08 Julho 2024
No final, chegou a excomunhão: o caso Carlo Maria Viganò chegou ao fim, pelo menos por enquanto, com a previsível condenação pelo Dicastério para a Doutrina da Fé do irrequieto arcebispo, fundamentalista ferrenho, que de fato já havia se colocado fora da Igreja Católica há tempo com suas afirmações.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicado por Domani, 06-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Aliás, ele mesmo havia divulgado em 20 de junho último o procedimento ao qual estava sendo submetido pelo ex Santo Ofício, e já naquela ocasião informava que não iria ao Vaticano, onde havia sido convocado em 28 de junho para se defender das acusações feitas contra ele: "Não tenho nenhuma intenção de me submeter a um julgamento farsa no qual aqueles que deveriam me julgar imparcialmente por defender a ortodoxia católica são, ao mesmo tempo, aqueles que eu acuso de heresia, de traição e de abuso de poder". Nos últimos dias, além disso, o ex-núncio havia publicado uma acusação violenta (com o título não muito original de "J'accuse") contra o papa e a igreja que resultou do Concílio Vaticano II, que tinha ainda mais confirmado e agravado a sua posição.
Por isso, o dicastério liderado por um dos seguidores mais fiéis de Francisco, o cardeal argentino Victor Fernández, não teve outra escolha a não ser ir em frente: "Suas afirmações públicas são bem conhecidas", diz o comunicado divulgado pelo Vaticano, "das quais resulta sua recusa em reconhecer e se submeter ao sumo pontífice, à comunhão com os membros da Igreja sujeitos a ele e à legitimidade e autoridade magisterial do Concílio Ecumênico Vaticano II". No resultado do processo penal, D. Carlo Maria Viganò foi considerado culpado do crime reservado de cisma". Consequentemente, "o Dicastério declarou sua excomunhão latae sententiae", ou seja, imediata.
Por outro lado, Viganò havia despejado todo tipo de acusações contra a Santa Sé, desconsiderando completamente sua autoridade. Francisco, nos comunicados cada vez mais insanos do ex-núncio, tornou-se gradualmente um falso papa, usurpador, servo de Satanás, entre os responsáveis pelo "grande reset", ou seja, um complô das elites mundiais para subjugar traiçoeiramente o mundo aos seus interesses, cancelando a fé cristã, favorecendo as teorias sobre mudança climática, homossexualismo e vacinas contra o covid; sem mencionar a falsa igreja sinodal, aquela nascida do Concílio Vaticano II, uma operação liderada por personalidades laicas e eclesiais pertencentes à maçonaria. Estamos no viés - do ponto de vista do método - da clássica conspiração.
Mas por que dar importância a um personagem desse tipo, cuja curva descendente já havia começado há tempo, com uma providência de excomunhão? Apenas um excesso de zelo por parte do Cardeal Fernández? É mais provável que a Santa Sé tenha tentado lançar uma advertência ao mundo multifacetado e turbulento do tradicionalismo católico, que há tempo está à beira de declarações no limite do que é tolerável para ela. Desse ponto de vista, a operação de excomunhão alcançou seu objetivo ao obrigar também as facções mais intransigentes a se distanciarem das afirmações, em alguns casos, divagantes, do ex-diplomata do Vaticano.
Não só isso: até mesmo os bispos que, em um passado não tão distante, em 2018, deram seu apoio à campanha promovida por Viganò em que se pedia a renúncia do papa porque este supostamente teria encoberto os abusos de seminaristas cometido pelo cardeal estadunidense Theodore McCarrick foram advertidos. É um fato que até mesmo os lefebvrianos criticaram o ex-núncio, apontando: "Há um ponto que o diferencia significativamente do fundador da Fraternidade São Pio X: D. Viganò faz uma clara declaração de sedevacantismo em seu texto. Em outras palavras, de acordo com ele, o Papa Francisco não é papa e seu pontificado seria, portanto, o de um figurante. Nem o D. Lefebvre, nem a Fraternidade que ele fundou, concordaram em se aventurar nesse terreno".
Conceitos semelhantes foram expressos por vários expoentes do catolicismo tradicionalista que também se opõem a Bergoglio, como no caso de Roberto de Mattei, chefe da Fundação Lepanto, que escreveu sobre o assunto: "Há também aqueles que comparam o caso de D. Viganò ao do arcebispo francês D. Marcel Lefebvre. No entanto, a diferença entre os dois casos é evidente. D. Lefebvre jamais desconheceu a autoridade de Roma. Após a primeira condenação, em maio de 1975, da obra de Ecône pelo bispo de Friburgo, foi o próprio D. Lefebvre que pediu que, diante de tal abuso de poder, o seu caso fosse julgado pela Congregação para a Doutrina da Fé". Por fim, vários sites e blogs da mesma área alertam para a tomada de posições 'sedevacantistas' sem fundamento no mérito e, portanto, pouco críveis.
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Com a excomunhão de Viganò, o Papa Francisco neutraliza a frente tradicionalista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU