14 Mai 2024
“A justiça climática não se concretizará sem justiça para a Palestina. A libertação da Palestina exige o fim do colonialismo fóssil e de todas as formas de opressão, extração e exploração imperialista. E a vida de todos, de Lisboa a Gaza, depende do fim ao fóssil até 2030”, escrevem Camila Lobo, doutoranda em Filosofia e membro do coletivo Estudantes por Justiça na Palestina, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Catarina Bio, estudante de Direito na Universidade de Lisboa e membro do Coletivo Greve Climática Estudantil – Lisboa.
O artigo é publicado pelo jornal português Expresso, 07-05-2024.
Hoje, terça-feira [07/05], em um contexto de levante estudantil internacional, nós e várias outras estudantes portuguesas ocupamos a Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa para exigir um fim ao genocídio em Gaza e um fim ao sistema fóssil. Juntamo-nos assim às várias faculdades europeias a ocupar sob o mote End Fossil, End Genocide. Estas reivindicações, aparentemente distintas, representam uma luta comum: o fim de um sistema que coloca o lucro acima das pessoas.
O genocídio em curso na Palestina é a última expressão do projeto colonial sionista. A indústria fóssil está intimamente ligada à perpetuação de regimes de dominação colonial. O controle e a exploração de recursos fósseis são das principais causas de grande parte das guerras e genocídios contemporâneos, habitualmente criados ou alimentados pela própria indústria fóssil que lucra diretamente com eles.
Em Gaza, já mais de 34.000 pessoas foram massacradas e mais de 76.000 feridas às mãos do estado de Israel, com o apoio da indústria de armamento ocidental. Neste momento, 1,5 milhão de palestinos estão encurralados em Rafah, sujeitos aos bombardeios e invasão terrestre do exército sionista.
A natureza colonial e orientação expansionista do estado de Israel servem aos interesses imperialistas do Ocidente e do lucro. A ocupação da Palestina, com a cumplicidade da comunidade internacional, esteve sempre ligada à exploração de recursos fósseis: são conhecidos os interesses do império britânico na exploração de carvão durante o seu mandato na Palestina, uma história que se repete nos dias de hoje com os projetos de exploração de gás na Palestina pelo estado sionista e seus parceiros internacionais. De fato, apenas três semanas após o início do massacre em Gaza, Israel já anunciava novos projetos de exploração de gás fóssil na costa de Gaza.
Este mesmo sistema, que coloca o lucro acima da vida, é o mesmo que produz a crise climática. Se não abandonarmos os combustíveis fósseis nos prazos da ciência – ou seja, se não garantirmos o fim ao fóssil até 2030 – iremos passar vários pontos de não-retorno que irão selar a morte de centenas milhões de pessoas. A falta de água, o calor extremo, o colapso das colheitas, e as catástrofes climáticas extremas, que já são enfrentadas por várias populações, serão também o nosso dia a dia.
Enquanto tudo isto acontece, os governos e as instituições que nos deveriam representar ignoram e exacerbam estas crises e nos mandam estudar para um futuro que não vamos ter, enquanto assistimos ao massacre de milhares de estudantes como nós. As instituições estão optando em condenar o futuro de todos. Perante a sua total inação, resta-nos escalar e agir.
A justiça climática não se concretizará sem justiça para a Palestina. A libertação da Palestina exige o fim do colonialismo fóssil e de todas as formas de opressão, extração e exploração imperialista. E a vida de todos, de Lisboa a Gaza, depende do fim ao fóssil até 2030.
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Fim ao Genocídio já e Fim ao Fóssil até 2030 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU