25 Novembro 2024
A reportagem é de Agência Eclesia, publicada por Religión Digital, 24-11-2024.
O teólogo e ensaísta tcheco Tomás Halík declarou à Agência ECCLESIA que a sinodalidade é absolutamente decisiva para o futuro da Igreja, apontando a necessidade de uma abordagem ecumênica aos desafios do cristianismo.
"A sinodalidade é o mais importante, porque deve ser a forma da Igreja. O Papa Francisco disse que a sinodalidade é uma nova forma de ser cristão, é uma nova forma de ser Igreja no nosso mundo”, disse o sacerdote, que apresenta seu novo livro, intitulado O sonho de uma nova manhã: cartas ao Papa (Paulinas, 2024).
Halík ressalta que, em um mundo marcado pela desconfiança nas instituições, “as pessoas precisam de alguém que as acompanhe com respeito, que as ouça, e não apenas que tenha todas as boas respostas para todas as suas perguntas”. E que “neste acompanhamento das pessoas, a Igreja do futuro deve ser a Igreja que acompanha”, afirma. “Devemos ser uma Igreja sinodal, ou seja, uma Igreja mais católica em um sentido universal, ecumênica, aberta, acolhedora, integradora e, portanto, verdadeiramente mãe e irmã”.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão ocorreu de 2 a 27 de outubro, com o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão”, começou com a consulta de milhões de pessoas pelas comunidades católicas em 2021. A primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo ocorreu em outubro de 2023. Francisco promulgou o documento final e o enviou às comunidades católicas, sem publicar uma exortação pós-sinodal, possibilidade prevista na constituição apostólica Episcopalis communio (2018).
Para Tomás Halík, o próximo passo no caminho sinodal poderia ser um “sínodo ecumênico de teólogos”. “O aniversário do Primeiro Concílio Ecumênico [Niceia, 325] no próximo ano é uma boa oportunidade para convocar este primeiro sínodo teológico, o sínodo ecumênico”, diz ele. O teólogo tcheco elogia o método das mesas redondas do Sínodo, que inclui momentos de escuta e oração mútua. “Acho que seria um grande evento, um Sínodo de teólogos, mas ecumênico”, observa.
“O sonho de uma nova manhã” é composto por uma série de 12 cartas a um Papa imaginário, Rafael, sobre os desafios futuros que a Igreja enfrenta. “Em primeiro lugar, a Igreja precisa de descentralização, porque muitas coisas dependem da cultura”, diz Halík. Questionado sobre a ordenação sacerdotal de homens casados, o entrevistado lembra que há “muitos padres casados” na Igreja Católica, nos ritos orientais. "Não há problema nisso. Talvez haja, mas tem que haver uma reforma da educação, da formação dos sacerdotes”, ressalta, assumindo que “haverá novos problemas”.
“Acredito que no futuro teremos padres casados e celibatários na Igreja. É possível que os celibatários voltem às suas origens, que eram comunidades monásticas, e isso faz sentido, mas para alguns párocos pode ser mais conveniente que tenham famílias próprias. Veremos”. Sobre a situação das mulheres, o ensaísta ressalta que “depende ainda mais da cultura, do reconhecimento de sua dignidade”.
“Acredito que no futuro haverá muito mais lugares, posições e possibilidades para as mulheres na Igreja”, diz ele. O padre Tomás Halík acredita que a Igreja Católica deve ser o “povo da esperança”, com a “coragem de entrar na nuvem do mistério”.
“Às vezes temos que conviver com algumas questões em aberto e não precisamos de otimismo como ilusão de que tudo vai ficar bem, mas de paciência e força para suportar a situação difícil”, afirma. O teólogo e ensaísta tcheco Tomás Halík defende também que a Igreja deve rejeitar o triunfalismo e a exploração política dos movimentos extremistas, buscando uma maior “abertura” de estruturas e mentalidades.
"Não podemos empurrar as pessoas para as estruturas existentes da Igreja, as estruturas institucionais, as estruturas mentais. Devemos abrir mais essas estruturas, abrir a nossa mentalidade e acompanhá-las”, afirma o sacerdote, que apresenta seu novo livro, O sonho de uma nova manhã: cartas ao Papa (Ed. Paulinas).
O entrevistado ressalta que a Igreja deve “ser verdadeiramente uma Igreja universal” e que, portanto, os católicos têm a liberdade de escolher seus partidos políticos. “Existem alguns partidos extremistas, de esquerda e de direita, cujo programa não é compatível com os valores fundamentais do cristianismo”, acrescenta. Tomás Halík aponta para o diálogo com aqueles que, apesar de não terem filiação religiosa, são “buscadores”.
"É muito importante. Não acredito que tenhamos feito o suficiente nesse sentido”, alerta. “Há também muitas pessoas que foram criadas como católicas, mas que abandonaram a Igreja porque não encontraram as verdadeiras respostas às suas questões existenciais”. O teólogo tcheco afirma que “a força interior da religião é a espiritualidade”.
“Focamos demais nas estruturas institucionais, nos rituais, mas também nas questões morais”, salienta. Para o sacerdote, a Igreja deve buscar respostas “flexíveis e criativas”, que indiquem um novo “estilo pastoral”. O sonho de uma nova manhã, publicado na Espanha com o título Sobre o reino dos sonhos (Herder), é composta por uma série de 12 cartas a um pontífice imaginário, Rafael, sobre os desafios futuros que a Igreja enfrenta, incluindo uma nova forma de ver o serviço do Papa.
“João Paulo II ofereceu um diálogo com as Igrejas não católicas sobre o papel do sucessor de Pedro como bispo que constrói pontes entre as igrejas. Este é o papel dele e acredito que muito já foi feito, mas ainda há muito por fazer”, explica Tomás Halík. “Acho que este seria o objetivo do papado no futuro, construir pontes”, acrescenta. Elogiando o pontificado de Francisco, o autor espera que seu sucessor “continue na mesma direção, sensível aos sinais dos tempos”.
“Espero que o próximo Papa seja o homem que tenha a coragem de fazer algumas mudanças, mas também com fidelidade ao que é realmente fundamental para os cristãos”, conclui.
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Tomás Halik: “O próximo passo no caminho sinodal poderia ser um sínodo ecumênico de teólogos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU