31 Março 2025
Evento deve reunir até 30 mil pessoas durante as duas semanas da COP30 em Belém, discutindo temas como Justiça Climática, racismo ambiental e defesa dos Direitos Indígenas.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 30-03-2025.
A cidade de Belém (PA) viverá dias intensos durante as duas semanas da COP30. Além das negociações climáticas previstas para acontecer entre os dias 10 e 21 de novembro, a capital paraense também receberá a Cúpula dos Povos, um espaço de debates e reivindicações independentes dos movimentos sociais com foco na agenda do clima.
O Globo e Valor deram mais detalhes sobre o evento. Mais de 400 organizações, do Brasil e do exterior, vêm se mobilizando para a realização do encontro. Inspirado na Cúpula dos Povos da Rio+20, em 2012, o evento está articulado em seis eixos temáticos: territórios vivos e soberania popular; reparação histórica e combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo; transição justa, popular e inclusiva; defesa da democracia e oposição às opressões; cidades justas e periferias urbanas; e direitos das mulheres e meninas e seu protagonismo nas lutas socioambientais.
“Os desafios não são apenas carbono e emissões, mas o debate sobre o sistema que nos leva ao fim da vida. A discussão da cúpula não termina no fim da COP30. A união da pauta social com a ambiental é fundamental”, defendeu Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria e representante do Observatório do Clima (OC) na Cúpula dos Povos.
Além de discussões paralelas à COP30, os organizadores da Cúpula dos Povos querem pressionar o secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e o governo brasileiro contra a participação de lobistas da indústria de combustíveis fósseis nas negociações em Belém. O lobby fóssil tem sido cada vez mais explícito nas COPs, com presença significativa nas Conferências de Dubai (COP28, em 2023) e de Baku (COP29, em 2024) – muitas vezes camuflados dentro das delegações governamentais.
Por falar em pressão, o presidente-designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que a saída dos Estados Unidos de Donald Trump do Acordo de Paris cria uma divisão entre os países desenvolvidos e deve complicar as discussões em Belém. Mas, ao mesmo tempo, o diplomata ponderou que a maior parte dos estados e empresas norte-americanas segue engajada na agenda climática, a despeito do negacionismo da Casa Branca.
“Cerca de dois terços do PIB dos EUA estão comprometidos com a sustentabilidade. Por dois motivos: por já terem feito imensos investimentos e, também, por serem empresas multinacionais, que estão em países que vão ficar no Acordo de Paris”, disse Corrêa do Lago durante evento da Câmara de Comércio Brasil-EUA (AMCHAM), em São Paulo, na última 6ª feira (28/3).
Além da ausência norte-americana, o presidente da COP30 reconheceu outra preocupação: o avanço da desinformação climática. Para ele, as negociações em Belém podem ser uma oportunidade para o Brasil contribuir para o combate às fake news sobre a crise do clima.
“Uma das coisas que temos que fazer nos próximos meses é explicar de maneira muito clara, mostrando que as negociações sobre o clima mudaram completamente a economia mundial. A COP30 será uma ocasião muito importante (…) [porque] no fundo é um crime divulgar desinformação e fake news sobre mudança do clima”, disse o embaixador ao g1. CNN Brasil e Valor repercutiram a fala.
Mais uma polêmica na preparação de Belém para a COP30: duas avenidas onde são realizadas obras para a Conferência ganharam estruturas que imitam árvores. Inicialmente batizadas de “árvores artificiais” e “eco-árvores” pelo governo do Pará, elas são feitas de vergalhões reaproveitados das construções e servem de suporte para plantas trepadeiras, com a justificativa de fornecer “sombra e ventilação” aos participantes da COP.
A ideia não foi bem-recebida por ambientalistas e ativistas climáticos, que criticaram a falta de interesse das autoridades paraenses em buscar soluções, inclusive das Comunidades Tradicionais e Povos Originários, para resolver o problema. A Folha deu mais informações.