29 Setembro 2024
"O Nazareno revoluciona as hierarquias e os critérios de julgamento das nossas posturas de vida: nossos juízes serão "os pequeninos que acreditam" e nossa própria consciência: "se alguém escandalizar um destes pequeninos, seria melhor que fosse jogado ao mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço!" (42, 43)", escreve Chico Alencar, professor, escritor e deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar o Evangelho de hoje, lido em milhares de comunidades de fé pelo mundo.
Segundo ele, "a canção de Chico César é uma bela forma de oração: "Deus me proteja de mim/ e da maldade de gente boa/ da bondade da pessoa ruim/ Deus me governe e guarde/ ilumine e zele assim...".
Eis o comentário.
Somos acolhida e ruptura, encontros e despedidas, amor e ódio (ou indiferença, às vezes até pior que a raiva, por "sutil", enganosa e continuada).
Somos guerras (mais de 30 hoje!) e urgência de paz. É isso que Jesus explica aos seus discípulos, no Evangelho de Marcos (9, 38-43, 45-48), lido em milhares de comunidades de fé pelo mundo, neste domingo.
Essa dualidade não é condição humana irrevogável, como se estivéssemos condenados a ser permanente contradição. Não! O Mestre propõe que travemos o bom combate interior, a fim de que o Bem prevaleça sobre o Mal, em nós e na sociedade.
Cristo opõe atos de generosidade, mesmo o de dar um simples copo d'água, ao egoísmo, nosso pecado original, que cria a aridez cotidiana, a aspereza, o mau humor.
Jesus lembra que somos seres encarnados, e nossa mão pode se prestar a afagar ou roubar e agredir. Nossos pés podem servir para caminhar ou chutar e esmagar. Nossos olhos para olhar a beleza que nos é oferecida ou para a cobiça, a posse, apropriação indébita do que é comum.
Jesus é radical diante de quem opera o Mal (até em seu nome!!!): melhor cortar mão, pé ou ficar cego que usar o corpo para produzir ruindade e explorar ou subjugar outros corpos, negando sua vocação para o Justo, o Belo e o Bom - como tantos, daquele tempo e da atualidade.
O Nazareno revoluciona as hierarquias e os critérios de julgamento das nossas posturas de vida: nossos juízes serão "os pequeninos que acreditam" e nossa própria consciência: "se alguém escandalizar um destes pequeninos, seria melhor que fosse jogado ao mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço!" (42, 43).
Sal e vida insípidas não prestam pra nada... O desafio é fazer prevalecer em nós (e no mundo) o saber, o sabor, o "estar em paz uns com os outros". O Amor!
Temos sido "pedra de tropeço" ou angular , de construção, para os nossos semelhantes?
Peçamos que as virtudes prevaleçam sobre os vícios em nós! A canção de Chico César é uma bela forma de oração: "Deus me proteja de mim/ e da maldade de gente boa/ da bondade da pessoa ruim/ Deus me governe e guarde/ ilumine e zele assim...".
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