03 Julho 2024
No complicado tabuleiro de xadrez do Oriente Médio, onde domina agora o conflito entre o Hamas, o movimento de resistência islâmico, e Israel, surge um novo teatro de guerra, o Líbano, uma eventualidade preocupante para o Papa que, na semana passada, enviou ao país o Cardeal Pietro Parolin, seu Secretário de Estado.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L'Adige, 24-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um breve panorama histórico sobre essa ainda maior e terrível preocupação geopolítica nos faz compreender as razões para a perturbação do Vaticano. No Oriente Médio (e nos países ribeirinhos do Mediterrâneo) o Egito é o país onde os cristãos têm uma presença importante: lá, além das minorias latinas, armênias, melquitas e greco-ortodoxas, existe uma minoria muito antiga, a dos coptas, que são mais de dez milhões numa população majoritariamente muçulmana de cem milhões de habitantes.
Mas, no Líbano, com cinco milhões de habitantes, cerca da metade são muçulmanos, mas a outra metade são cristãos, ortodoxos em particular, e depois melquitas, sírios, armênios e maronitas. Estes últimos são a única comunidade católica que não tem a correspondente parte ortodoxa.
Nasceram no século V, quando as controvérsias cristológicas dividiam todos os grupos cristãos: entre eles, os maronitas ainda são hoje a maior comunidade no Líbano. Ora, desde que em 1941 libertou-se do poder francês, o país é governado por um “pacto nacional”, de base religiosa, que divide assim os mais altos cargos do Estado: presidente da República, maronita; primeiro-ministro, muçulmano sunita; presidente do parlamento, muçulmano xiita.
Pois bem, desde novembro de 2022, quando o então chefe de Estado renunciou, as rivalidades intracristãs, e intramuçulmanas, impediram a eleição do sucessor: uma grave anomalia que Parolin, em nome de Papa, calorosamente convidou a sanar.
Não é uma tarefa fácil dada a pressão do partido pró-iraniano, o Hezbollah, e daquelas da Síria e do Irã. Agora, além disso, em correspondência com a intensificação do conflito armado entre aquele partido e Israel, existe o risco de uma guerra aberta entre as duas partes. O cardeal alertou contra tal desventura, que causaria um desastre humanitário no Líbano e - pode-se notar - o êxodo de muitos cristãos, especialmente maronitas: assim a "Terra dos Cedros" se tornaria de maioria muçulmana.
“Hoje o Líbano deve continuar a ser um modelo de convivência e de unidade à luz das crises e guerras em curso", ressaltou o cardeal, na sede do patriarcado maronita de Bkerké, na manhã de terça-feira, 25 de junho, dirigindo-se aos altos representantes das Igrejas e das comunidades religiosas.
Estiveram presentes no encontro, convocada pelo patriarca maronita, Cardeal Bechara Boutros Rai, o Catholicos armênio ortodoxo Aram I, o patriarca armênio-católico Rafael Minassian, o patriarca melquita romano Youssef Absi, o Grande Mufti da República Abdul Latif Derian, e o chefe do Conselho islâmico alauita, o xeique Ali Kaddour. Uma composição que documenta a complexidade religiosa e, portanto, política do país.
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Os temores do Papa sobre a guerra no Líbano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU