28 Mai 2024
Diz o jesuíta e teólogo sobre o evento eclesial criado por Francisco: “A investigação preliminar em nível diocesano, nacional e continental é um fenômeno único”.
A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 25-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um caminho de conversão espiritual e institucional. É a impressão que fica ao ler atentamente o último ensaio escrito pelo teólogo de renome internacional Christoph Theobald, Un Concilio in incognito? Il Sinodo, via di riconciliazione e creatività (Um Concílio em incógnito? O Sínodo, caminho de reconciliação e criatividade, em tradução livre).
Un Concilio in incognito? Il Sinodo, via di riconciliazione e creatività (Foto: Divulgação)
O livro (196 páginas) publicado pela Edb (Edizione Dehoniane de Bolonha) estará nas livrarias a partir de hoje e reúne as impressões e as observações desse jesuíta franco-alemão aluno de Karl Rahner sobre os frutos que estão gerando o caminho sinodal impresso e desejado por Francisco à Igreja universal, na esteira, na sua opinião, do magistério mais fecundo e criativo do Vaticano II. Theobald nesse articulado ensaio se debruça sobretudo nos resultados imediatos que surgiram durante a XVI Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos no Vaticano, em outubro passado.
Emerge desse texto o juízo positivo que o próprio Theobald já havia expressado na conclusão do evento sinodal romano, na conversa no semanário francês La Vie realizada pela jornalista Marie Lucile Kubacki. O convite feito pelo estudioso, nascido em 1946, professor emérito de Teologia fundamental e dogmática nas Facultés Loyola de Paris para olhar com coragem e sem um espírito de nostalgia pelo passado para o processo de reforma dentro da Igreja católica levado adiante por Francisco também por meio do instrumento do Sínodo. E ele mesmo ressalta isso em uma das passagens mais significativas da publicação: “Resta, porém, que o simples fato de convocar o Sínodo e realizar a clássica investigação preliminar de forma sinodal em nível comunitário, diocesano, nacional e continental, é um fenômeno único na história da humanidade, que como tal já está ativando a visão messiânica do mundo".
Ele diz estar convencido de que um dos traços messiânicos dessa experiência seria reconhecer “a presença do Espírito Santo em qualquer um". A exortação de Theobald, também à luz do magistério do Papa Francisco, é de viver o evento sinodal como um momento de discernimento dos “sinais da presença ou do projeto de Deus [...] nos acontecimentos, nos pedidos e nas aspirações" que vêm do povo de Deus na sua totalidade. Trata-se, na opinião de Theobald, de um caminho cheio de incógnitas, mas necessário, aquele sinodal, porque a Igreja ainda se sente desafiada a dar respostas e colocar-se à escuta de tantas instâncias: do fim da vida às nanotecnologias, às biotecnologias. Um caminho sinodal indicado pelo Papa Bergoglio que surgiu para encontrar respostas a questões em aberto: falta de ministros ordenados, papel da mulher na sociedade e na Igreja, participação dos leigos, sexualidade, disciplina do casamento, ecumenismo. E que encontra o seu fio condutor de continuidade – é o pensamento do autor – na intervenção profética que o Cardeal Carlo Maria Martini proferiu no Sínodo Europeu de 1999.
No ensaio, Theobald oferece aos leitores, como uma bússola de orientação para uma Igreja aberta ao futuro e cada vez mais sinodal, autores que ele muito aprecia e testemunhas do legado conciliar, como Joseph Ratzinger-Bento XVI, Karl Rahner e o beneditino Ghislain Lafont, de quem relembra o profético ensaio Um catolicismo diferente. E, por fim, diz estar convencido de que “o processo iniciado pelo Papa Francisco em outubro de 2021 é um evento histórico que, pela sua ambição, equivale ao Concílio Vaticano II”.
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Decifrar o Caminho Sinodal com Christoph Theobald. Um “quase Concílio” para abrir-se ao Espírito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU