“Steve Jobs estava certo. Precisamos redescobrir o lado poético da tecnologia”. Entrevista com Gianfranco Ravasi

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20 Mai 2025

Perguntado sobre Leão XIV e o aviso do novo pontífice sobre os riscos da inteligência artificial, o Cardeal Gianfranco Ravasi cita o Evangelho de João. E Steve Jobs: “Para os jovens que adoram o ambiente tecnológico, o fundador da Apple propunha como modelo a figura do engenheiro renascentista, no qual a ciência e o humanismo se fundem. Precisamos redescobrir o aspecto existencial e poético da tecnologia”.

A reportagem é de Andrea Gualtieri, publicada por la Repubblica, 16-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Eminência, Prevost associou esses temas à Rerum novarum, a encíclica social de Leão XIII sobre a revolução industrial. Podemos supor que muitos católicos nunca a leram?

É verdade. No entanto, a sensibilidade social existe, está muito viva no setor da caridade.

Por que o Papa quer redescobrir aquele texto?

Leão XIV destacou o impacto da inteligência artificial no mundo do trabalho, estabelecendo uma ponte com a revolução industrial: na época, o problema era a dignidade básica do operário num contexto em que a única finalidade era a produção, e a exploração era considerada normal até para menores.

Hoje, a IA é um elemento de desenvolvimento, mas a questão ocupacional volta a ser central: a tecnologia liberta o homem e a mulher de atividades desgastantes, mas coloca em crise os empregos. Quais são as diferenças em relação ao século XIX?

A primeira revolução industrial criou a questão do socialismo, a atual tem uma outra gramática. E quem possui os melhores softwares assume um poder enorme, acaba por prevaricar porque pode decidir — e essa é a degeneração — as economias dos povos por meio das tecnologias. Cria-se uma nova disparidade social também no campo da saúde, por exemplo: quem tem mais instrumentos garante uma melhor saúde.

Leão XIII escreveu a respeito de temas sociais: entramos no assunto porque é nosso pleno direito.

É exatamente isso. O fundador do cristianismo se afirmou em sua divindade, mas viveu plenamente a sua humanidade: o sofrimento, a traição dos amigos, até o silêncio de Deus. O prólogo do Evangelho de João diz: o Verbo se faz carne. É por isso que a nossa fé deve nos preocupar com o ser concreto. Não apenas com a transcendência, mas também com a antropologia, com a sociologia. Por outro lado, até Steve Jobs defendia a união entre a tecnologia e as ciências humanas e espirituais.

Falando em concretude, a Rerum novarum sugeriu soluções como o associativismo e a mútua assistência que inspiraram figuras importantes do catolicismo do século XX. Por onde se pode começar agora?

É preciso entrar em diferentes setores. Em primeiro lugar, a economia, para trazer a atenção de volta ao desenvolvimento social. Depois, a política, como uma voz crítica que lembra as necessidades das pessoas e a promoção do bem comum. Terceiro: é necessária uma atenção à ciência. Já existem muitos documentos eclesiásticos sobre a IA. Foi cunhada a expressão ‘algorética’, a ética dos algoritmos, porque é verdade que o homem os define, mas depois eles se tornam autoconscientes, têm seu próprio poder autônomo.

Isso o assusta?

Sim, a tecnologia quer avançar cada vez mais quando percebe o potencial das ferramentas, mas nesse desenvolvimento há duas vozes que não podem ser ignoradas: a das religiões, de todas as religiões, e a da cultura, que hoje infelizmente é considerada uma Cinderela. Leão XIV pode dar ressonância a essas vozes, tornar-se uma pedra no sapato.

E o senhor ficou surpreso com aquele nome: Leão XIV?

Ninguém esperava.

E a eleição de Prevost?

Essa podia ser prevista por nós, tendo participado das congregações. Talvez ele não fosse o primeiro nome no início da votação, mas estava claro que teria sido uma opção forte, mesmo sendo um dos cardeais mais jovens em sentido de nomeação: com menos de dois anos.

O que o impressionou nele?

Não por se destacar por sua presença, conquistou pelo seu perfil e personalidade.

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