20 Agosto 2025
As vozes dos moradores da Faixa que, aguardando a decisão sobre a ocupação, já começaram a evacuar em direção ao sul.
A informação é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 20-08-2025.
O mais recente êxodo de Gaza é prematuro. É um êxodo preventivo, motivado pela desconfiança: a maioria dos palestinos não espera que Netanyahu recue, aceite o acordo de trégua e ponha fim à ocupação militar da Cidade de Gaza. O primeiro-ministro israelense ainda não se pronunciou; ele dará sua resposta na sexta-feira, mas, de fato, a esperança já morreu há muito tempo na Faixa de Gaza, então eles estão fugindo para o sul em busca dos metros quadrados restantes para armar suas barracas, entre Khan Yunis e al-Mawasi.
Milhares de moradores da maior cidade estão descendo a Rashid Road, a estrada costeira, a rota dos evacuados. Habib Khwaiter, empoleirado na garupa de uma motocicleta de três rodas que o transporta junto com os pedaços de sua próxima casa (uma pilha de colchões, alguns canos de ferro para a estrutura da barraca e algumas lonas), diz que está deixando a Cidade de Gaza porque foguetes estão caindo sobre o bairro de Zeitoun, onde ele morava com 18 familiares. Bombardeios continuam, tanto em Zeitoun quanto em Sabra, enquanto o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ainda precisa aprovar o ataque, e o exército emitiu ordens de evacuação apenas para os bairros do leste.
"Eles vão cometer outro massacre. Netanyahu não quer um cessar-fogo, ele só quer guerra. Sou um civil, não faço parte do Hamas, mas os mísseis de Israel não veem a diferença", diz Habib Khwaiter, segurando meia lata de gasolina e pagando 1.800 shekels, cerca de 450 euros, por sua motocicleta. "Não sei se algum dia verei a Cidade de Gaza novamente. Eles vão nos forçar a emigrar."
Israel yet to reply to Gaza ceasefire deal as almost 19,000 children killed https://t.co/VjmPUtZs0e
— Al Jazeera English (@AJEnglish) August 20, 2025
O mais recente êxodo de Gaza corre o risco de ser o último. Se o governo israelense rejeitar o projeto de trégua apresentado pelo Catar e pelo Egito, que segue o notório plano Witkoff (60 dias sem tiroteios, 10 reféns vivos devolvidos em troca da libertação de 200 prisioneiros palestinos e o compromisso de negociar imediatamente um cessar-fogo permanente) e foi aprovado incondicionalmente pelo Hamas, tropas e tanques entrarão na Cidade de Gaza, lar de aproximadamente 1,2 milhão de pessoas, incluindo moradores e deslocados. Eles serão então forçados a sair e se concentrar no único quadrante não declarado zona militar: a parte costeira e central da Faixa. De lá, os moradores de Gaza não poderão mais se mover; não há outra saída em um território que já é 86% inacessível. Há apenas um próximo passo: para fora da Faixa, para outro lugar, para longe.
Não é por acaso que o governo Netanyahu está envolvido em intensas negociações informais com as autoridades de vários países, incluindo Sudão do Sul, Líbia, Somalilândia e Uganda, para convencê-los a acolher, em troca de compensação financeira e sabe-se lá o que mais, cotas de moradores de Gaza expulsos de suas terras. O Sudão do Sul está considerando seriamente a possibilidade.
Um alto funcionário israelense, uma expressão que frequentemente encobre o gabinete do primeiro-ministro, disse à imprensa ontem que o governo não quer acordos parciais, mas apenas a libertação imediata das 50 pessoas sequestradas. Se houver uma ocupação, como parece provável, os quinhentos cristãos abrigados na única igreja de Gaza também terão que partir. "Ouvimos bombardeios dia e noite, mas não houve ordem de evacuação. Nossa área é a Cidade Velha em Zeitoun", escreveu o padre Gabriel Romanelli no Facebook. Ele não quer ouvir falar em êxodos, sejam preventivos ou forçados, e se agarra ao último resquício de otimismo. Esse otimismo está quase esgotado no Patriarcado Latino de Jerusalém: eles sabem que, se Netanyahu prosseguir com o plano, a paróquia que simboliza o vínculo entre a Santa Sé e Gaza terá que ser abandonada pela primeira vez.
🚨🇮🇱 Israeli Foreign Minister Israel Katz:
— The Saviour (@stairwayto3dom) February 25, 2024
“NO ONE can stop us from entering Rafah!”
“We will control Gaza as we control the West Bank!” pic.twitter.com/FAlomyjJpR
Na rotatória de al-Nablisi, na Rua Rashid, logo abaixo da Cidade de Gaza, as coisas ficam claras: se as pessoas vão ficar ou ir embora. Em parte, vão embora. Muitos resistem na cidade condenada ou, mais simplesmente, não sabem para onde ir, ou não podem ir, como Saad Salama, 56, pai de seis filhos, que procura um apartamento em al-Mawasi, mas os aluguéis estão disparando e um casebre vazio custa nada menos que mil dólares por mês. O fluxo de tuk-tuks, carroças puxadas por burros, vans, ônibus amassados e motocicletas em ruínas é intenso, todos rumo ao sul.
Abdullah Alasous diz que está fugindo porque "os ataques já começaram". Ele morava em um prédio de quatro andares com sete famílias dentro; tentará armar uma barraca em Deir al-Balah.
Andelwahed Awad, de um trailer engatado em uma van, explica que não tem outra escolha; irá para Khan Yunis, apesar de 19 pessoas terem acabado de ser mortas em ataques israelenses, porque, prevê Andelwahed, "muito mais pessoas estão prestes a morrer na Cidade de Gaza".
Katz aprova o plano de ataque, Israel convoca 60 mil reservistas.
O Ministro da Defesa israelense, Israel Katz, aprovou os planos militares para a ofensiva na Cidade de Gaza, apresentados durante a noite pelo Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), Eyal Zamir, e outras autoridades. A mídia israelense noticiou esta manhã.
A informação é publicada por La Repubblica, 20-08-2025.
Enquanto isso, o Exército emitiu aproximadamente 60 mil ordens de convocação para reservistas: elas não são imediatas, e os reservistas receberão pelo menos duas semanas antes de se apresentarem para o serviço.
O rapper Mo Chara, do trio norte-irlandês Kneecap, acusado de exibir uma bandeira do Hezbollah durante um show, comparecerá a um tribunal de Londres sob acusação de "terrorismo".
O jornal italiano também informa:
- Hamas: "Quase 19 mil crianças foram mortas pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) desde 7 de outubro."
- Trump: "Netanyahu é um herói de guerra. Eu também acho".