11 Dezembro 2024
A organização terrorista fundamentalista foi amplamente derrotada no país, mas ainda é um perigo latente. Células do grupo presentes na região ainda podem tentar se aproveitar do vácuo de pode.
A reportagem é de Kersten Knipp, publicada por DW, 10-12-2024.
Embora já amplamente derrotada na Síria, a organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) ainda representa uma ameaça a um futuro pacífico para o país. Pelo menos essa é a opinião do governo Biden, que, por isso, ordenou ataques maciços contra os jihadistas. A seriedade da ameaça já é indicada pelo arsenal de aeronaves utilizadas. Bombardeiros B-52 pesados participaram dos ataques no centro do país, assim como os caças F-15 e A-10 Thunderbolt.
Os ataques contra líderes, combatentes e acampamentos do EI no centro do país foram parte de uma missão contínua para enfraquecer e derrotar o EI, anunciou o Comando Central dos EUA, na plataforma de mensagens curtas X. "Dezenas" de ataques foram realizados.
"Não deve haver dúvidas – não permitiremos que o EI se reagrupe e tire proveito da atual situação na Síria", acrescenta o texto no X, citando o general Michael Erik Kurilla. "Todas as organizações na Síria devem saber que nós as responsabilizaremos se colaborarem com o EI ou o apoiarem de alguma forma."
"Ajudaremos a garantir a estabilidade no leste da Síria, protegendo todo o pessoal – nosso pessoal – de quaisquer ameaças e mantendo nossa missão contra o EI, incluindo a segurança dos centros de detenção onde os combatentes do EI estão presos", disse no domingo o presidente dos EUA, Joe Biden.
O "Estado Islâmico" nunca desapareceu completamente na Síria, embora tenha sido amplamente derrotado, segundo o especialista em Oriente Médio e consultor político Carsten Wieland. "Mas ainda existem várias células no centro e no leste da Síria, inclusive células adormecidas. E elas ainda representam uma ameaça. E o perigo é sempre particularmente grande quando há um vácuo de poder, como é o caso atualmente. Na opinião dele, os EUA agiram corretamente. "Agora é importante estabilizar as forças que tomaram o poder na Síria da forma mais pacífica possível e não sobrecarregá-las com uma frente adicional na forma do EI", ressalta.
Fundado no Iraque no contexto da intervenção dos EUA em 2003, o "Estado Islâmico" também se espalhou para a Síria em 2012, durante o tumulto da revolta. Lá, a organização se autodenominou Jabhat al-Nusra ou Frente Al-Nusra ("Frente de Apoio”). Ela era comandada por Abu Mohammed al-Jolani – o mesmo homem que agora dirige a milícia Organização pela Libertação do Levante (Hajat Tahrir al-Sham ou HTS), cujo avanço levou à queda do ditador Bashar al-Assad. Ideologicamente, al-Jolani foi se distanciando cada vez mais do EI iraquiano. Nos anos seguintes, a rivalidade entre os dois grupos tornou-se cada vez mais acirrada.
Enfraquecido pelos anos de revoltas, O Exército sírio não conseguiu fazer muito contra o EI. Muitos soldados perderam suas vidas em batalhas e emboscadas. Entretanto, a partir de 2015, o "Estado Islâmico" e a Frente Al-Nusra enfrentaram uma crescente pressão militar dos EUA. O EI ficou cada vez mais enfraquecido. Em 2019, foi amplamente forçado a abrir mão de seu domínio. No entanto, alguns dos chamados "califas", os comandantes militares e espirituais supremos do EI, conseguiram se manter. Mas os EUA conseguiram eliminá-los várias vezes. Muitos membros do EI foram detidos no nordeste da Síria e ainda podem ser encontrados na região até hoje.
Apesar disso, algumas células e campos do EI sobreviveram, principalmente no deserto de Badia, na região da fronteira entre a Síria e o Iraque. "As milícias do EI realizaram repetidamente ataques em pequena escala", diz Carsten Wieland. Esses ataques foram direcionados especialmente contra a população civil rural e, principalmente, contra as pessoas que buscavam as trufas que cresciam ali. "Em alguns casos, várias dezenas de pessoas foram mortas", lembra Wieland. Outros membros estão em atuam de forma velada, aguardando possíveis ordens de mobilização. Como o EI é amplamente organizado em uma base descentralizada, é quase impossível desbaratá-lo de uma vez por todas.
É verdade que o EI é atualmente considerado incapaz de se espalhar amplamente ou mesmo de restabelecer seu antigo território. Porém, após a queda de Assad e a mudança política na Síria, ele poderia tentar aumentar sua influência. É exatamente por isso que o grupo, conhecido por sua brutalidade, está sendo combatido com tanta determinação.
"É bastante possível que Mohammed al-Jolani tenha de fato renunciado à ideologia do EI", diz Carsten Wieland. "O grupo fez arranjos e acordos com vários outros atores locais. Isso me dá alguma esperança de que ocorra algo construtivo daqui para frente. Também é notável que não tenha havido grandes massacres ou campanhas de vingança. Sob a ideologia do EI, provavelmente teria ocorrido algo completamente diferente nos últimos dias."
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A ameaça do "Estado Islâmico" para o futuro da Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU