28 Agosto 2025
"Os próximos anos não serão fáceis e veremos a reacomodação das peças políticas. Será uma nova versão das tragédias gregas"
A análise é de Rudá Ricci, sociólogo, com larga experiência em educação e gestão participativa, diretor do Instituto Cultiva, publicado na rede social X, 27-08-2025.
A análise abaixo é composta por um fio de tweets de Rudá Ricci, sobre o dia seguinte à condenação de Jair Bolsonaro.
Eis a análise.
1. Do dia 02 ao dia 12 de setembro, Jair Bolsonaro suará frio. A boca, possivelmente, secará em vários momentos, a respiração ficará mais acelerada. Dado que se trata de um conhecido paranoico, a ansiedade poderá criar a ideia de que está à beira do pânico.
2. Em alguns momentos, toda esta sensação de desmoronamento deverá ser substituída por uma raiva devastadora e o sentimento de justiça se misturará ao desejo do chão se abrir e tragar a tudo e todos.
3. Essa suposição épica tem algo de verossímil, dado que Bolsonaro já demonstrou tantas vezes que é assim que pensa e age. Aliás, é justamente por externar seus sentimentos desta forma que está no banco dos réus.
4. No dia 2, a 1ª Turma do STF iniciará o julgamento da Ação Penal 2668, que tem como réus o “Núcleo Crucial” por tentativa de golpe de Estado ocorrida entre 2022 e 2023. O julgamento será presencial e estão reservadas cinco datas para suas sessões: 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro.
5. Tudo começará com a leitura do relatório do caso pelo ministro Alexandre de Moraes. Em seguida, o procurador-geral da República, Paulo Gonet terá até duas horas para sua manifestação. Depois, as defesas apresentarão sustentações orais, começando pela defesa de Mauro Cid.
6. Encerradas as manifestações, o ministro Alexandre de Moraes apresentará seu voto. Os demais ministros votam em ordem crescente de antiguidade no Tribunal, ficando por último o presidente da Turma. A decisão pela absolvição ou pela condenação é tomada por maioria de votos.
7. Caso haja condenação, o relator apresentará sua proposta de fixação das penas, e os demais ministros do colegiado também votarão nesse ponto.
Esta sequência está descrita no site do STF. Até aí, todos que acessaram o site já conhecem o rumo que o julgamento seguirá.
8. A questão que fica é: e depois do julgamento? E depois da condenação de Jair Bolsonaro?
Os cenários possíveis são extremamente movediços e exigirá dos políticos profissionais o arremesso de muitos balões de ensaios para testar a força dos ventos.
9. Para o lulismo, só há uma opção: a reeleição de Lula. Reeleito, terá quatro anos pela frente de lutas fratricidas e ataques constantes do bloco que assumir o espólio eleitoral de Jair Bolsonaro.
10. Se tivesse preparado um sucessor e deixado o PT se arejar, o lulismo estaria mais confortável. Contudo, não arriscou. Bateu na mesma tecla e fez de tudo para administrar uma política morna. Foi salvo pela inabilidade de Hugo Motta, de Trump e da família Bolsonaro.
11. Se não se reeleger, o PT entrará numa luta interna e seu campo de alianças deverá se reduzir. Dificilmente teremos um governo de direita tão aloprado quanto foi o de Jair Bolsonaro, mas a sorte do lulismo terá relação com os erros que o bolsonarismo
12. Entretanto, os cenários mais complicados são os da direita. O desastre completo para este campo será a reeleição de Lula tendo Tarcísio de Freitas como o opositor derrotado.
13. Sem a Presidência e sem o comando do principal governo estadual do país, nem os cavalos brancos de Goiás, nem os ratinhos do Paraná salvarão a terra arrasada da extrema-direita ou a direita que gostaria de ser mais extremista.
14. Se Tarcísio de Freitas tentar a reeleição, o candidato que enfrentará Lula será um azarão. A direita dificilmente aposta num azarão, nem seus líderes políticos, nem os empresários que os financiam.
15. O cenário mais auspicioso para a direita e extrema-direita é a vitória de Tarcísio de Freitas para a Presidência da República. Para ocorrer, a campanha eleitoral terá que ser avassaladora, possivelmente iniciada logo após o carnaval do próximo ano
16. Uma campanha agressiva, atacando até a idade de Lula, passando por parentes e aliados, destacando seu relacionamento conflituoso com deputados e senadores para abrir caminho para se desenhar uma terra prometida pelo candidato de direita.
17. Já fica claro que uma campanha dessas precisa ser construída em 2025. Planejada nos mínimos detalhes e nadando em dinheiro. Precisa unir SP, MG, todo o Sul e parte do Nordeste. Convenhamos que não se trata de uma tarefa simples.
18. Vencendo, esta aliança cobrará cargos, recursos e projetos espalhados por todo território nacional. O Centrão cobrará recursos, a família Bolsonaro cobrará seu silêncio, os jovens políticos extremistas tentarão achar um caminho para atropelar os cabelos brancos da direita.
19. O bolsonarismo fez todo campo político brasileiro se tornar inseguro e desestruturado. Fez de Lula um líder cauteloso. O Centrão, até então fiel da balança, passou a correr de um lado para outro e revelou muitas de suas fragilidades.
20. Os próximos anos não serão fáceis e veremos a reacomodação das peças políticas. Será uma nova versão das tragédias gregas. (FIM)
Bom dia. Posto um fio sobre o dia seguinte à condenação de Jair Bolsonaro. Não será nada tranquilo ou fácil. Lá vai: pic.twitter.com/d4JPb7mFE9
— Rudá Ricci (@rudaricci) August 27, 2025
Leia mais
- PF indicia Jair e Eduardo Bolsonaro; Silas Malafaia é alvo de busca e apreensão
- Jair Bolsonaro: prisão domiciliar é decretada pelo STF por “flagrante desrespeito”
- Ato pró-anistia mobiliza multidão e mostra que bolsonarismo não está derrotado, dizem analistas
- E agora? PGR pede condenação de Bolsonaro e 7 réus do “núcleo central” da trama golpista
- Democracia brasileira sofreu sucessivos golpes sob Bolsonaro. Entrevista com Eugênio Bucci
- Ato em São Paulo revela virada estética, afetiva e política do bolsonarismo pós-8 de janeiro. Artigo de Isabela Kalil e Álex Kalil
- Denúncia prova que 8 de janeiro era parte de plano golpista de Bolsonaro. Entrevista com Rafael Borges
- Em país marcado por golpes, decisão do STF de tornar Bolsonaro réu é histórica, avaliam juristas
- Bolsonaro em Copacabana: anatomia de um (semi)fracasso. Artigo de Mayra Goulart
- 'Apocalipse nos Trópicos' acerta ao se aproximar de Silas Malafaia. Artigo de Inácio Araujo
- Malafaia consulta “datacéu” para falar de voto evangélico
- Silas Malafaia sobre esquerda: “Não tem moleza, é pau, é ideológico”
- Silas Malafaia, 1º cavaleiro do apocalipse brasileiro. Artigo de Fábio Py
- Vieira × Malafaia. Dois pastores evangélicos - duas visões diferentes
- Religiosos que apoiaram Bolsonaro em 2018 agora indicam afastamento
- “Barões evangélicos são parceiros de projeto ultraconservador de Bolsonaro”. Entrevista com o pastor e teólogo Ronilso Pacheco
- Como chegamos até aqui? A aliança de Eduardo Bolsonaro com Trump que pavimentou o tarifaço
- Eduardo Bolsonaro se reuniu com os golpistas brasileiros presos