03 Janeiro 2024
Um momento de crescimento para toda a Igreja, apesar da “incerteza para o futuro”: é assim que o teólogo de renome internacional, Christoph Theobald, jesuíta alemão, mas francês de formação, nascido em 1946, lê o Sínodo sobre a sinodalidade e em particular a Assembleia realizada em outubro, na qual participou.
A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 23-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Numa extensa entrevista publicada recentemente na revista mensal Il Regno (a edição 20) o teólogo (fiel seguidor do pensamento de Karl Rahner) fez um balanço positivo da XVI Assembleia Geral Ordinária dos Bispos no Vaticano, mas exortou sobretudo a olhar em frente, sem nostalgias, para o futuro do cristianismo e deixar muitas questões em aberto sobre o que será a Igreja durante este início de milênio. A intervenção de Theobald apresentada na revista Il Regno é o resultado de uma extensa conversa que apareceu anteriormente no semanário francês La Vie e é realizada pela jornalista Marie Lucile Kubacki.
O horizonte pastoral sobre o qual se moverá a Igreja do futuro, na opinião de Theobald, não terá mais como ponto de partida o Mediterrâneo ou o Cristianismo dos primeiros séculos, mas algo diferente, mais “aberto". “Michel de Certeau – lemos na entrevista – convidava a reinventar toda a tradição cristã a partir da busca de uma nova coerência ecumênica”. “Dito com outra forma palavras – comenta Theobald –, a Tradição não foi recebida da mesma forma no século terceiro, décimo primeiro e vigésimo. É acolhida de forma diferente em Medellín, em Nova York, em Paris, no Departamento de Creuse". Na sua contribuição, o teólogo obviamente relembra o legado muitas vezes inacabado de muitos dos ensinamentos deixados pelo Vaticano II, mas lembra também esta importante verdade para cada crente: “Toda a Igreja está realmente presente em cada Igreja local”. Obviamente nessa longa conversa ele vislumbra as luzes, mas também as sombras e as dificuldades desse percurso sinodal indicado pelo Papa Francisco. E não esquece, no seu raciocínio, os muitos pontos não resolvidos. Começando pelo problema da diminuição das vocações sacerdotais. Especialmente no Velho Continente.
“Estamos obcecados pela crise. Se nas Igrejas da Europa não houverem mais pessoas dispostas a doar toda a sua vida pela animação das comunidades, essas Igrejas estão condenadas, a médio ou longo prazos. Então recorremos à “transfusão”. O intercâmbio com outras Igrejas, o envio de sacerdotes estrangeiros como fidei donum é uma bela realidade, mas tem um limite”.
Do seu observatório, o Padre Theobald reconhece no evento sinodal de Roma um momento de encontro vivido de modo verdadeiramente eclesial. “O método utilizado durante o atual Sínodo sobre uma Igreja Sinodal – é o pensamento do estudioso – ou seja, a conversação no Espírito, é um método notável para descobrir as nossas verdadeiras riquezas e carismas”. Entre os momentos fortes vividos em Roma – segundo Theobald – houve a “experiência da escuta mútua” através da “conversação no Espírito", mas também o confronto com as expectativas do "paroquiano médio" sobre o que espera da sua “pequena” Igreja particular.
E a esse respeito quis recordar um detalhe singular que viveu pessoalmente: “Na minha comunidade paroquial no município de Limousin, vi como, durante eventos dolorosos, as pessoas ficavam conversando na praça em frente à igreja após o culto dominical. As máscaras, e com elas as suspeitas mútuas, devem cair. São processos longos e difíceis e devemos dar-nos tempo. Isso não pode ser feito de forma abstrata e por grandes declarações." O Padre Theobald diz estar convencido da centralidade da figura do bispo nesse processo sinodal porque o seu “ministério” principal é o da “harmonia”.
Do seu ponto de vista, o grande teólogo, que é parisiense por “adoção”, diz estar convencido de que processos postos em marcha e na agenda do Sínodo estão apenas no início da sua maturação (basta pensar na discussão sobre a ordenação de mulheres e dos viri probati ao diaconato, ou ao acolhimento das pessoas LGBT). “Trata-se de um processo longo que nem a minha geração nem talvez o próximo – é a reflexão final – verão concluído. Estamos num ponto de virada, as respostas para muitas perguntas estão na nossa frente. Devemos aprender a conviver com perguntas que ainda não encontraram soluções”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Do Sínodo, um ponto de virada”. A reflexão do jesuíta Christoph Theobald - Instituto Humanitas Unisinos - IHU