23 Mai 2025
A sintonia entre Leão XIV e Zelensky? “Fala-se com aqueles que pedem e estão dispostos a conversar. Mas a Igreja não está do lado de alguns contra outros”. O rearmamento da UE? “Em uma situação de ameaças reais, a paz não pode ser garantida permanecendo inertes e cedendo ao abuso”.
Palavra de Monsenhor Mariano Crociata, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (Comece).
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 21-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Excelência, Leão XIV ofereceu a disponibilidade de sediar qualquer mediação, a começar por aquela da Ucrânia: o quanto essa mensagem será capaz de influir?
Devemos estar confiantes de que essa negociação será realizada o mais rápido possível, dentro ou fora do Vaticano. Os primeiros passos do novo pontificado marcaram o clima social e político internacional com um impulso decisivo para encontrar uma solução negociada para o conflito em andamento. Nossos votos e nossa oração a propiciam e a apoiam incondicionalmente.
A sintonia entre Leão XIV e Zelensky parece sólida: que efeitos poderá ter? O Kremlin se distanciará da Santa Sé?
A Santa Sé não esteve a favor de um contra o outro. Por outro lado, fala-se com aqueles que pedem e estão dispostos a conversar. Se há alguma atenção devida ao lado ucraniano, se deve inteiramente e de coração àqueles que continuam a ser vítimas de uma agressão pela qual sofreram e continuam a sofrer penas inenarráveis, com as inúmeras mortes e o número incalculável de crianças, mulheres e idosos privados de tudo, como lembrou o Papa Leão no Regina Coeli de domingo. De resto, a Igreja nunca está do lado de uns contra outros, mas pede e busca o acolhimento e a solidariedade entre povos e nações e, neste caso, a trégua e a paz.
Como o senhor descreveria a situação após o telefonema entre Trump e Putin?
É motivo de uma esperança que deve ser mantida viva.
O que gostaria de dizer à UE sobre a Ucrânia?
A UE se viu em uma situação completamente inédita após a instalação do novo governo dos EUA. As iniciativas diplomáticas e os posicionamentos sofreram uma reviravolta que exige novos ajustes. A UE de repente se vê na necessidade de prover por si mesma à sua segurança. Mantida fora das mesas decisivas, está tendo dificuldades para encontrar seu próprio papel e peso. No entanto, pode e deve contribuir para uma paz ‘justa e duradoura’, para usar as palavras de Leão XIV. Muitas coisas estão influindo para exigir uma iniciativa europeia. Os sinais nesse sentido devem ser apoiados e incentivados.
O rearmamento dos países europeus é necessário? Como se relaciona com a legítima defesa?
Aqueles que têm responsabilidade política devem garantir o bem-estar de seus cidadãos, a paz da convivência e a manutenção da segurança. Quando, em uma situação de tensão e ameaças reais, todas as possibilidades de solução tiverem sido exploradas, a paz não poderá ser garantida permanecendo inertes e cedendo ao abuso, à prepotência e à opressão. Como lembramos em uma declaração da Presidência da Comece em março passado, ‘a luta da Ucrânia pela paz e pela defesa’ também terá um ‘resultado decisivo para o destino de todo o continente europeu e de um mundo livre e democrático’. Se a UE deve permanecer, de acordo com sua vocação, ‘uma promessa de paz e uma âncora de estabilidade’, ela também deve, na medida do possível, permitir que a vida de seus cidadãos se desenvolva em segurança, de acordo com justiça, liberdade e solidariedade.
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