25 Abril 2025
"Francisco é aquele que marcou nosso tempo, renovando um aspecto determinante para a nossa humanidade: a espiritualidade. O caminho traçado por ele assim abre as portas para uma espiritualidade mais atenta e consciente de toda outra forma de vida", escreve Carlo Petrini, fundador do Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terrafutura (editora Giunti e Slow Food), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre ecologia integral e o destino do planeta, em artigo publicado por La Stampa, 22-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando, em 2015, ao retornar para Bra depois de uma longa viagem, eu disse aos meus colaboradores que nos dias anteriores havia recebido uma ligação do Papa Francisco, ninguém me levou a sério. Eu, um agnóstico declarado, não tinha credibilidade para afirmar que havia tido uma longa e amável conversa com o Santo Padre, nem mesmo para meus amigos mais próximos. No entanto, aquela ligação telefônica marcou o início de uma verdadeira amizade. E foi o próprio Francisco, movido por sua extraordinária sensibilidade, o primeiro a discar meu número para me parabenizar pela concepção e realização do Terra Madre, a rede que, desde 2004, reúne milhares de comunidades alimentares em todo o mundo, cada uma delas expressão de uma cultura, de uma gastronomia, de costumes e de uma espiritualidade que, em um mundo em contínua padronização, é bom defender e preservar.
Acredito que o testemunho e o empenho de Bergoglio com a abertura da Igreja Católica estão na base de seu pontificado. Nosso relacionamento é apenas uma pequena gota. Por outro lado, a atenção às temáticas ambientais, a capacidade de combiná-las de maneira indissolúvel com as grandes crises sociais de nosso tempo, o verdadeiro exemplo em termos de acolhimento, misericórdia e respeito por todos os tipos de diversidade, tudo isso, a meu ver, permite identificar esse grande Papa como a figura mais revolucionária do século XXI.
Digo isso com a certeza de que, no mundo católico, existe um antes e um depois de Bergoglio. De fato, o primeiro papa sul-americano trouxe uma visão que, sem sombra de dúvida, foi capaz de ampliar o campo de interesse da Igreja. Nesse sentido, seu histórico certamente não é uma coincidência. Embora ele mesmo tenha reconhecido que, quando jovem, era muito cético em relação às questões ambientais, porque não reconhecia sua urgência e complexidade, com aquele esplêndido documento encíclico da Laudato Si', Francisco trouxe todo o mundo católico não apenas para dentro das temáticas ecológicas, mas o colocou na linha de frente ao denunciar que, do grito ensurdecedor, mas não escutado, da Terra decorre um nível cada vez maior de sofrimento entre os seres humanos.
Além disso, os primeiros a sofrer os efeitos de uma crise climática e social galopante são sempre os mais marginalizados, tanto geograficamente quanto dentro de cada sociedade individual. Assim, a origem sul-americana de Bergoglio, em cujo sangue, faço questão de dizer, também corre uma boa dose de espírito piemontês, teve uma grande influência. Uma área do mundo que, na história, muitas vezes foi considerada marginal, destino de colonização e alvo do setor extrativista por causa de seus muitos e ricos recursos naturais. Francisco fez a diferença ao escutar os testemunhos vindos da parte mais íntima da América Latina: as comunidades indígenas que vivem em contato próximo com a natureza e que, portanto, sofrem mais do que outros os fenômenos antrópicos, como desmatamento, extração de matérias-primas, incêndios, monoculturas intensivas e os fortes efeitos do aquecimento global. Neste momento, toda a região amazônica está passando por um período preocupante de seca, sem mencionar como o aumento da temperatura está impactando drasticamente a perda de biodiversidade e, consequentemente, a habitabilidade cada vez mais precária desses territórios.
Essas vozes souberam tocar a sensibilidade de um pontífice que, por sua vez, deu o exemplo em não diferenciar entre os que vêm do mundo cristão e os que vêm de outras religiões. Infelizmente, porém, é preciso dizer que, nesse aspecto, o Papa Francisco nunca encontrou muita companhia e apoio de outros líderes em nível mundial. Embora isso possa ser uma surpresa em relação a temáticas “novas” para o catolicismo, a solidão da voz de Bergoglio em outros temas, historicamente mais próximos ao catolicismo, como o valor universal da paz, é algo que realmente causa indignação.
A cultura ocidental está, em grande parte, impregnada de catolicismo. Para aqueles que, como eu, nasceram nas décadas centrais do século passado, é impossível não reconhecer a influência que essa religião teve em muitas, se não em todas, as etapas de nossas vidas. É difícil, portanto, não se definir católicos, embora eu não seja o único a ter seguido o caminho do agnosticismo, que é bem diferente daquele de quem não acredita em nada (ateísmo) e que, com o benefício da dúvida, admite ao mesmo tempo a incapacidade de compreender o outro mundo e qualquer tipo de crença ou religião alheia.
Quando perguntei ao Santo Padre por que ele queria que eu me envolvesse e falasse no Sínodo Pan-Amazônico, apesar de minhas dúvidas sobre a fé, ele respondeu: “Porque você é um agnóstico piedoso, ou seja, sente piedades pela natureza”. A partir de então, ciente de minha inatividade na frente das orações, em cada um de nossos encontros ele me pediu que me lembrasse dele em todas as minhas boas intenções. Sempre vi nessa sua saudação a síntese mais íntima desse grandioso Papa.
Francisco é aquele que marcou nosso tempo, renovando um aspecto determinante para a nossa humanidade: a espiritualidade. O caminho traçado por ele assim abre as portas para uma espiritualidade mais atenta e consciente de toda outra forma de vida.