07 Abril 2025
O cacique Raoni Metuktire cumpriu a promessa que fez no fim de março de cobrar Lula sobre a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. O presidente foi à aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, em Mato Grosso, na 6ª feira (4/4), às vésperas do Acampamento Terra Livre (saiba mais aqui), para um encontro com o líder Kayapó, que chamou a atenção sobre os perigos de buscar petróleo no litoral do Amapá.
A informação é publicada por ClimaInfo, 06-04-2025.
“Estou sabendo que, na foz do Amazonas, o senhor está pensando no petróleo que tem debaixo do mar. Eu penso que não. Porque essas coisas, na forma como estão, garantem que a gente tenha um meio ambiente, a Terra com menos poluição e menos aquecimento. Sou pajé também, já tive contato com os Espíritos, que sabem dos riscos que a gente tem de continuar trabalhando dessa forma, de destruir e destruir e destruir. Que podemos ter consequências muito grandes e não conseguir parar”, disse Raoni, em fala destacada por Carta Capital, Folha e Correio Braziliense.
Dias antes do encontro, o líder Kayapó disse que falaria sobre a exploração da foz. “Já fui informado sobre o projeto [do Bloco 59, da Petrobras, no litoral amapaense] e vou ter a oportunidade de sentar com Lula para discutir o assunto. Vou pedir que ele não encoraje a exploração na Amazônia.”
Além do abandono dos planos de explorar petróleo na foz, o cacique pediu a Lula a revisão dos limites da TI Capoto/Jarina e que o presidente indique um sucessor alinhado à causa indígena. “Não quero que entremos em contradição, mas que façamos um trabalho que beneficie os Povos Indígenas do Brasil. Fiz uma cobrança para que ele não repita erros que já fez na gestão anterior. Presidente, daqui para a frente, vamos trabalhar certo, para que as pessoas sejam felizes com o nosso trabalho”, afirmou Raoni.
O presidente condecorou Raoni com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, concedida a cidadãos brasileiros por serviços de destaque prestados ao país. Em troca, recebeu um colar de conchas, usado pelos Kayapós em celebrações.
Agência Brasil, CNN, Poder 360 e Metrópoles também repercutiram a visita de Lula a Raoni e a fala do cacique contra a exploração da foz do Amazonas.
A Petrobras informou que recebeu a licença da Secretaria de Meio Ambiente do Amapá (SEMA) para operar a Unidade de Atendimento e Reabilitação de Fauna que instalou em Oiapoque, no extremo norte do estado, informam O Globo e g1. Segundo a petroleira, a estrutura seria “a última exigência” do IBAMA no processo de licenciamento para o poço de exploração de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, o que não é confirmado pelo órgão ambiental. A Petrobras ainda tentou apressar o IBAMA, fazendo com que a vistoria da unidade de Oiapoque fosse feita nesta 2ª feira (7/4), o que não foi aceito pelo órgão ambiental.
“Este é um momento que exige extrema coerência. Não podemos defender a proteção florestal globalmente e, ao mesmo tempo, flexibilizar medidas de segurança ambiental em nosso próprio território.” A fala é do secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco. Em entrevista à Exame, Capobianco mostra preocupação não apenas com a possível exploração de petróleo na foz do Amazonas, mas também com a proposta do Ministério de Minas e Energia (MME) de abolir portarias interministeriais com o MMA que impedem a oferta de áreas ambientalmente sensíveis para a indústria petrolífera.
Os defensores da exploração de petróleo na foz do Amazonas usam a demanda global pelo combustível fóssil como uma das razões para a atividade, independentemente da urgência de se eliminar petróleo, gás e carvão para estancar as mudanças climáticas. Mas dados da China, a maior compradora de petróleo no mundo, são um balde de água fria nessas pretensões e um reforço do risco de que a foz vire um “ativo encalhado” para a Petrobras e o governo brasileiro. Segundo a Bloomberg, a China está pressionando suas refinarias de petróleo a reduzir a produção de combustíveis veiculares. O consumo de diesel no país vem caindo desde 2019, e o aumento nas vendas de caminhões movido a gás liquefeito contribui ainda mais para essa queda. Já a rápida expansão dos carros elétricos pode ter feito o consumo de gasolina no país atingir seu pico em 2023. Em 2024, as vendas do combustível foram 9% menores do que no ano anterior.