Não mais de cinco igrejas protestantes apoiam o regime opressor que o presidente Daniel Ortega e a vice-presidente, Rosario Murillo, sua mulher, impõem na Nicarágua, contabiliza a advogada Martha Molina, que estudou os ataques de Ortega ao cristianismo desde o seu exílio nos Estados Unidos. Uma das denominações pró-governo é a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), informa jornal protestante da Suíça.

A reportagem é de Edelberto Behs.

“Mesmo que apoiem Ortega, nada garante a proteção dos pastores”, alerta o coordenador de documentação e monitoramento da ONG Nicarágua Nunca Más, Yader Valdivia. Acusados de peculato, 13 membros da Igreja Mountain Gateway, fundada em 2013 por um casal estadunidense, foram presos no fim do ano passado, incomunicáveis, libertados em setembro junto com presos políticos.

Até mesmo nicaraguenses exilados ou autoexilados sofrem perseguição. O pastor Francisco Alvicio, membro do povo indígena Miskito e da Igreja Morávia, foi perseguido e esfaqueado por três homens perto de sua casa em San José, Costa Rica. Em setembro Alvicio esteve em Genebra onde denunciou a repressão religiosa na Nicarágua em reunião sobre Direitos Humanos, relata o repórter brasileiro Eduardo Campos Lima para o jornal suíço.

Também a Igreja Morava, estabelecida no país desde 1849, foi parcialmente cassada por Ortega. Desde 2019, o regime opressor da Nicarágua vinha promovendo cisões na Igreja Morava. “Acreditamos que o governo está pagando certos líderes para encorajar rupturas” na igreja, disse o pastor Salomon Martinez, também exilado na Costa Rica. As fundações mantidas pela igreja estão fechadas, outros departamentos inteiros estão sob o controle da facção próxima ao governo.

O analista político Eliseo Núñez, outro exilado na Costa Rica, avalia que a vice-presidente Rosario Murillo tem certo desejo de exercer uma espécie de mediação espiritual entre o povo e Deus. “Ela tem uma espiritualidade baseada na Nova Era, além de ser seguidora do guru indiano Sai Baba. Ela acredita que a evolução humana atingirá um nível que permitirá o surgimento de uma religião universal”, e que a Nicarágua será o centro do processo, diz Eliseo.

Todos os dias, Rosario Murillo grava programas de rádio nos quais mistura comentários políticos com trechos do Evangelho e do missal católico.

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