21 Novembro 2024
"Em alguns países europeus de maioria católica (como Irlanda, França, Espanha, Itália e Polônia), existiriam - segundo alguns meios de comunicação - bispos acusados de terem 'tolerado' padres pedófilos que ainda lideram suas dioceses: para 'defender a honra da Igreja', esses prelados são deixados em seus lugares", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 18-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A renúncia do arcebispo anglicano de Canterbury, Justin Welby, acusado de não ter sido vigilante o suficiente para defender os garotos daquela Igreja dos predadores sexuais, se tornará uma “práxis” para os líderes de todas as comunidades cristãs culpadas da mesma “distração”? A inquietante pergunta surge depois do que acabou de acontecer na Inglaterra. Lá, de fato, Justin Welby, 68 anos, primaz da Comunhão Anglicana (que reúne cerca de oitenta milhões de fiéis em todo o mundo) e, desde 2013, arcebispo da igreja-mãe do anglicanismo, renunciou ao seu alto cargo, reconhecendo que não interveio a tempo para deter um violentador sexual em série, como John Smyth. Este era um advogado responsável por colônias de férias e recreação para meninos, de propriedade da Igreja Anglicana.
Um relatório da polícia afirmava que há décadas ele vinha praticando violência sexuais contra menores nesses campos. E, de acordo com uma investigação independente, Welby estava ciente da situação, mas não interveio. O arcebispo, por outro lado, alegou que só tomou conhecimento desses fatos no ano passado: no entanto, ele admitiu que não fez nada, considerando que a polícia teria intervindo para esclarecer completamente o caso.
Mas, embora Smyth tenha morrido em 2018, a agência independente continuou sua investigação e teria demonstrado que Welby sabia de tudo há pelo menos um ano. Por que ele permaneceu em silêncio? Nesse meio tempo, assinaturas estavam sendo coletadas na Inglaterra - uma iniciativa também apoiada por uma bispa anglicana - para pedir a renúncia de Welby: ele hesitou no início, mas depois percebeu que o bem de sua Igreja exigia tal gesto; ao renunciar, em 12 de novembro, admitiu “a conspiração do silêncio em torno dos hediondos abusos de John Smyth” e, portanto, considerando necessário “assumir a consequente responsabilidade pessoal e institucional”. Welby, muito famoso na Grã-Bretanha, também era bem conhecido no mundo ecumênico; ele esteve várias vezes em audiência com o Papa Francisco, que o quis com ele em sua viagem ao Sudão do Sul no ano passado. Tudo isso não foi suficiente para salvá-lo, pois em Londres se considera “intolerável” que um arcebispo de Canterbury tenha de fato tolerado um abusador em série (a imprensa britânica acredita que Smyth tenha violentado centenas de menores).
Situações distantes da Igreja Romana, ou não instrutivas para ela também? Em alguns países europeus de maioria católica (como Irlanda, França, Espanha, Itália e Polônia), existiriam - segundo alguns meios de comunicação - bispos acusados de terem “tolerado” padres pedófilos que ainda lideram suas dioceses: para “defender a honra da Igreja”, esses prelados são deixados em seus lugares. O Cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, na primeira sessão do Sínodo Italiano (que terminou ontem) expressou “vergonha e remorso” pelos casos de pedofilia do clero acontecidos na Itália.
Mas, até o momento, não se fala na criação de uma comissão realmente independente para investigar essa imunda praga nos últimos cinquenta anos.
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A renúncia do primaz Justin Welby. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU