18 Agosto 2025
A medida era um desejo do presidente americano Donald Trump durante sua campanha eleitoral. Com o envio de quatro mil fuzileiros navais, ele pretende atacar os cartéis sul-americanos, vários dos quais já foram incluídos por Washington na lista de organizações terroristas. O anúncio foi divulgado em 15 de agosto de 2025 por diversos meios de comunicação americanos.
A reportagem é de Loubna Anaki, publicada por RFI, 16-08-2025.
Os Estados Unidos confirmaram o envio de mais de quatro mil fuzileiros navais para as águas internacionais do Caribe. A informação, revelada pela imprensa americana, baseia-se em fontes do Pentágono. Segundo a CNN, esses recursos militares têm como objetivo “enfrentar ameaças à segurança nacional dos Estados Unidos provenientes de organizações narcoterroristas na região”. Isso ocorre após uma solicitação de Donald Trump, que estaria considerando ataques contra locais de produção e meios de transporte dos cartéis.
Em 15 de agosto, a Marinha dos EUA anunciou a chegada do USS Iwo Jima, da 22ª Unidade Expedicionária dos Fuzileiros Navais (MEU), bem como de outros dois navios anfíbios: o USS Fort Lauderdale e o USS San Antonio. Por enquanto, trata-se principalmente de uma demonstração de força; nenhuma ordem de ataque foi emitida, e o comunicado oficial não especificou exatamente para onde essas tropas se dirigiriam.
Ultrapassando o direito internacional
Donald Trump reafirma assim a sua intenção de atacar diretamente os cartéis que ele próprio designou como organizações terroristas em fevereiro de 2025. Ele deseja, em particular, atingir as atividades do cartel mexicano de Sinaloa e da gangue venezuelana Tren de Aragua. Segundo o New York Times de 8 de agosto de 2025, o presidente assinou um decreto confidencial autorizando o uso da força militar contra esses grupos, abrindo potencialmente caminho para operações no mar e, em alguns casos, em solo estrangeiro.
No entanto, vários especialistas jurídicos alertam: tal decisão levantaria sérias questões à luz do direito americano e internacional, especialmente se for tomada sem o consentimento dos governos envolvidos nem a autorização do Congresso.
No México, a presidente Claudia Sheinbaum já avisou que não autorizaria operações americanas em seu território. “Podemos colaborar, podemos coordenar. Existem espaços internacionais para resolver conflitos. O intervencionismo não faz parte deles”, declarou ela.
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