04 Abril 2024
"Buscar e fixar o sagrado num objeto, num espaço, é dar um passo em direção à idolatria. É buscar Deus onde não está", escreve o monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em seu blog, 21-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O sagrado, o sagrado tão invocado hoje na igreja! Mas o sagrado a que se faz referência ainda é o mesmo do Antigo Testamento e das religiões, é o sagrado que está no espaço do templo, do culto, dos sacrifícios.
Jesus, pelo contrário, revelou-nos que o sagrado está no coração da vida dos homens, está nas relações com os outros. O sagrado não é mais o que pertence a um lugar sagrado como o templo, que é inviolável, intangível e desperta temor. Para Jesus o sagrado, o lugar da presença de Deus, não é mais nem o templo nem o sacrifício, nem o holocausto, nem o sábado, mas é o espaço das nossas relações, onde um rosto se cruza com um rosto, uma mão é estendida à mão, uma face é oferecida à face. É o encontro entre os corpos que também são alma e espírito.
Por isso, Jesus mostra com as suas palavras e com os seus gestos que agora ele é a morada de Deus e que através das relações humanas esse corpo de Cristo pode crescer na história porque cada cristão torna-se corpo de Cristo, torna-se morada de Deus, templo do Espírito Santo.
Buscar e fixar o sagrado num objeto, num espaço, é dar um passo em direção à idolatria. É buscar Deus onde não está. É buscar a sua imagem onde ele não a colocou porque a fixou apenas nos humanos, no homem e na mulher criados à sua imagem e semelhança.
Certos espaços, como o espaço da igreja, certos objetos exigem respeito, devem ser reconhecidos com um verdadeiro discernimento, mas não são o “sagrado”.