15 Janeiro 2025
O fim da escala 6x1 pode ser uma realidade em Curitiba. O assunto ganhou projeção nacional depois que a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), em parceria com o vereador carioca Rick Azevedo, apresentou uma proposta de emenda constitucional (PEC) na Câmara dos Deputados. Na capital paranaense, a novata vereadora Professora Ângela (Psol) acaba de protocolar um projeto de lei que impede tanto o município quanto o legislativo de contratarem empresas que utilizam o modelo de escala de trabalho.
A reportagem é de Manoel Ramires, publicada por Brasil de Fato PR, 14-01-2025.
A proposta curitibana foi inspirada em uma outra de autoria do Deputado Distrital Fábio Felix, do DF, e ocorre à luz dos movimentos que surgiram pelo fim da escala 6x1. A lei tem como alvo principalmente os trabalhadores terceirizados e também contratados da prefeitura que não são concursados e os de concessão.
No município, os principais contratos que possuem esse regime de escala são justamente os ligados à manutenção e segurança patrimonial, como o caso de funcionários da limpeza, segurança e zeladoria.
A proposta da vereadora Professora Ângela determina que fica proibido, nos contratos firmados pelo Poder Público Municipal para fornecimento de serviços ou de mão de obra, a execução de escala de trabalho com apenas um dia de repouso semanal.
“É obrigatória cláusula que estabeleça que a execução do objeto dar-se-á por trabalhadores com jornada de até 40 horas semanais, assegurados dois dias de repouso semanal remunerado, sendo, ao menos um dia, sábado ou domingo”, diz a proposta que ainda inibe a redução de vencimentos.
Para a vereadora, esse projeto não apenas atende aos trabalhadores e às empresas, mas também a própria Prefeitura de Curitiba e Câmara Municipal que se tornam agentes promotores de condições laborais mais justas e sustentáveis.
“A escala de trabalho 6x1 dificulta a realização de atividades pessoais, comprometendo o tempo de lazer e restringe as oportunidades de convívio familiar e social. A proposta se inspira em tendências de países que já têm se movido em direção a semanas de trabalho mais curtas e à valorização do descanso”, argumenta Ângela.
Funcionalismo não tem escala 6x1
Entre os servidores públicos, Curitiba tem três tipos de jornada. 20 horas semanais para médicos, dentistas e professores. 30 horas semanais para os servidores da saúde. E 40 horas semanais para os demais servidores da Prefeitura de Curitiba.
Entre os concursados, não há escala 6x1. Na cidade tem escala 12x60 para os profissionais das UPAs. Tem a escala 12x36 para funcionários que trabalham de turno ininterrupto como Casas de Abrigo, serviço funerário e até Guarda Municipal. Ainda tem a escala de médicos que são 20 horas. De acordo com um advogado consultado, eles fazem plantão de 12 horas e completam o restante em outra escala. Quanto aos celetistas como os agentes de endemia, a jornada de trabalho é de 40 horas semanais.
Mais de 230 assinaturas
A proposta em tramitação na Câmara dos Deputados já recolheu cerca de 230 assinaturas. Para a deputada Érika Hilton, “a luta, a pressão, e a cobrança não podem parar”. Em sua conta no X, ela destaca que a proposta tem aprovação de 70% da população brasileira e também une pessoas de esquerda (81,3% favoráveis) e de direita (54,9% favoráveis), de acordo com a pesquisa feita pelo Projeto Brief em parceria com a plataforma Swayable.
Leia mais
- Redução de escala 6×1 para 4×3: o pouco discutido impacto no meio ambiente
- Espanha. A jornada de trabalho de 37h30min é aprovada para 2025
- Redução da jornada de trabalho: “a resistência é mais política do que econômica”. Entrevista com Sidartha Soria
- O descanso, o trabalho e a escala 6x1. Artigo de Élio Gasda
- Jornada de trabalho na escala 6x1: a insustentabilidade dos argumentos econômicos e uma agenda a favor dos trabalhadores e das trabalhadoras
- A dissolução do trabalho
- De onde surgiu Rick Azevedo? O drible do trabalhador no enfrentamento do 6×1
- Ministros e deputados saem em defesa da redução da jornada de trabalho: “Possível e saudável”
- Influencer por redução de jornada de trabalho é mais votado do PSol no RJ: 'sindicatos têm relevância, mas precisam se adaptar'
- Movimento ‘Vida Além do Trabalho’ viraliza nas redes sociais
- A íntima relação entre o trabalho precarizado e o sofrimento psíquico
- O mundo do trabalho de pernas para o ar. “A fronteira entre a vida pessoal e o trabalho não existe mais”. Entrevista com Jean-Philippe Bouilloud
- “A precarização do mundo do trabalho é o terreno onde se fertiliza o fascismo”. Entrevista especial com Gilberto Maringoni
- Trabalhos análogos à escravidão aumentam em 64,6% em 2023
- 'Lógica do capitalismo': Sul Global faz 90% do trabalho mundial, mas detém apenas 20% da riqueza
- Regulamentação do trabalho subordinado às plataformas: disputas e narrativas à direita
- O fenômeno da plataformização: um laboratório de luta de classes. Entrevista especial com Julice Salvagni
- Reforma trabalhista completa quatro anos e enfrenta informalidade, uberização e precarização de direitos
- “O desafio é muito mais complexo do que simplesmente revogar a reforma trabalhista”. Entrevista com Clemente Ganz Lúcio
- Promessas de geração de 2 a 6 milhões de empregos não se concretizaram com a Reforma Trabalhista
- Senado volta a discutir PL da jornada de trabalho de quatro dias nesta semana; entenda debate
- “Não podemos mais ignorar o debate sobre a redução da jornada de trabalho porque funciona para muitas empresas”. Entrevista com Pedro Gomes
- Redução da jornada de trabalho e renda básica universal e incondicional podem romper com a escuridão da economia do lucro e o “sistema de morte”. Entrevista especial com Cesar Sanson e José Roque Junges
- Não se produz saúde sem assegurar condições adequadas de salário e jornada de trabalho. Entrevista com Maria Helena Machado
- “A redução do horário de trabalho e a Renda Básica Universal” são medidas necessárias propõe o Papa Francisco