19 Dezembro 2024
O novo livro de Massimo Faggioli, intitulado Theology & Catholic Higher Education: Beyond Our Identity Crisis, chega em boa hora. Considerado o principal eclesiólogo do país, Faggioli identifica os perigos que ameaçam as faculdades de teologia em sua luta pela sobrevivência como um problema não apenas para a universidade, mas também para a Igreja. Além disso, ele percebe que resolver o problema exigirá a atenção e a boa vontade tanto do meio acadêmico quanto do eclesiástico. É um livro curto, mas denso.
O artigo é de Michael Sean Winters, jornalista e escritor, publicado por National Catholic Reporter, 18-12-2024.
Faggioli começa examinando a crise de identidade que afeta a teologia nas instituições de ensino superior do país. Alguns dos problemas são feridas autoinfligidas, enquanto outros representam ameaças externas. A onda de jovens neotradicionalistas que rejeitam o Concílio Vaticano II pode recorrer a instituições de nicho como o Christendom College ou a pseudoespecialistas não acadêmicos que proliferam na internet. Eles não procurarão a teologia em uma universidade católica convencional porque "a crescente polarização nos Estados Unidos entre a esquerda e a direita em teologia... relegou a teologia católica nas universidades a ser uma serva do progressismo político".
Em tradução livre, "Teologia e educação superior católica: para além da nossa crise de identidade", novo livro de Massimo Faggioli.
Um problema relacionado surgiu, senão foi causado, pela perda de controle eclesiástico sobre a educação superior católica. "No exato momento em que muitas faculdades e universidades católicas se libertaram da interferência episcopal, elas alegremente se renderam à influência de doadores corporativos ansiosos por financiar projetos conservadores nos campi católicos — projetos que muitas vezes combinavam tradicionalismo teológico com ideologias econômicas neoliberais ou libertárias", escreve ele.
Esse é um tema recorrente no livro. A importante declaração de Land O'Lakes, de 1967, sobre a necessidade de liberdade acadêmica nas escolas católicas, atingiu seu objetivo, mas deixou essas instituições incapazes ou relutantes em resistir ao ataque de ideias e práticas tecnocráticas e orientadas para o mercado, que as escravizam novamente. Essas novas correntes estão marginalizando a teologia e as humanidades, sem as quais a teologia não pode ser desenvolvida.
Centos e setenta e dois anos após São John Henry Newman defender a educação liberal e alertar contra a tentação de ver o ensino superior como uma forma de treinamento vocacional, em sua magistral obra The Idea of a University, muitas escolas católicas seguiram o caminho de suas colegas seculares. Nessas instituições, as escolas de negócios, engenharia e ciências exatas atraem os alunos, os financiamentos e o prestígio que antes eram destinados à história, teologia e literatura. A Boston University está suspendendo programas nas áreas de humanidades. A Marymount University, no norte da Virgínia, eliminou teologia e outros cursos de humanidades em 2023. Esse fenômeno não é exclusivo das escolas católicas, mas essas instituições enfrentam uma questão que suas contrapartes seculares não enfrentam: como uma escola pode ser católica e, ao mesmo tempo, minimizar o papel da teologia na formação geral dos estudantes?
Ao analisar os problemas que afligem a educação superior católica, Faggioli, com grande delicadeza, não poupa críticas nem à esquerda nem à direita. No lugar de uma teologia rigorosa e conectada à experiência vivida da Igreja, os católicos neotradicionalistas participam da "revolta do populismo antiliberal" e produzem um catolicismo reacionário. Os jovens, normalmente, não se sentem atraídos por reações que sempre implicam um tipo de negativismo anti-inspiracional. Por outro lado, em um clima intelectual que questiona tudo, algumas pessoas buscam estabilidade onde podem encontrá-la e criam uma falsa percepção de que a tradição intelectual católica é algo imutável e inalterável.
Um problema da esquerda é a identificação do catolicismo "não apenas historicamente, mas essencialmente, com racismo, colonialismo e sexismo", escreve Faggioli. "É uma visão que vê a tradição como totalmente opressiva, em vez de possuir um potencial libertador, como negadora da vida, em vez de carregar o potencial de afirmá-la". É difícil imaginar jovens estudantes se inscrevendo em uma disciplina optativa de teologia se não estiverem interessados em aprender mais sobre sua fé. Ser recebidos por professores que desprezam a tradição provavelmente não despertará seu apetite por aprender mais sobre teologia.
Cada capítulo do livro aborda um aspecto do problema, e em todos os casos, a habilidade de Faggioli em enxergar os dois lados de uma questão se destaca. Os argumentos apresentados no capítulo sobre a "recepção interrompida do Vaticano II" serão familiares para aqueles que leram seu livro anterior, Vatican II: The Battle for Meaning. Aqui, no entanto, ele examina as consequências acadêmicas, não apenas eclesiais, da "ideologização neoconservadora do catolicismo".
Como costuma fazer, Faggioli tira conclusões sobre os desenvolvimentos culturais que seguem suas observações sobre as tendências acadêmicas. Por exemplo, ele escreve: "A polarização teológica e política alimentaram uma à outra e se transformaram em uma teologização das identidades políticas e uma politização do discurso eclesial". Isso é profundamente verdadeiro. (Sua inclinação por criar neologismos não incomoda porque nunca é usada para obscurecer, mas sempre para explicar. É o oposto do jargão. Ele cria palavras que precisam ser criadas.)
Ao examinar o rompimento nas relações entre a hierarquia e os teólogos acadêmicos, Faggioli novamente demonstra imparcialidade e ausência de julgamento. Por um lado, libertos do controle episcopal, poucos teólogos permaneceram interessados no engajamento episcopal. E, ao se voltarem para as ciências sociais como parceiros de discussão, os teólogos seguiram outros acadêmicos em áreas de estudo que pareciam mais vitais ao zeitgeist: raça, gênero e sexualidade, áreas em que a cultura moderna e o ensino católico estão mais distantes. Por outro lado, ele observa que a "hierarquia episcopal é parcialmente culpada se os teólogos, buscando fazer algo significativo, responderam olhando para fora da instituição [da Igreja] para deixar sua marca".
Faggioli também fornece uma análise precisa dos comentários do Papa Francisco sobre a missão da teologia, celebrando o fim da relação abertamente antagonista entre a teologia acadêmica e a Cúria Romana, mas também apontando para o fato de que os teólogos não foram convidados a desempenhar um papel significativo no processo sinodal.
A mudança de conselhos administrativos compostos por clérigos para conselhos liderados por leigos foi prevista e celebrada pelos reformadores católicos na época da declaração de Land O'Lakes, mas ninguém naquele momento percebeu quão profunda seria essa mudança. Escolas lideradas por clérigos e irmãs religiosas nunca precisaram discutir sua identidade católica; ela era incorporada pelos próprios líderes religiosos. Também não era incomum que, no meio do século XX, os leigos identificassem seus bairros pelo nome da paróquia local. Tudo isso desapareceu nas últimas décadas.
"A transição nas universidades católicas para presidentes e administradores leigos contribuiu paradoxalmente para a falta de interesse dessas instituições por uma eclesiologia que propusesse dar mais voz aos leigos", escreve ele. Presidentes e conselhos leigos podem ou não estar interessados em teologia, podem ou não ter muito conhecimento sobre ela. Quando estão interessados e buscam fazer da identidade católica uma característica definidora das instituições que lideram, essa identidade quase sempre se torna mais intelectual e conceitual. As irmãs religiosas viviam na pobreza, não apenas falavam sobre ela. Os padres e irmãs terminavam as vésperas e as laudes antes de entrarem na sala de aula. O catolicismo deles era amplamente cultural e experiencial, não apenas teórico.
Faggioli observa muitas vezes os perigos do anti-intelectualismo na vida da Igreja e da sociedade. Ele escreve sobre uma "nova forma de anti-intelectualismo católico", em que "o colapso entre a alta cultura e a cultura popular é alimentado pelos novos meios de comunicação e pelas redes sociais... em que pregadores populares online, orgulhosamente desvinculados da academia, estão redefinindo a relação entre o conhecimento e um dos produtores mais importantes desse conhecimento na história ocidental, a Igreja Católica". Esse é um problema que os bispos também precisam enfrentar, já que formadores online tentam convencer seminaristas a ignorar os ensinamentos que recebem em sala de aula e, em vez disso, confiar no nonsense reacionário que é difundido nas redes sociais.
Ele é igualmente severo em suas críticas aos desenvolvimentos dentro do ambiente acadêmico. "Se os teólogos focam em etnografia, estudos culturais e teologia política ativista, deixando de lado a dogmática, a patrística, a eclesiologia, a teologia filosófica e fundamental, eventualmente o vazio será preenchido pelos 'vigilantes' autoproclamados, policiando a graça nessa nova busca por um tipo de orgulho católico ultravigilante". Essa observação é precisa e bem articulada.
De fato, este livro é repleto de frases excelentemente escritas, que encapsulam ideias-chave e saltam da página. Lemos, por exemplo: "Não há tradição católica sem o pensamento social católico, mas a tradição católica é mais do que o pensamento social católico". E ainda: "Agora, as universidades se tornaram seminários de outra religião: seminários para a formação do alto clero do capitalismo e para as ordens menores da economia de serviços". E também: "A menos que abandone um papel gladiatorial, de constante e semiautomático ataque ao ensino da Igreja, a teologia experimentará mais humilhação do que humildade".
Faggioli aborda também o papel dos programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas universidades católicas contemporâneas, observando corretamente que tais programas não podem substituir a identidade católica. Gostaríamos que ele tivesse explorado mais profundamente esse tema. Muitas — se não todas — faculdades e universidades católicas adotaram programas de DEI sem questionamentos críticos, sem considerar questões fundamentais sobre como o DEI se cruza com a antropologia cristã. Os defensores do DEI, e os estudiosos multiculturais antes deles, frequentemente promovem, de alguma forma, a ideia herderiana de que as culturas são incomensuráveis. Essa ideia não se alinha com a antropologia católica. Nós acreditamos que a graça transcende tudo: raça, gênero, nação, sexualidade. No entanto, como valores éticos, diversidade, equidade e inclusão têm uma óbvia correspondência com a visão ética católica. A academia moderna se beneficiaria das reflexões profundas de Faggioli sobre esse tema.
O capítulo final inclui recomendações práticas para abordar os problemas que Faggioli identificou, e concordo plenamente com tudo o que ele propõe. Se você quiser saber quais são essas propostas, precisará comprar o livro!
E deveria. O livro de Faggioli se junta ao cânone estimado de obras que abordam questões sobre o que uma universidade deveria ser. Além do famoso The Idea of a University, de Newman, há o livro de 1946 do filósofo espanhol José Ortega y Gasset, Mission of the University, o The Idea of a University: A Reexamination, de Jaroslav Pelikan, de 1992, e o livro do acadêmico evangélico George Marsden, The Outrageous Idea of Christian Scholarship, de 1997. Todos esses livros iluminam o tema em questão.
A preocupação é que as faculdades e universidades católicas contemporâneas possam carecer do tipo de liderança intelectual necessária para realizar as mudanças indispensáveis se sua identidade católica quiser ser preservada. O modelo de mercado da educação superior pulverizou entendimentos mais clássicos do que significa educar um jovem. Os problemas identificados por Faggioli são reais, mas isso não significa que as soluções serão encontradas ou, se encontradas, adotadas.
Acrescentarei uma solução prática para o dilema. Qualquer pessoa em um comitê de contratação para cargos administrativos ou acadêmicos em universidades católicas deveria pedir aos candidatos que discutam e critiquem o livro de Faggioli. Se o candidato não puder fazê-lo ou não conhecer o livro, continue procurando. Líderes na educação superior católica precisam reconhecer que a identidade católica não limitará sua liberdade acadêmica. Pelo contrário, pode ser justamente o que salvará essas maravilhosas instituições de educação católica.
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O livro de Faggioli desafia a educação superior católica. Artigo de Michael Sean Winters - Instituto Humanitas Unisinos - IHU