11 Abril 2024
Um em cada dois trabalhadores de mídia ucranianos admite que tem ataques de pânico, sinais de depressão e esgotamento. Num ambiente de guerra, “não é fácil fazer jornalismo imparcial no seu próprio país enquanto foguetes e drones sobrevoam a sua rua todos os dias e o Kremlin aterroriza o mundo com ameaças nucleares”, analisou a jornalista e editora Katerina Sergatskova, há 20 anos atuando no Leste Europeu, criadora da Fundação 2402, dedicada a fornecer equipamentos de proteção e capacitação em segurança para jornalistas.
A reportagem é de Edelberto Behs.
É claro que toda a população ucraniana está sofrendo com a guerra, com a invasão do país. Dados de maio de 2023 da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde da Ucrânia indicavam que 10 a 14 milhões de cidadãos necessitavam de apoio psicológico, muitos deles com sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Outra pesquisa, do Lviv Media Forum, de 2022, apontou que 36% das redações ucranianas consideravam a assistência psicológica uma necessidade prioritária.
Jornalistas estão expostos ao trauma mais do que outros profissionais. “Às vezes, eles precisam passar por eventos traumáticos repetidamente se a cobertura o exigir”, arrolou Katerina. Fotojornalistas, de modo especial, ao registrarem atrocidades, o resultado de bombardeios, morte, mais sentem esse impacto.
Outra dificuldade, “para serem imparciais, jornalistas precisam ser capazes de administrar suas emoções”, escrevendo para uma massa de leitores traumatizada e ansiosa, que, “também devido a problemas de saúde mental, tem mais dificuldade de distinguir a mentira da verdade ou a honestidade da conspiração”.
Katerina alertou que a verdade se tornou uma arma e um objetivo militar. Jornalistas tornaram-se um dos alvos mais desejáveis. “Por causa disso, muitos jornalistas morreram na Ucrânia no começo da invasão, em 2022, e na Faixa de Gaza, em 2023 e 2024”.
Lidar com problemas de saúde mental não é uma responsabilidade apenas pessoal. “Durante uma crise tão grande como a que estamos vivendo, no mundo todo, isso se torna uma necessidade humanitária”, defendeu. “Problemas de saúde mental que não recebem o devido cuidado frequentemente levam a comportamentos destrutivos, falta de empatia e desconfiança nas comunidades”, apontou.
A Fundação 2402 está criando um programa de saúde mental para jornalistas e redações na Ucrânia, com o objetivo de ajudá-los a lidar com problemas de estresse prolongado, esgotamento, ataques de ódio e traumas.
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Jornalistas ucranianos sentem os efeitos psicológicos da guerra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU