20 Dezembro 2024
Encontro entre Davi Kopenawa e dom Evaristo Spengler fortalece defesa dos Povos Indígenas em Roraima.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
A defesa dos povos originários sempre foi prioridade para a diocese de Roraima. Nos últimos anos, como já aconteceu com o povo Macuxi décadas atrás, o povo yanomami tem sofrido as graves consequências do garimpo ilegal em seu território, provocando uma grave crise humanitária que tem sido denunciada em diversas instâncias em nível nacional e internacional, inclusive em instâncias vaticanas.
No Angelus do dia 20 de outubro de 2024, data em que aconteceu a canonização de José Allamano, canonizado após ser reconhecida a cura milagrosa de Sorino Yanomami, depois de ser atacado por uma onça, o Santo Padre disse: “Penso em particular no povo Yanomami, da floresta amazônica brasileira, entre cujos membros ocorreu o milagre ligado à canonização de hoje. Apelo às autoridades políticas e civis para que garantam a proteção destes povos e dos seus direitos fundamentais e contra qualquer forma de exploração da sua dignidade e dos seus territórios”.
Nesta quarta-feira 18 de dezembro, segundo informações da Rádio Monte Roraima, aconteceu o encontro entre representantes da Diocese de Roraima, com a presença de seu bispo, dom Evaristo Spengler, e uma das grandes lideranças do povo Yanomami, Davi Kopenawa, representante da Hutukara Associação Yanomami. O encontro foi uma oportunidade para refletir juntos sobre a luta dos povos indígenas e os desafios enfrentados diante de ameaças como o Marco Temporal.
O marco temporal é uma tese jurídica que defende uma alteração na política de demarcação de terras indígenas no Brasil. Segundo essa tese, só poderia reivindicar direito sobre uma terra o povo indígena que já estivesse ocupando-a no momento da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
Davi Kopenawa destacou o papel da Igreja católica na luta pelos direitos indígenas e denunciou os riscos do Marco Temporal, que ameaçam a permanência de comunidades indígenas em seus territórios ancestrais. A liderança indígena sublinhou que “o povo indígena do Brasil enfrenta o mesmo problema. A Igreja está acompanhando a nossa luta, nossa batalha contra o Marco Temporal, que eu não conhecia antes. Isso é uma grande ameaça.”
“O marco temporal estava escondido. Ele ficou em um buraco. Você sabe o que é um buraco em Brasília? É um lugar onde há interesses ocultos. Já foram assassinados milhares de nosso povo indígena no Brasil, e nós não queremos mais isso. Queremos que cada um possa usar o lugar onde nasceu, que é seu por direito”, disse Davi Kopenawa, relatando sua percepção em torno a uma das grandes ameaças que enfrentam atualmente os povos originários no Brasil.
Foto enviada por Luis Miguel Modino
Segundo tem acontecido há décadas na diocese de Roraima, dom Evaristo Spengler reafirmou o compromisso da Igreja Católica com a defesa dos povos indígenas, seus costumes e territórios. Segundo o bispo, “a Terra, quando atacada, reage, e as reações
trazem consequências graves, como as mudanças climáticas que estamos vivenciando”. O presidente da Rede Eclesial Panamazônica no Brasil (REPAM-Brasil), ressaltou a importância de aprender com os povos originários a cuidar da “casa comum” e manter uma relação harmoniosa com a natureza. O bispo de Roraima enfatizou a postura de defesa explícita da Igreja católica com relação aos povos indígenas, agradecendo pelo encontro com Davi Kopenawa.
Recentemente foi exibido o filme “A Queda do Céu”, protagonizado por Davi Kopenawa, foi exibido, onde é abordada a luta dos Yanomami pela preservação de sua cultura e territórios. Segundo a liderança Yanomami: "Nossa imagem, os Yamam, é nossa alma, que permanece conosco. Essa luta, que cresceu, amadureceu e se fortaleceu, é realmente muito significativa. Esse filme é muito importante para todos vocês, para aqueles que querem enxergar nossa verdadeira origem." Um filme que ele vê como uma resposta a uma sociedade que ainda ignora a existência e a luta dos povos originários. "Foi assim, sonhando, que fizemos esse bom trabalho para nossos filhos também. E os Yamam irão olhar para esse trabalho e ver a força da nossa luta", disse o protagonista.
Um passo a mais que reforça a importância do diálogo entre diferentes setores da sociedade e a Igreja no enfrentamento dos desafios ambientais e sociais que ameaçam os povos indígenas, uma prática assumida há décadas pela diocese de Roraima, que pretende caminhar de mãos dadas com os povos originários em em prol da justiça, da paz e da preservação da cultura e dos territórios indígenas no Brasil.
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