14 Janeiro 2025
O partido AfD, segundo nas pesquisas para as eleições de fevereiro, fecha fileiras com sua candidata após o apoio de Musk e tenta quadrar o círculo: se normalizar sem se desradicalizar.
A reportagem é de Marc Bassets, publicada por El País, 12-01-2025.
Ela é mulher em um partido muito masculino. Vive em casal com outra mulher originária do Sri Lanka e tem dois filhos em comum, mas está cercada de dirigentes que promovem a família composta por um homem e uma mulher e rejeitam a imigração. É uma política da Alemanha Ocidental em uma formação que obtém os melhores resultados no Leste, onde tem sua base mais combativa. Uma economista liberal com uma carreira cosmopolita à frente de uma militância onde o velho nacionalismo alemão está enraizado, um nacionalismo que, pela história do país, espanta muitos dentro e fora de suas fronteiras. Uma oradora que, no palanque, ergue a voz ao chamar pela "remigração" dos estrangeiros, mas que, no trato pessoal, se mostra quase tímida, como se ainda não acreditasse no lugar que ocupa hoje na cena nacional e internacional. Uma aparente moderada liderando um partido que, ao contrário de outros da mesma esfera na França ou Itália, que aspiram à normalização, se radicalizou com os anos, ao invés de suavizar a mensagem.
Alice Weidel (Gütersloh, 45 anos) é uma candidata atípica para o Alternativa para a Alemanha (AfD), um dos partidos mais radicais da extrema-direita europeia, que não para de ganhar posições, eleição após eleição. Quando, neste sábado, o congresso da AfD em Riesa, uma pequena cidade industrial no estado de Saxônia, aprovou sua candidatura por aclamação, as dúvidas sobre sua liderança pareceram desaparecer de repente.
Como se seu trabalho árduo para unir as múltiplas alas, sempre em conflito desde a fundação em 2013, tivesse culminado com sucesso. Como se as manifestações massivas de um ano atrás, após a desconfortável revelação sobre uma reunião em que se discutiu a deportação em massa de imigrantes, e na qual participaram membros do partido e pessoas próximas a ele, tivessem sido esquecidas. Na Alemanha, "remigração" é uma palavra que, devido à história do nazismo e das deportações da Segunda Guerra Mundial, carrega ressonâncias particularmente sombrias.
Não foi um mau começo de ano para essa política que se apresenta como competente e experiente no setor privado, com uma imagem que quebra os estereótipos. Primeiro, o diálogo de quase uma hora e meia, na quinta-feira, com Elon Musk, o homem mais rico do mundo e assessor do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e o apoio entusiástico do magnata à AfD, um partido que, na Alemanha, é excluído do campo democrático e está sob vigilância dos serviços de inteligência.
Depois, a aclamação no ginásio de Riesa, cidade tomada por centenas de policiais e milhares de manifestantes contra a extrema-direita, o que forçou o atraso de duas horas no início das sessões. O ponto culminante da semana estelar da candidata são as pesquisas que confirmam que, se as eleições fossem neste domingo, seu partido obteria mais de 20% dos votos e seria a segunda força no Bundestag, atrás apenas dos democratas-cristãos de Friedrich Merz, favorito para suceder o social-democrata Olaf Scholz na chancelaria.
"Vivemos em tempos em que as pessoas gostam de políticos atípicos", diz nos corredores do congresso Kay Gottschalk, militante desde o início da AfD e deputado no Bundestag por Renânia do Norte-Vestfália. "Quando vemos Donald Trump ou Javier Milei na Argentina, está claro que já não estamos no tempo das pessoas enfadonhas, mas das figuras únicas." Gottschalk vem da antiga Alemanha Ocidental, onde a AfD se apresenta como um partido conservador tradicional e orientado para o livre mercado. Mas, em Riesa, ele concorda com Hans-Thomas Tillschneider, parlamentar regional da antiga Alemanha Oriental, onde, ao contrário do Oeste, a AfD ganha eleições, e seus líderes costumam defender posições mais radicais. "Nós respeitamos a vida privada das pessoas", diz, referindo-se à contradição da AfD entre a promoção da família tradicional e a família de sua candidata, Weidel. "A senhora Weidel", acrescenta, "não tem problema com o fato de nós, aqui, apresentarmos como modelo a família composta por homem, mulher e filhos."
Criada na próspera Alemanha Ocidental dos anos 1980 e 1990, depois de estudar Economia e Comércio, Weidel trabalhou no Goldman Sachs e na Allianz, viveu na China e iniciou uma carreira internacional que poderia tê-la levado a uma instituição internacional ou multinacional. Mas ela retornou à Europa e entrou na AfD, onde escalou até assumir a liderança. Soube manter distância da ala mais ultra, mas, ao mesmo tempo, cortejou e apaziguou essa ala.
"Uma camaleoa política", descreve-a por telefone Eva Kienholz, autora de Eine kurze Geschichte der AfD (Uma breve história da AfD). Em seu discurso em Riesa, Weidel agitou a bandeira da "liberdade de expressão" diante da suposta censura dos partidos dominantes, e empolgou a extrema-direita com os apelos à "remigração". "Não sei quanto tempo esse equilíbrio entre a tolerância absoluta em relação à extrema-direita e a ideia da AfD como um partido que se supõe ser libertário vai durar", afirma Kienholz.
Marcus Bensmann, jornalista da Correctiv, a publicação que revelou a reunião em Potsdam no ano passado, na qual membros da extrema-direita alemã discutiram planos para a expulsão em massa de estrangeiros, publicou o livro Niemand kann sagen, er hätte es nicht gewusst. Die ungeheuerlichen Pläne der AfD (Ninguém pode dizer que não sabia. Os escandalosos planos da AfD). Bensmann destaca que, apesar da capacidade de Weidel para unir as diversas correntes, ela não se consolidou como líder. Na verdade, ninguém conseguiu isso na história da AfD, um partido que passou por uma sucessão de líderes e brigas internas. "Na Itália, temos Giorgia Meloni; na França, Marine Le Pen; na Áustria, Herbert Kickl; na Hungria, Viktor Orbán; e nos EUA, Donald Trump", diz ele. "Mas aqui não surgiu uma figura."
"Weidel é uma visionária", admitem no partido. Em privado, vários dirigentes reconhecem o desconcerto quando ouviram, na quinta-feira, sua afirmação durante a conversa com Musk, de que Hitler "era comunista", uma falsidade histórica com a qual ela tentava tirar do partido, diante de uma audiência internacional, a etiqueta de "nazi". A ajuda de Musk pode ser inestimável. "Que um empresário como ele, um homem admirável de quem muitos riam quando ele começava com a SpaceX ou com os carros elétricos, agora converse com Alice Weidel, representa um ennobrecimento para nós", diz o deputado Gottschalk. "Não somos nazistas!", proclama.
Este é o objetivo: sair do canto dos "amaldiçoados" e erosionar o cordão sanitário que, apesar de a extrema-direita alcançar o maior sucesso da história da Alemanha contemporânea nas eleições de fevereiro, impedirá que o partido governe. E tudo isso mantendo os princípios. Como se tratasse de se normalizar sem se desradicalizar. A quadratura do círculo.
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Alice Weidel, uma líder atípica para levar a extrema-direita da AfD ao seu maior sucesso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU