A pregadora herética, a Bíblia Donald e a foto da Última Ceia: “Quero unir e trazer a paz”

Paula White (Foto: Wikimedia Commons)

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14 Fevereiro 2025

Donald Trump assina a enésima ordem executiva presidencial, desta vez para a criação na Casa Branca de um Escritório de Fé confiado à telepregadora Paula White: uma personagem controversa, pastora da chamada teologia da prosperidade, há muitos anos sua conselheira espiritual.

A reportagem é de Massimo Gaggi, publicada por Corriere della Sera, 10-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

A foto no Salão Oval captura um momento de recolhimento com o líder cercado por pastores de várias congregações, como Travis Johnson e Brad Knight. Ou Guillermo Maldonado: vindo de Honduras, construiu seu templo na Flórida, onde White também opera. Há também colaboradores do presidente, o cantor Kid Rock e o marido da telepregadora, Jonathan Cain, tecladista da banda de rock Journey. Não se sabe exatamente quais serão as tarefas do novo escritório, mas Trump dá solenidade ao momento com um post presidencial no qual ele associa essa imagem solene, quase um afresco da Última Ceia, com uma citação bíblica e uma promessa igualmente solene sobre o legado que ele deixará para a posteridade: “Serei lembrado como unificador e pacificador”, ou seja, alguém que traz unidade e paz.

Palavras que pesam, já que Trump acaba de revelar que já conversou com Putin várias vezes na busca da paz na Ucrânia. Em outros aspectos, no entanto, a estreia do unificador não é das mais animadoras. Ele já havia antecipado sua intenção ecumênica na quinta-feira, em seu discurso no National Prayer Breakfast, um evento anual de cunho religioso que conta com a participação de parlamentares dos dois partidos. Ciente de não ter uma reputação ilibada, Trump tinha retornado ao atentado de julho: “Foi a vontade de Deus que me salvou: uma experiência que me mudou”. Naquela mesma manhã, no entanto, durante um segundo evento de oração muito menos formal, Trump já havia tirado a veste de unificador, acusando os democratas de serem “contra a religião e contra Deus” e chamando Joe Biden (um católico) de “perseguidor de crentes” por sua condenação aos ataques dos antiabortistas às clínicas onde era possível interromper a gravidez.

Durante a campanha eleitoral, Trump usou ao máximo temas religiosos para ganhar votos: os fidelíssimos mais devotos o descreviam, especialmente por suas muitas incriminações, como um Cristo perseguido e crucificado, mas ele, ciente de não ter vivido como um santo, preferiu a imagem de um mensageiro enviado por Deus. Assim, os pastores conservadores de todo lado dos EUA puderam explicar aos seus fiéis que, às vezes, o Senhor se serve também dos pecadores para realizar seu projeto. Trump ganhou votos tentando entrar em sintonia com vários cultos: desde os católicos (aqui ele contou com o ativista ultraconservador Brian Burch, líder da CatholicVote, agora recompensado com a nomeação como embaixador dos EUA junto à Santa Sé) até os discursos proferidos nos templos das congregações evangélicas afro-americanas.

Agora que está na Casa Branca, insiste na tecla da religiosidade, mas seus modos, além de não unificarem, correm o risco de fazer chover sobre ele acusações de violação da Constituição: ele fala de tutela da liberdade religiosa, mas depois se concentra apenas no cristianismo e no judaísmo. Ele até chega ao ponto de encarregar a Ministra da Justiça Pam Bondi a criar uma comissão para combater os preconceitos anticristãos na administração pública, mas sem dizer quais.

A escolha de Paula White certamente também não ajuda a unificar, já que muitos cristãos conservadores a consideram até mesmo uma herege. As teses da teologia da prosperidade (Deus recompensa com riqueza e saúde aqueles que têm uma fé forte) são consideradas blasfêmias: uma condenação em relação aos que ficam para trás, aos pobres. Não ajuda o fato de Paula ter ameaçado sua congregação em seus sermões: “Apoiem a nossa congregação ou Deus matará seus sonhos”. E que ela tenha fixado também um preço (mil dólares) para a conquista da salvação.

Mas ela sente numa situação segura e protegida: em 6 de janeiro de 2021, o dia do ataque ao Congresso, falou à multidão diante de Trump: “Mostrem uma santa ousadia, todo adversário deve ser derrotado em nome de Jesus”. E depois: “Opor-se a Trump é opor-se a Deus”. Confiante na gratidão do presidente, ela agora exagera: “Tenho a autoridade para declarar a Casa Branca um lugar sagrado. E a minha presença que santifica”.

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