28 Novembro 2024
A reportagem é de Jordi Pacheco, publicada por Religión Digital, 27-11-2024.
No último dia 13 de novembro, o jornal The Guardian surpreendeu o mundo com sua decisão de parar de publicar conteúdos na plataforma X (anteriormente Twitter), após considerar que os benefícios de permanecer na rede pertencente ao magnata Elon Musk haviam sido superados pelos aspectos negativos.
“É algo que temos considerado há algum tempo, dado o conteúdo frequentemente perturbador que é promovido ou encontrado na plataforma, incluindo teorias da conspiração de extrema direita e racismo”, justificaram os responsáveis pelo portal. A decisão veio uma semana após as eleições nos Estados Unidos, nas quais Donald Trump saiu vencedor graças a uma campanha que, segundo o The Guardian, evidenciou a “toxicidade” do X como plataforma midiática.
No dia seguinte, outros meios, entidades e empresas de todo o mundo seguiram os passos do prestigioso meio inglês e também optaram por deixar de publicar conteúdos no X. Na Catalunha, meios de comunicação de alcance geral, como La Vanguardia, o portal de comunicação religiosa Catalunya Religió, bem como o Institut Ramon Llull e a Universidade de Barcelona, fizeram o mesmo.
No entanto, em meio ao debate sobre se é melhor permanecer ou sair do X, a maioria das pessoas e instituições optou, por enquanto, por manter sua presença nessa plataforma criada em 2006 nos Estados Unidos por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams e que, de acordo com os dados mais recentes de 2024, alcançou a marca de 450 milhões de usuários ativos por mês.
Muitas pessoas que permaneceram no X já abriram contas no Bluesky, uma plataforma de código aberto semelhante ao Twitter e que, de fato, foi criada em 2021 pelo próprio Dorsey com o objetivo de explorar novas formas de redes sociais mais transparentes e menos suscetíveis a manipulações.
“Eu abri uma conta no Bluesky, mas não penso em sair do X. Reconheço que este espaço se tornou muito mais tóxico, mas sair seria como abandonar uma batalha e me dar por vencida”, explica à Flama a conhecida missionária digital Xiskya Valladares, que deseja verificar se é verdade que a nova plataforma da borboleta será “como o Twitter dos primórdios, mais veraz e humano”.
Com mais de 77 mil seguidores no X, a religiosa da Pureza de Maria admite que, desde que a rede foi adquirida por Elon Musk, suas publicações alcançam menos pessoas. “Meu crescimento estagnou nesta rede, embora eu tenha uma assinatura premium”, aponta.
Outro evangelizador digital que deve muito ao X é o padre e jornalista Fernando Cordero. Ao contrário de Valladares, o criador do programa Cruzando Fronteras confessa que a crise na rede de Elon Musk não afetou, por ora, o conteúdo de suas publicações, que, por outro lado, estão longe de polêmicas ou polarizações.
“É certo que o X tem muitas deficiências e é uma das redes sociais mais manipuláveis, a ponto de ser incômoda. No entanto, se você está no mundo da informação, acredito que deve permanecer, porque é o lugar onde a notícia e o jornalismo estão mais presentes”, aponta o também religioso dos Sagrados Corações.
A série de pessoas e meios de comunicação de diversos tipos que, nas últimas semanas, anunciaram em alto e bom tom que deixariam o X não passou despercebida para a dominicana da Apresentação Gemma Morató. “É uma decisão clara, contundente e que deve ser respeitada”, observa a também professora da Faculdade de Comunicação de Blanquerna.
Morató admite que tudo o que se diz sobre o X frequentemente lhe provoca “angústia e repulsa”, mas duvida se, fora da rede, será possível enfrentar “todo esse mundo distorcido da pós-verdade”. “A rede X reflete, de certo modo, o que vivemos como sociedade, uma grande polarização que muitas vezes assusta. A tristeza é não encontrar uma forma, de dentro, de combatê-la e apresentar alternativas de diálogo e pensamentos diversos”, manifesta a dominicana.
Apesar da tendência polarizadora e do crescente nível de toxicidade no X, os especialistas consultados pela Flama sustentam que ainda é uma plataforma válida para evangelizadores digitais, já que, como afirma o decano da Faculdade de Comunicação da Santa Croce, o catalão Daniel Arasa, “a evangelização não tem limites”.
“X, embora tenha perdido incisividade, ainda é uma plataforma possível de evangelizar. O problema é que, geralmente, as plataformas digitais não buscam nem promovem um verdadeiro diálogo, mas sim conduzem a falar (ou gritar) sem ouvir. Seguramente, a entrada de uma figura como Musk acentuou no X essa tendência”, argumenta Arasa.
Nesse sentido, Fernando Cordero lembra que cada uma das redes, além do X, tem por trás empresas e interesses comunicativos diversos. “A rede que estiver livre de problemas, ‘que atire a primeira pedra’”, adverte o jornalista, que garante que permanecer no X, mesmo em momentos adversos, pode ser também “um ato de resistência” e uma “oportunidade de aportar um grão de serenidade, contraste e valores evangélicos”.
Cordero e Valladares continuarão, portanto, difundindo seus conteúdos no X, uma decisão que consideram coerente com o evangelho de Jesus. “Não devemos ser covardes e fugir do X, mas devemos ter a coragem de continuar para tentar melhorar isso. Das redes atuais, talvez o X seja a mais marginal e periférica, superpovoada e violenta; e o cristão é chamado desde sempre a ir a essas periferias”, conclui Valladares.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"Não devemos fugir, mas resistir": influenciadores católicos defendem sua presença no 'X' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU