03 Abril 2024
"Vemos todos os dias imagens de sofrimentos horrendos. Mensagens distorcidas pela linguagem da guerra. Da obsessão pelos inimigos. Como aquela fotomontagem relançada por Trump na qual se vê o atual presidente Biden 'amarrado' na carroceria de uma camioneta. Lembra aquela, infelizmente verdadeira, dos milicianos do Hamas numa camioneta parecida com o corpo de uma garota judia massacrada", escreve Alberto Leiss, jornalista italiano, em artigo publicado por Il Manifesto, 02-04-2024. Tradução de Luisa Rabolini.
Podemos sorrir em tempos que parecem tão sombrios?
No Facebook encontrei uma charge em que vemos Jesus saindo, ressuscitado, da gruta em que estava enterrado, rolando aquela pedra pesada, e olha para um mundo devastado por incursões aéreas, bombas explodindo, inimigos lutando entre si. Nesse ponto decide voltar para a gruta e coloca a pesada pedra de volta no lugar.
O Papa referiu-se à imagem da pedra removida no domingo: “A Igreja – disse na Bênção Urbi et Orbi – revive o assombro das mulheres que foram ao sepulcro no alvorecer do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus havia sido fechado com uma grande pedra; e assim hoje também pedras pesadas, pesadas demais fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de seres humanos e outras mais. Também nós, como as mulheres discípulas de Jesus, nos perguntamos: ‘Quem removerá essas pedras para nós?’”.
Algumas dessas frases de Francisco relançadas por Ida Dominijanni estão no Facebook.
Agradecimento de uma feminista ao Papa, desejo que o mundo, se for salvo, o será “pelo assombro das mulheres e das crianças".
Estamos, alguns mais outros menos, em busca do bem que pode nos ajudar a levantar aquelas pedras.
Vemos todos os dias imagens de sofrimentos horrendos. Mensagens distorcidas pela linguagem da guerra. Da obsessão pelos inimigos. Como aquela fotomontagem relançada por Trump na qual se vê o atual presidente Biden “amarrado” na carroceria de uma camioneta. Lembra aquela, infelizmente verdadeira, dos milicianos do Hamas numa camioneta parecida com o corpo de uma garota judia massacrada.
Bem é uma palavra que é ao mesmo tempo advérbio e substantivo, deriva do latim e talvez de uma distante raiz indo-europeia que se refere a “fazer, executar, mostrar favor”, ao contrário de mal, que desde o início evocaria o “falso, mau, errado”. A palavrinha se insinua, sem que nos apercebemos disso, também em certos advérbios compostos que parecem referir-se à precariedade desse bem mesmo onde se manifesta. Em suma, se conseguirmos ver esse bem em algum lugar, é bom tentar pegá-lo. Domingo de manhã eu me encontrei, de forma completamente imprevisível e por motivos que não vou revelar, seguindo uma parte da missa na Praça São Pedro. E olhando os tantos sorrisos que se cruzavam entre as pessoas presentes e na direção do Papa não pude deixar de pensar que em toda aquela multidão, entre as palavras em todas as línguas e as comoventes músicas do rito, havia uma boa quantidade de bem.
Saltando de um ponto para outro, vi algo de muito bom no fato de o chefe da Turquia, Erdogan, ter sido derrotado em quase todas as grandes cidades onde se realizaram eleições locais, começando por Ancara e Constantinopla, pelos partidos de oposição, talvez um pouco melhores que ele e sua equipe.
Outro sintoma talvez benéfico. Segundo a leitura do Corriere della sera no topo dos ensaios mais vendidos estão a autobiografia do Papa (Vida: a minha história através da História, editora HarperCollins) e o livro de Gino Cecchettin (Cara Giulia, editora Rizzoli). Depois vem o general Vannacci.
Após as palavras do pai e da irmã de Giulia Cecchettin, outros homens se declararam publicamente mais responsáveis pela violência contra as mulheres. Poderia algo de bom resultar disso? Até mesmo uma rejeição à violência bélica?
Sobre isso se discutirá no sábado, 6 de abril, por proposta de maschile plurale.
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A guerra e o bem para recomeçar. Artigo de Alberto Leiss - Instituto Humanitas Unisinos - IHU