27 Novembro 2024
Ribeirinhos testemunham morte de 15 a 20 toneladas de diferentes espécies de peixes, além de jacarés e tartarugas, num cenário de seca extrema e prolongada.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 27-11-2024.
Santarém, no oeste do Pará, vive uma grave crise ambiental e de saúde pública por causa da fumaça dos incêndios florestais que atingem a região – ao ponto de decretar emergência e pedir ajuda do governo federal. Mas, além das chamas, a cidade sofre os efeitos da seca extrema e prolongada que atinge a Amazônia pelo segundo ano consecutivo.
O resultado é uma impressionante mortandade de animais subaquáticos, entre peixes, tartarugas, jacarés e arraias. O desastre em comunidades que ficam na margem do rio Amazonas, o principal do bioma amazônico, vitimou entre 15 e 20 toneladas de peixe somente na região do Igarapé do Costa, em Santarém, segundo os pescadores da comunidade.
A Folha esteve na comunidade na 6ª feira (22/11) e testemunhou a tragédia ambiental em curso, que ocorre em meio a uma estiagem ainda longe do fim no oeste do Pará, com consequente sumiço de lagos e igarapés conectados aos rios Amazonas e Tapajós. No horizonte, uma densa fumaça oriunda de queimadas na floresta cobre Santarém, outras cidades e comunidades.
No Igarapé do Costa não há mais lago, e o próprio igarapé virou um filete de água. O mesmo ocorreu com outros dois importantes cursos d’água, fundamentais para a subsistência de cerca de 500 famílias de sete comunidades: o igarapé do Pitomba e o canal de Aramanaí.
Pescadores faziam uma corrida contra o tempo para pescar animais ainda vivos no igarapé, como pirarucus. Dias antes, eles arrastaram toneladas de peixes mortos e dispuseram essa matéria orgânica em diversos montes na margem, para atear fogo em seguida. As carcaças permaneciam no lugar.
“Em 33 anos de vida eu nunca vi isso. Foi este ano que deu essa mortandade. Os antigos nunca relataram algo do tipo”, afirma Erick Penna Ribeiro, presidente da associação de moradores do Igarapé do Costa. Ele nasceu na comunidade, onde sempre viveu. A pesca é a principal atividade econômica na região.
Em tempo 1: O Ministério Público Federal (MPF) recomendou a órgãos públicos federais, estaduais e municipais a adoção de medidas urgentes de divulgação e redução dos impactos da poluição do ar em Santarém, informa O Liberal. No domingo (24/11), a poluição do ar no município foi 42,8 vezes superior à diretriz anual de qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS). A recomendação aponta a necessidade de implementar medidas imediatas para a divulgação da qualidade do ar e para a proteção da saúde da população, especialmente os grupos mais vulneráveis. O MPF destaca que há mais de três semanas Santarém tem sido afetada por uma densa fumaça proveniente de queimadas de diversas partes da Amazônia, resultando na piora significativa da qualidade do ar.
Em tempo 2: A intensificação de eventos atmosféricos ligados aos ventos extremos causados pelas mudanças climáticas tem derrubado grandes árvores na Amazônia e afetado diretamente a estrutura, a composição e o balanço de carbono das florestas, segundo estudo publicado na revista American Geophysical Union (AGU). O “microburst”, ou microexplosão atmosférica, ocorre quando uma corrente de vento descendente violenta se separa de uma nuvem de tempestade e se desloca com força em direção ao solo, explica O Globo. Também conhecido como “downburst“, é o oposto do tornado, mas com poder destrutivo semelhante. Segundo o estudo, as microexplosões têm sido cada vez mais comuns na Amazônia. Ao longo de 33 anos, foram detectados mais de 3 mil grandes eventos de derrubada de árvores causados pelo vento. E o número de árvores arrancadas pelo vento aumentou quase quatro vezes entre 1985 e 2020, com registro maior de eventos a partir do ano de 1990.
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Sob emergência por fumaça de queimadas, Santarém sofre com mortandade de peixes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU