29 Abril 2025
"Quando olhamos para a geopolítica internacional, como podemos não ficar inquietos? As guerras e a violência estão logo ali na esquina. Além disso, os políticos precisam fazer seu trabalho, mas aqueles que escolheram a missão de difundir Cristo e impulsionar para a espiritualidade não podem deixar de difundir palavras para reconciliar, curar, reparar laços e feridas. Esse é um dos muitos desafios. Em Roma, para o funeral de Francisco, virão os líderes da Terra e é importante que exista essa palavra voltada para uma reflexão mais elevada, para dar esperança às pessoas."
A entrevista com François Bustillo, é do cardeal-bispo de Ajaccio, Córsega, por Franca Giansoldati, publicado por Il Messaggero, 25-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando conseguiu chegar a Roma?
Na segunda-feira aterrissei em Jerusalém e esperei o primeiro voo direto para Roma. Consegui participar da segunda Congregação Geral para descobrir a pauta que nos espera.
Fala-se de muitos rachas, divisões....
É um pouco triste que, com o Papa recém falecido, alguns de nós já estejam pensando em questões mais políticas. Agora é o momento de honrar sua memória e depois haverá também o tempo para arrumar, fazer balanços, entender o que funcionou e o que deu errado. Na França, leio muito sobre esse assunto: fragmentações, divisões, distâncias. Sim, elas existem, quem pode negar, mas agora seria o momento do silêncio. O corpo ainda está exposto, vamos esperar pelo menos levá-lo para Santa Maria Maggiore.
As divisões, no entanto, existem e não podem ser varridas para debaixo do tapete.
Eu não disse isso, apenas que deve ser respeitado o timing, agora é o momento do luto. Acredito que nossa primeira prioridade, antes de outras temáticas complexas, é a unidade da Igreja. Esse é o principal desafio, o número um. Não é uma questão de identificar mecanismos de tipo parlamentar ou político, mas de nos unirmos em nome da fé. O fato de haver divergências na Igreja é quase nobre, não somos uma seita. Mas as diferenças não podem se transformar em divisões. Cristo disse para ficarmos unidos. Unidos no ideal do Evangelho que, repito, não é uma ideologia.
Qual é a sua opinião sobre o caso do cardeal Becciu? Poderá participar do conclave ou não?
Eu não tenho os elementos em mãos para julgar, se você quiser se pronunciar, precisa estar bem informado. Eu obviamente acompanhei o que estava acontecendo, mas de fora. Talvez ele fale conosco, mas não posso me pronunciar sobre uma realidade que não conheço.
Em sua opinião, é mais importante a agenda do próximo papa, seu programa eleitoral ou sua personalidade?
Eu me questionei bastante: em minha opinião, é importante que a pessoa encarne um ideal. A Igreja deve fazer sonhar, e não causar tristeza. É claro que isso não significa que os cardeais chamados a eleger o pontífice sejam ingênuos, tipo Alice no País das Maravilhas. É uma questão de ter em mente um ideal poderoso, de sair da mentalidade da gestão comum das coisas que, por mais importante que seja, poderia nos fazer perder de vista o horizonte. O tema da transmissão da fé, por exemplo: há sinais importantes na Europa. Na França, foram batizados adultos e crianças em um número nunca visto antes, 17.000. Nossa responsabilidade como eleitores é dar uma alma ao mundo.
Afinal de contas, vocês, cardeais, também fazem campanha eleitoral...
(ri, mas depois fica sério)
Quando olhamos para a geopolítica internacional, como podemos não ficar inquietos? As guerras e a violência estão logo ali na esquina. Além disso, os políticos precisam fazer seu trabalho, mas aqueles que escolheram a missão de difundir Cristo e impulsionar para a espiritualidade não podem deixar de difundir palavras para reconciliar, curar, reparar laços e feridas. Esse é um dos muitos desafios. Em Roma, para o funeral de Francisco, virão os líderes da Terra e é importante que exista essa palavra voltada para uma reflexão mais elevada, para dar esperança às pessoas.
Para os cardeais, certamente é positivo se concentrar nos macrossistemas e em como fazer a Igreja sonhar, mas ainda há muitos problemas internos. Basta pensar nas diferenças abismais entre aqueles que são a favor do diaconato feminino e aqueles que não, das bênçãos dos casais homossexuais, aqueles que pressionam por uma democratização substancial e aqueles que não. Em suma, o que se pode fazer?
Há problemas a serem resolvidos, é claro que há, mas virão depois. A ação, o poder e a solução para tantas coisas virão. Agora é o momento de pensar em como curar o ser, para que o homem possa estar cheio de alegria, possa ser feliz. Não prego como se fosse Alice, mas quero que as pessoas entendam que é Deus no país dos homens e que, se eles estiverem cheios de sua graça, podem fazer maravilhas.
As pessoas se perguntam quem será o próximo papa. Para o senhor, quem será?
Para mim, é cedo porque, até o momento, conhecemos apenas alguns cardeais melhor do que outros, mas não conhecemos todos. De alguns, temos um conhecimento bastante superficial. As reuniões preparatórias diárias serão importantes para ouvir, conhecer e entender. É uma fase fundamental. Depois, será uma questão de discernimento antes de eleger o futuro pontífice.
Depois de um sul-americano, voltará um europeu?
Digo isso com sinceridade e estou convencido disso. Desta vez, não se trata de uma questão de passaporte, nem deve ser uma questão ligada a interesses pessoais ou às amizades que podem unir alguns grupos a outros. Por exemplo: este estadunidense é meu amigo e voto nele, este africano é meu amigo e voto nele. Somos 135 no papel, talvez no final um pouco menos porque já houve desistências devido a doenças graves. Dentro da Capela Sistina não deverá estar presente um mecanismo de poder, uma lógica de facções, mas uma visão de serviço, e devemos isso aos 1 bilhão e 400 milhões de católicos espalhados pelo mundo que merecem um bom papa.
Será um conclave longo?
Ninguém pode dizer, talvez nem mesmo curto. Sou um novato, é a primeira vez que participo de um conclave e tudo isso para mim é uma novidade.