10 Mai 2024
Os jovens europeus exigem, assim como nos Estados Unidos, o fim das parcerias com instituições israelenses como punição à ofensiva lançada contra Gaza.
A reportagem é publicada por Página/12, 09-05-2024. A tradução é do Cepat.
Os protestos estudantis para exigir que as suas universidades cortem todos os vínculos com Israel devido à guerra de Gaza estão se espalhando por toda a Europa, com intervenções policiais na França, Países Baixos e na Alemanha para dissolvê-los. Nas últimas horas, na Espanha, os protestos tiveram a adesão de estudantes da Universidade Autônoma de Madri e da Universidade de Barcelona. Exigem, assim como nos Estados Unidos, o fim das parcerias com instituições israelenses como punição à devastadora ofensiva lançada contra Gaza em retaliação ao ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.
O corpo docente da Universidade de Barcelona votou esta quarta-feira a favor de uma moção de apoio à Palestina e contra o “genocídio” israelense, na qual aprova o rompimento de relações acadêmicas com universidades, entidades e empresas israelenses. O órgão máximo de representação da universidade, em cujo edifício central estão acampados uma centena de estudantes, debateu durante quase duas horas um texto que finalmente obteve 59 votos a favor, 23 contra e 37 abstenções.
A moção assinala que o rompimento das relações é “um mecanismo de pressão contra Israel enquanto o genocídio durar, até que o sistema de ‘apartheid’ seja erradicado e a colonização termine” na Palestina. Após a votação, o reitor, Joan Guardia, afirmou que a universidade “não será uma instituição indiferente” aos “terríveis acontecimentos” na Palestina e persistirá no seu “compromisso de denunciar” qualquer violação dos direitos humanos.
Coincidindo com o início da reunião da comunidade universitária de Barcelona, os estudantes fizeram um panelaço e bloquearam a rua em frente à universidade por pouco mais de dez minutos. Os estudantes da Universidade Autônoma de Madri, que desde segunda-feira acampam apelando ao fim da guerra em Gaza, por sua vez, denunciaram, em um comunicado, o “massacre que está ocorrendo com a cumplicidade absoluta dos Estados Unidos, da União Europeia e também do governo espanhol”.
O movimento estudantil que denuncia o “genocídio” em Gaza começou no dia 29 de abril na Universidade de Valência, quando cerca de cinquenta pessoas iniciaram um acampamento por tempo indeterminado na Faculdade de Filosofia. Duas semanas depois, os acampados ainda dormem neste centro universitário e conseguiram espalhar o seu protesto por outros campus espanhóis, como o da Universidade do País Basco.
Na Universidade de Amsterdã, na Holanda, centenas de estudantes retomaram o protesto no campus na quarta-feira, um dia depois de a polícia tê-los evacuado com cassetetes e destruído as suas barracas. A intervenção resultou em 169 prisões sob a acusação de crimes de desordem pública. Em decorrência do protesto, esta universidade holandesa publicou uma lista das suas parcerias com Israel, principalmente intercâmbios de estudantes e projetos de pesquisa envolvendo acadêmicos israelenses.
Cenas semelhantes ocorreram em Paris, na França, onde a polícia removeu na noite de terça-feira cerca de 100 manifestantes que ocupavam um anfiteatro da Sorbonne em solidariedade com Gaza e prendeu 88 estudantes. As forças de segurança também intervieram duas vezes na prestigiada universidade Sciences Po para dispersar cerca de 20 estudantes que tinham se alojado no salão principal. A intervenção pretendia permitir o acesso aos alunos que tinham de fazer um exame e resultou em duas detenções.
Na Alemanha, a Universidade de Leipzig, informou que entre 50 e 60 pessoas haviam ocupado o anfiteatro da instituição, trancando as portas pelo lado de dentro e montando barracas no pátio. Os manifestantes carregavam faixas com o slogan: “Ocupação da universidade contra o genocídio”. Anteriormente, na Universidade Livre de Berlim, a polícia reprimiu uma manifestação depois que cerca de 80 pessoas montaram um acampamento de protesto no campus. Vários manifestantes usavam a kufiya, símbolo da causa palestina.
Os protestos contra a ofensiva israelense na Faixa de Gaza espalharam-se também pelas universidades da Bélgica, com um acampamento em um dos campus de Bruxelas que se soma a outra ação estudantil em Gante. “Pedimos o fim de todos os acordos entre Israel e a Universidade Livre de Bruxelas (ULB), a publicação de todos os acordos que a ULB tem e o cancelamento da conferência do ex-embaixador de Israel na ULB”, disse à agência EFE uma porta-voz do movimento Universidade Popular de Bruxelas, que organiza o protesto no campus da capital, e que pediu para não ser identificada.
Cerca de trinta estudantes ocuparam um prédio da universidade na noite de terça-feira, num protesto não autorizado mas tolerado pelo centro universitário no qual foram registrados incidentes entre manifestantes e estudantes judeus. De acordo com os ativistas pró-palestinos, o incidente responde a “uma estratégia deliberada de provocação por parte de um grupo de estudantes para criar tensões com a ocupação (do edifício) e para deslegitimá-la publicamente”.
A reitora da ULB, Annemie Schaus, lembrou à rádio e televisão pública RTBF que a universidade iniciou “uma análise de suas parcerias e acordos que a vinculam às universidades israelenses” e que no dia 25 de março passado o conselho de reitores das universidades das regiões de Bruxelas e Valônia decidiram “suspender seu acordo de intercâmbio estudantil com a Universidade de Tel Aviv”.
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Os protestos estudantis pró-Palestina crescem na Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU