16 Outubro 2017
O jesuíta francês Christoph Theobald, conhecido também na Itália pelos seus trabalhos sobre o Vaticano II (Nota de IHU On-Line: No Brasil, confira THEOBALD, Christoph, A recepção do Concílio Vaticano II. Volume 1: Acesso à fonte, São Leopoldo: Editora Unisinos, 2015) e pela sua proposta teológica de um cristianismo como estilo, há poucas semanas, terminou um importante livro novo, intitulado Urgences pastorales du moment présent. Comprendre, partager, réformer [Urgências pastorais do momento presente. Compreender, partilhar, reformar] (Ed. Bayard, 2017, 539 páginas).
A reportagem é de Maurizio Rossi, publicada por Settimana News, 11-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na perspectiva pastoral e espiritual, vemos emergir de novo fortemente a interrogação que anima o pensamento teológico de Theobald, isto é, como repensar o cristianismo e o papel das Igrejas nas nossas sociedades ocidentais marcadas profundamente por uma crise de confiança sobre as formas de convivialidade social, afligidas por problemas ecológicos inéditos, fascinadas pelas biotecnociências.
O jornal francês La Croix, normalmente atento aos excessos linguísticos, apresentou o livro de Christoph Theobald usando duas vezes em poucas linhas a palavra “incontournable”, isto é, imprescindível: o livro poderia se tornar um farol muito precioso para orientar a miríade de discussões e as tentativas de reorganização territorial das comunidades cristãs, que tanto estão envolvendo as nossas dioceses.
Encontramos o autor, a quem fizemos algumas perguntas.
Você acaba de publicar na França um novo livro com um título evocativo: Urgences pastorales du moment présent. Como nasceu esse novo livro, importante também no seu tamanho, já que é composto por mais de 500 páginas?
Para mim, esse livro era urgente, a ponto de eu ter lhe dado a precedência em relação a outros projetos em construção. Por quê? Porque eu acho que nós, como Igrejas europeias, estamos diante de uma encruzilhada, e é urgente, neste ponto, fazer um balanço. Como eu escrevo na introdução do livro, talvez seja também graças ao Papa Francisco – o primeiro papa pós-conciliar que não participou do Concílio e que vem de outro continente –, que, sem parar, nos coloca, por assim dizer, diante do espelho, isto é, nos põe para refletir sobre o que acontece na Europa. E, portanto, nos obriga, em primeiro lugar, a nos sentarmos, a refletirmos e a nos fazermos a pergunta “Onde estamos? Em que ponto do caminho nos encontramos?”. O cerne do problema, no qual, na minha opinião, está a urgência, é aquilo que o apóstolo Paulo chama de missão: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!”. A parte central do livro é dedicada justamente a esta convicção: a nossa vida cristã não pode não ser missionária. Mas o que constatamos de fato? Que, na Europa, precisamente essa dimensão missionária desapareceu quase totalmente.
Então, o primeiro passo a dar...
O primeiro passo a dar é tentar entender a situação, analisar os motivos dessa erosão da evangelização. Por que e como tudo isso aconteceu? Não podemos esquecer que o núcleo da fé cristã é, de algum modo, uma experiência mística, isto é, a intimidade de Deus que nos dá a força para compartilhar com outros aquilo que nós mesmos recebemos. Mas compartilhá-lo de modo que a liberdade do outro seja radicalmente respeitada. Esse é o ponto em que se pode captar toda a importância da forma, isto é, do estilo com o qual imprimimos as nossas relações. A liberdade, hoje, é, ao mesmo tempo, um objetivo – a evangelização tem como objetivo tornar o outro livre, mais livre –, mas também uma forma, uma modalidade, no sentido de que não se pode impor a fé a outros a partir de fora.
Quando você diz isso, você se conecta com uma noção que já desenvolveu com grande profundidade em outros escritos, isto é, a questão da santidade hospitaleira?
Exatamente. A partir desse ponto de vista, o livro não se distancia dos meus trabalhos sobre o Vaticano II, ao contrário, nem daqueles sistemáticos sobre o cristianismo como estilo, nos quais eu mostro como a santidade hospitaleira é uma maneira de realizar a evangelização.
Como o livro está estruturado?
O livro tem uma ênfase fortemente eclesial, mas também social, para o diagnóstico que ocupa a primeira parte. Eu considero fundamental começar analisando o mais lucidamente possível a situação em que nos encontramos. Escutar o nosso tempo e interrogá-lo profundamente é um ato essencial do pensamento teológico. A segunda parte do livro é mais teológica e é acompanhada por uma reflexão antropológica, uma espécie de revisitação do humano, que corresponde muito bem ao que o papa deseja quando fala de um novo humanismo. Há, depois, uma terceira parte centrada em uma proposta pedagógica, ou seja, em um modo de proceder que eu acho importante, porque, muitas vezes, as pessoas concordam com uma reforma missionária da Igreja (cf. Evangelii gaudium), mas perguntam o que isso significa concretamente e como fazer isso. Nessa parte, o livro oferece algumas sugestões concretas e como colocá-las em prática.
O olhar em perspectiva da sua análise e das propostas contidas no livro têm uma referência geográfica precisa? Se sim, qual?
É um livro concebido para os países da Europa central, particularmente do oeste e do sul da Europa, que são os que eu conheço melhor. Ou seja, aqueles países que sofreram fortes ondas de secularização e que foram obrigados, ainda antes do Vaticano II, a redefinir a sua relação com a sociedade. Portanto, dirijo-me de maneira particular a essa área geográfica, embora, certamente, essas páginas podem ser lidas também em outros lugares, fazendo analogias apropriadas.
A Igreja Católica que vive nos países do centro e do sul da Europa ainda têm energias para investir no processo de conversão missionária?
Eu gosto de pensar na fórmula de Jesus, quando ele diz que a messe é grande. Um dos maiores problemas das nossas Igrejas é que elas custam a ver as novidades que as pessoas poderiam trazer se fossem respeitadas na sua liberdade e não unicamente no seu papel de ovelhas do rebanho. Aqui, para dar um exemplo, o papel do padre se torna importante, na medida em que ele se mostra capaz de buscar e de valorizar os carismas das pessoas que encontra. Nessa ótica, vemos nascer iniciativas maravilhosas também em áreas de porcentagem muito baixa de cristãos, até mesmo em áreas marcadas por um longo processo de descristianização. As nossas Igrejas, mais do que buscar energias dentro das estruturas, deveriam buscá-las nas pessoas, porque lá certamente encontraremos.
Você tem uma profunda sensibilidade pastoral. Partindo da sua experiência, o que acontece quando realmente se assume esse tipo de perspectiva?
Eu posso dizer que acontecem coisas maravilhosas, totalmente inesperadas. Pude constatar pessoalmente que muitas pessoas, até mesmo sem saber, recorrem aos tesouros da Igreja, e que, frequentemente, pessoas que tinham se afastado também há muito tempo se reaproximam da Igreja quando se sentem respeitadas na sua liberdade e ajudadas a ter acesso à sua identidade mais profunda, assim como nos mostram as narrativas evangélicas. Por fim, eu diria que não devemos ficar zelosos de que os nossos tesouros sejam saqueados. Este tempo que estamos vivendo nos oferece oportunidades interessantes que devemos saber captar para tornar fecunda a nossa fé.
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Urgências pastorais da Igreja, hoje. Entrevista com Christoph Theobald - Instituto Humanitas Unisinos - IHU