20 Março 2025
Israel retomou seus ataques aéreos contra a Faixa na madrugada de terça-feira para facilitar a entrada de suas tropas e "expandir a zona de segurança".
A reportagem é de Francesca Cicardi, publicada por El Diario, 19-03-2025.
Após novos bombardeios na noite de terça para quarta-feira, o Exército israelense anunciou que iniciou operações terrestres no centro e sul da Faixa de Gaza, onde matou 436 pessoas em menos de 48 horas. Na tarde desta quarta-feira, 14 palestinos morreram em um bombardeio contra um velório no bairro de Al Sultan, em Beit Lahia, no norte do enclave, segundo informaram alguns jornalistas gazatianos. Mais de 70 palestinos morreram na segunda noite de bombardeios, de quarta para quinta-feira, de acordo com fontes de saúde em Gaza citadas pela Reuters.
Em um comunicado, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que buscam "expandir a zona de segurança" e "criar uma zona de contenção parcial entre o norte e o sul de Gaza". Dessa forma, as tropas voltam a estar presentes no interior da Faixa, de onde haviam se retirado para o perímetro durante a primeira fase do acordo de cessar-fogo com o Hamas, entre 19 de janeiro e 1º de março. Essa trégua colapsou depois que Israel lançou intensos bombardeios na noite de segunda para terça-feira, matando pelo menos 400 pessoas, das quais 183 eram menores, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
A Palestinian mother mourns her daughter, who was slaughtered in an Israeli airstrike that targeted a residential building west of Al-Nuseirat refugee camp in central Gaza earlier today. pic.twitter.com/Kk1vRlvnBx
— Quds News Network (@QudsNen) March 19, 2025
Além disso, as FDI afirmaram que continuaram atacando “dezenas de alvos terroristas e terroristas em toda a Faixa de Gaza”. Até o meio-dia desta quarta-feira, pelo menos 30 pessoas morreram, segundo o Ministério. Além disso, há mais de 670 feridos no total em dois dias de bombardeios.
Entre os mortos nesta quarta-feira está um funcionário do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS), conforme anunciou de Bruxelas seu diretor, Jorge Moreira da Silva. O trabalhador – cuja nacionalidade não foi revelada – morreu em uma explosão, e outros cinco ficaram feridos, alguns em estado grave, segundo Moreira da Silva, que não responsabilizou Israel pelo ocorrido. Fontes palestinas apontaram diretamente para um ataque israelense contra o edifício da UNOPS onde estavam as vítimas.
De acordo com Moreira da Silva, “uma munição explosiva foi lançada ou disparada contra a infraestrutura e detonou dentro do edifício” em Deir al Balah, que abriga não apenas as instalações da UNOPS, mas também uma residência para trabalhadores de todas as agências das Nações Unidas. Em declarações à imprensa, ele acrescentou que não se sabe que tipo de munição foi utilizada, se projéteis de lançamento aéreo, de artilharia ou foguetes.
🚨Israeli forces just began reoccupying the Netzarim corridor in Gaza, re-dissecting it into 2 halves
— Muhammad Shehada (@muhammadshehad2) March 19, 2025
Israel has now fully violated every clause of the ceasefire agreement's phase 1
They're now reimplementing the "5 fingers" policy of dividing Gaza into concentration camps👇 pic.twitter.com/pnFhrrsYt2
"Na minha opinião, isso não pode ser classificado como um acidente, mas pelo menos como um incidente. O que está acontecendo em Gaza é inadmissível", afirmou. "Estou chocado e devastado por essa trágica notícia. Vi a dedicação absoluta de nossa equipe em Gaza no mês passado [durante uma visita à Faixa]. Eles e outros trabalhadores e edifícios da ONU nunca deveriam ser atacados."
Moreira da Silva destacou que as instalações são "bem conhecidas" pelo Exército israelense e que "todo mundo sabia quem estava trabalhando nelas, que eram funcionários da UNOPS". Ele também detalhou que o complexo das Nações Unidas fica isolado de outras construções, em uma área conhecida de Deir al Balah, e que foi atacado nos últimos dois dias.
Anteriormente, o Ministério da Saúde de Gaza havia informado que cinco trabalhadores estrangeiros da ONU ficaram feridos e um morreu no bombardeio contra a sede onde estavam, no centro da Faixa. Segundo fontes do Ministério gazatiano, citadas pela Agência EFE, o prédio atacado é uma residência para funcionários estrangeiros da UNOPS localizada no centro de Gaza.
Por sua vez, as Forças de Defesa de Israel (FDI) negaram ter atacado um prédio da ONU. "Ao contrário das informações [da imprensa], as FDI não atacaram um complexo da ONU em Deir al Balah", afirmaram em um breve comunicado, pedindo aos meios de comunicação que "ajam com cautela".
No início da manhã desta quarta-feira, o Exército israelense emitiu novas ordens de evacuação para os moradores de várias áreas da Faixa, especialmente as fronteiriças com Israel, ao longo de todo o perímetro do enclave. O ministro da Defesa, Israel Katz, publicou um vídeo nas redes sociais alertando os gazatianos de que "as evacuações das zonas de combate recomeçarão em breve". Ele também advertiu que o que virá depois dos ataques aéreos será "muito pior" e que eles "pagarão o preço" pelo Hamas.
Os gazatianos são novamente obrigados a se deslocar diante da ofensiva israelense, embora não haja nenhum lugar dentro da Faixa sitiada onde estejam seguros. Com o retorno das tropas terrestres ao interior de Gaza, a liberdade de movimento de seus habitantes será limitada, assim como ocorreu nos meses anteriores à entrada em vigor do cessar-fogo, em 19 de janeiro. Até o início da trégua, mais de 48.500 palestinos haviam morrido.