20 Agosto 2025
Os ataques que a Venezuela vem sofrendo diretamente dos Estados Unidos, à exemplo da decisão do governo americano de enviar três navios de guerra para a costa do país latino-americano, não são apenas motivados pela questão do tráfico internacional de drogas, avalia o professor de direito internacional público da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Borba Casella. “Não é mera coincidência o fato de que a Venezuela tem grandes reservas de petróleo, e essa violência contra um país soberano e independente da América do Sul pode ser também uma razão para explicar”, afirmou durante entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta terça-feira (18).
A reportagem é de Ian Reis, José Eduardo Bernardes e Larissa Bohrer, publicada por Brasil de Fato, 19-08-2025.
Karoline Leavitt, porta-voz do governo de Donald Trump, declarou que o país irá usar “toda a força” para impedir a chegada de drogas aos EUA. Para o professor, as ações de Trump não são uma solução, mas, sim, uma “bravata”. “Além de ser algo extremamente preocupante, porque isso pode ser usado como desculpa para, por exemplo, assumir o controle sobre as exportações de petróleo da Venezuela”, alerta.
Casella ressalta que o narcotráfico e a questão do consumo de drogas são problemas de diversos países e devem ser resolvidos de forma multilateral e cooperativa. “O Brasil, por exemplo, ontem [segunda-feira], num encontro do presidente Lula com o presidente Noboa, do Equador, discutiu a possibilidade de estabelecer canais de cooperação entre os governos, criar um escritório da Polícia Federal em Quito e agilizar mecanismos de investigação e de troca de informações entre as polícias nacionais. Isso faz sentido”, afirmou.
Trump, Rússia e Ucrânia
Na esteira das decisões de Donald Trump, o recente encontro com o presidente russo Vladimir Putin, no Alasca, representou, para Casella, uma contradição e lembrou a Conferência de Munique em 1938, que reuniu Alemanha, Reino Unido, França e Itália. “Essa reunião vai entrar para a história como foi a Conferência de Munique de 1938, em que os países se reuniram e decidiram, entre eles, sem a participação da Tchecoslováquia, amputar um pedaço do território tcheco — a região dos Sudetos, onde morava uma minoria de língua alemã — e entregar ao controle da Alemanha”, explicou.
Durante a entrevista, o professor frisou que “a agressão russa contra a Ucrânia é uma violação do direito internacional” e que o uso da “força militar não cria título sobre território no direito internacional vigente”. “Trump, apoiando essa visão de Putin e avisando os europeus e a Ucrânia de que será preciso fazer cessão de territórios, está premiando o agressor e punindo o agredido. Isso é totalmente absurdo, descabido e parece que está sendo considerado aceitável”, lamentou.
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