18 Dezembro 2024
Uma pesquisa qualitativa entrevistou batizados engajados em uma comunidade pastoral de três paróquias com 21 mil habitantes, onde há apenas um pároco desde 2008. Os resultados mostraram gratidão pelo envolvimento, mas também nostalgia por uma vida de fé mais acompanhada e resistência às transformações.
O release é de Rolando Covi, publicado por Settimana News, 13-12-2024.
"Haverá ainda padres?" A pergunta é frequentemente silenciada, por temor da resposta. Como enfrentá-la? Como avaliar as mudanças implementadas nos últimos 20 anos no norte da Itália (como, por exemplo, as diferentes formas de colaborações/comunidades/unidades pastorais)? E como acolher com delicadeza os abandonos do ministério ativo que surgem do esforço de habitar um sistema insustentável? Por fim, como acompanhar as comunidades cristãs neste momento difícil de transição, em que o padre já não pode garantir o modelo de proximidade ao qual estávamos acostumados? É realmente possível pensar em uma transformação ou isso arrisca colocar em crise a presença da Igreja em um território?
A essas e outras perguntas, Don Paolo Brambilla e Don Martino Mortola escolheram não se esquivar, muito pelo contrário: enfrentaram-nas com paixão, competência e rigor. Ambos professores de teologia sistemática na Seção Paralela do Seminário de Milão, compartilham a vida com os seminaristas e a amizade com outros confrades. São dois olhares que se aprofundaram sobre o futuro e trouxeram uma contribuição reflexiva para aqueles chamados a decisões nada óbvias.
O livro nasce, portanto, desse entrelaçamento de perspectivas: reflexão teológica, escuta da vida e uma visão de futuro marcada pelo Evangelho.
O estudo começa com um olhar concreto sobre a realidade, mas os dados estão a serviço de uma interpretação teológica, o que já representa um grande avanço.
O cardeal Repole comentou durante a apresentação do livro em Turim: “Não é incomum encontrar textos na Itália que abordem o fenômeno da Igreja com base em dados. No entanto, é raro encontrar estudos que reflitam sobre o fenômeno da Igreja com uma abordagem epistemológica convincente. Este livro oferece um olhar interpretativo que respeita a singularidade do fenômeno investigado”.
Comparando com outras igrejas no mundo, o problema não é o número de padres em relação aos batizados, mas a mudança de perspectiva: haverá menos padres do que estávamos acostumados. Isso se soma ao declínio demográfico e à diminuição da prática religiosa.
Em Milão, as projeções mostram que, de 1998 até hoje, o número de padres caiu de 2.200 para menos de 1.700, e até 2040 espera-se que sejam cerca de 1.050, ou menos. Além disso, os padres com menos de 40 anos diminuíram 56%.
Uma pesquisa qualitativa entrevistou batizados engajados em uma comunidade pastoral de três paróquias com 21 mil habitantes, onde há apenas um pároco desde 2008. Os resultados mostraram gratidão pelo envolvimento, mas também nostalgia por uma vida de fé mais acompanhada e resistência às transformações.
O problema principal da ausência de padres não é organizacional, mas espiritual e teológico: falta um acompanhamento nesse sentido. Dois desejos emergem: que os padres tenham mais tempo para as pessoas, delegando funções administrativas, e que fortaleçam as relações pessoais, consideradas “a” pastoral.
A pesquisa destaca que muitos padres se sentem sobrecarregados, com agendas cheias e demandas constantes. Há frustração por realizar tarefas percebidas como pouco úteis ou desproporcionais. Ao mesmo tempo, há gratidão pela fé das comunidades, que sustenta a dos próprios padres.
Sugere-se que, quando possível, um pároco tenha apenas uma paróquia, mesmo que grande e formada pela união de várias comunidades, para garantir centralidade eucarística e sentido de comunidade. Já para comunidades que não puderem contar com um pároco, busca-se alternativas que respeitem sua autonomia ou incentivem sua incorporação a outras paróquias.
O discernimento sinodal e a corresponsabilidade dos batizados são apontados como caminhos essenciais para garantir a missão da Igreja em tempos de transição.
O texto encerra com boas práticas e reflexões que buscam unir reforma estrutural e espiritual, promovendo uma Igreja que, mesmo menor, seja sinal do Evangelho. A beleza do ministério sacerdotal, conclui o cardeal Repole, está na gratuidade de uma vida doada sem exigências, como testemunho do amor de Cristo.
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Haverá ainda padres? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU