02 Abril 2024
"O que causa indignação com esta Bíblia, disse o historiador Jemar Tisky, que possui mestrado em Teologia pelo Seminário Teológico Reformado de Jackson, no Mississipi, é que 'ela inclui a Declaração da Independência, a Constituição dos EUA e até mesmo a letra de uma canção de Lee Geenwood', o que entende, se trata de acrescentar à Bíblia documentos políticos específicos, que apagam completamente a separação entre Igreja e Estado", escreve Edelberto Behs, jornalista, em artigo enviado ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU
Eis o artigo.
O que um candidato a cargo eletivo não é capaz de fazer para agradar eleitores cristãos e angariar votos! Não é que o ex-presidente Donald Trump, provável candidato à presidência dos EUA pelo partido Republicano, lançou uma nova Bíblia com capa de couro, na terça-feira, 26, que recebeu o nome de “Deus abençoe os EUA”!
A Bíblia de Trump, na versão King James, também apresenta os documentos fundadores americanos, informa o portal conservador The Christian Post. Não só isso, também traz cópias da Constituição dos EUA, da Declaração de Independência e o manuscrito de “God Bless the USA” (Deus abençoa os EUA), de Lee Greenwood.
Em mensagem de vídeo postada no Truth Social, Trump afirma que “muitos de vocês nunca os leram e não conhecem as liberdades e os direitos que têm como americanos, e como estão sendo ameaçados de perder esses direitos, vamos dar a volta por cima”.
Para Trump, “a religião e o cristianismo são as maiores coisas que faltam neste país”, o que, entende, é a razão pela qual a nação se encontra em turbulência. “Acho que é um dos maiores problemas que temos. Perdemos a religião em nosso país”, disse.
“Esta Bíblia – lembrou – é um lembrete de que a maior coisa que temos para trazer de volta à América e tornar a América grande novamente é a nossa religião”, porque “no final, não respondemos aos burocratas em Washington, respondemos a Deus no céu”.
Segundo Trump, é preciso defender Deus em praça pública e não permitir que a mídia ou a esquerda (sic) “nos silenciem, censurem ou discriminem”.
O lançamento da Bíblia de Trump recebeu aplausos de conservadores e críticas de cristãos progressistas dos Estados Unidos. O professor de ética e teologia pública do Seminário Teológico Batista do Sul, Andrew T. Walker, declarou em artigo para a World Magazine que “fundir os documentos fundadores da América com a Palavra de Deus é uma expressão sincrética da religião civil que vai além do que aqueles que amam o seu país deveriam permitir”. Para ser franco, disse, “uma Bíblia com esta nunca deveria ter sido feita”.
O que causa indignação com esta Bíblia, disse o historiador Jemar Tisky, mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Reformado de Jackson, no Mississipi, é que “ela inclui a Declaração da Independência, a Constituição dos EUA e até mesmo a letra de uma canção de Lee Geenwood”, o que entende, se trata de acrescentar à Bíblia documentos políticos específicos, que apagam completamente a separação entre Igreja e Estado”.
A Bíblia, apontou Walker, “não é um símbolo da identidade americana, mesmo quando anunciamos orgulhosamente a forma de vida americana influenciada pela Bíblia”. Para o ativista progressista de direitos civis, pastor Al Sharpton, o lançamento da Bíblia de Trump representa “uma cusparada na cara de pessoas que realmente acreditam”.
Pois esse “santo americano”, que busca votos de evangélicos conservadores, foi condenado a pagar uma multa de 454 milhões de dólares por fraude fiscal em Nova York.
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Trump lança Bíblia e afirma que falta religião aos EUA. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU