de oração, não de militância. É assim que a maioria dos fiéis LGBT+ é: eles só querem ir à igreja." O padre estadunidense, recebido no início da semana pelo Papa Leão XIV, acompanha católicos LGBT+ há anos. É a primeira vez que uma peregrinação LGBT+ é incluída no calendário oficial do Jubileu.
O que chama a atenção no cortejo é a normalidade do evento. Um casal de florentinos caminha de mãos dadas. Eles contam o percurso que vêm trilhando há oito anos, desde que sua filha revelou sua homossexualidade. "O importante é estar presentes. Participar como os outros, de um momento de fé e de vida da Igreja”, dizem aqueles que contribuíram para fundar uma pastoral da inclusão em 2023 em sua diocese – pela primeira vez na Itália.
Samuel, um parisiense de 46 anos, caminha com seu companheiro não católico. Para ele, a peregrinação é, antes de tudo, "um tempo espiritual e uma presença". "Uma maneira de dizer: estamos aqui, nas associações, na pastoral, nas assembleias dominicais. Somos parte da Igreja", acrescenta Maria G., uma mulher transexual brasileira de 48 anos. Mais cedo naquele dia, os peregrinos haviam participado da Eucaristia na Igreja de Jesus, confiada aos jesuítas. "Em sua homilia, o bispo recordou a dignidade indelével de cada pessoa recebida no batismo. Isso nos dá força", confidencia emocionada Anna-Lena M., uma participante alemã de 27 anos. Dom Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, de fato, transmitiu uma mensagem inclusiva: "Quando preferimos a realidade aos preconceitos, Deus pode intervir."
À medida que o cortejo se aproxima da basílica, alguns rostos se tornam mais recolhidos. Muitos rezam. Um a um, passam pela Porta Santa. Como qualquer outro peregrino.
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