16 Dezembro 2024
Assim como as COPs, do Clima e da Biodiversidade, e o tratado contra a poluição plástica, a conferência contra a desertificação também não entrega nada.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 16-12-2024.
Primeiro foi a COP16 de Biodiversidade, em Cali, na Colômbia, que terminou sem um documento por falta de quórum. Semanas depois, a COP29 do Clima, em Baku, no Azerbaijão, foi encerrada a fórceps, com um acordo “meia-boca” sobre financiamento que revoltou os países em desenvolvimento e jogou uma “bomba” no colo do Brasil para a COP30. Mais alguns dias depois e a 5ª sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC-5), em Busan, na Coreia do Sul, também fracassou em apresentar o tão esperado tratado global contra a poluição por plásticos.
Com um 2024 até então frustrante para as negociações multilaterais sobre clima e meio ambiente, a COP16 de combate à desertificação, em Riad, na Arábia Saudita, era o último sopro de esperança no ano. Mas a conferência terminou no sábado (14/12), um dia após o fim oficial, sem um acordo entre os negociadores. Confirma-se, assim, a máxima do Barão de Itararé que diz que “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo”.
“As partes precisam de mais tempo para chegar a um acordo sobre o melhor caminho a seguir”, disse Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), que reúne 196 países, em seu discurso de encerramento da conferência. Um comunicado de imprensa declarou que as partes tinham “feito progressos significativos na preparação das bases para um futuro regime global de seca, que pretendem concluir na COP17 na Mongólia em 2026”, destaca a Al Jazeera.
As nações acharam por bem não fechar um acordo e esperar mais dois anos para isso. No entanto, estudos divulgados durante a COP de Riad chamaram a atenção para a urgência do tema e de soluções. Mas os dados e a realidade, sobretudo dos países africanos, não foram suficientes.
O relatório “Economia da seca: investir em soluções baseadas na natureza para a resiliência diante das secas”, da ONU, mostrou que as secas custam quase € 300 bilhões por ano em todo o mundo. Exacerbadas pelas mudanças climáticas e pela gestão insustentável dos recursos hídricos e dos solos, as estiagens devem afetar 75% da população mundial até 2050.
Para restaurar mais de 1 bilhão de hectares de terras degradadas no mundo e aumentar a resistência à seca são necessários US$ 2,6 trilhões em investimentos até 2030, destaca o documento. Ou seja, o mundo precisa de US$ 1 bilhão por dia para combater a desertificação, a degradação da terra e a seca entre 2025 e 2030.
Em outro estudo – “A ameaça global da seca das terras: tendências regionais e globais de aridez e projeções futuras” –, a ONU aponta que 78% das terras do planeta provavelmente se tornaram permanentemente mais secas nas três décadas que antecederam 2020, em comparação com o período anterior de 30 anos (1961-1990). As terras secas agora representam 40% de toda a superfície terrestre do planeta, excluindo a Antártica.
Em tempo: A Folha mostra o drama do Povo Indígena Tuxá, do norte da Bahia, ameaçado pela desertificação. O clima na região onde vivem está se tornando árido, devido às temperaturas cada vez mais quentes e à chuva escassa. O cultivo de alimentos só é possível com irrigação. O rio São Francisco não varia de profundidade, pois foi represado para a construção de um complexo de hidrelétricas. Os Tuxá, que antes plantavam amendoim, coco, manga, mandioca, batata, feijão e arroz na Ilha da Viúva – submersa pela água do reservatório da hidrelétrica Luiz Gonzaga, em operação desde 1987 –, reivindicam agora uma terra em risco de desertificação, chamada de Surubabel, ao lado das fazendas de alguns dos maiores produtores de coco da Bahia.
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Mais um fracasso: COP16 de combate à desertificação termina sem acordo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU