02 Abril 2024
"A guerra é reservada aos Estados, o terrorismo é feito pelos Serviços Secretos. Os Estados fazem guerras sem razão, o terrorismo obedece à razão de Estado, crime um, crime o outro. Toda guerra hoje é um genocídio, o terrorismo pode se tornar também".
O comentário é de Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, 27-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Páscoa chega, a guerra e o terrorismo dão-lhe as boas-vindas. Estamos consternados pela ação terrorista tão devastadora em Moscou, como estivemos e estamos pelo terrorismo desencadeado em 7 de outubro e pelo que está agora em curso em Gaza, apesar da resolução unânime do Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo imediato, rejeitado por Israel.
O atentado de Moscou é particularmente eloquente, porque revela todo o percurso histórico e, portanto, deveria levar-nos a tomar uma posição definitiva contra a guerra. O Tajiquistão não tem nada a ver com isso, mesmo que os responsáveis pelo atentado sejam tadjiques. O Tajiquistão é uma República independente, de cultura árabe-persa, que antigamente fazia parte da União Soviética, agora faz parte da ONU e não tem motivos de conflitos com a Rússia. Quanto ao ISIS, há tempo desaparecido dos noticiários, a sua reivindicação é duvidosa, não fornece qualquer motivação para o atentado, que, portanto, permanece misterioso.
Os terroristas disseram que o fizeram por dinheiro: 5.000 euros, metade recebidos antes do atentado, metade seria depois. Quem os enviou? Trata-se de mercenários, um pequeno grupo mercenário como havia muitos no passado. Há uma diferença, contudo, entre as antigas “compagnie di ventura” e essas novas.
É a tecnologia. A tecnologia permite que mercenários privados ou homens-bomba ditos terroristas realizem massacres e destruições como só os Estados poderiam fazer.
Os 19 membros do grupo do atentado do 11 de setembro em Nova York tinham apenas alguns canivetes, mas com eles puderam usar os grandes aviões da American Airlines e da United Airlines, e, portanto, a tecnologia mais avançada, para derrubar as Torres Gêmeas, como só teria podido fazer uma bomba ou uma arma atômica.
Um louco nos Estados Unidos pode ir a uma loja, comprar um rifle de última geração e fazer um massacre numa escola.
O grupo do Hamas que realizou o atentado usou planadores motorizados. Isso significa que já não há qualquer diferença entre guerra e terrorismo: a guerra é travada com armas públicas, o terrorismo com armas privadas. Mas o terror é o mesmo. O inimigo é o mesmo. O mesmo inimigo que se combate com a guerra se combate com o terrorismo: tanto que, ao longo de todo o século XX, prevenir a guerra era chamado de “détente”, ou seja, enfrentar o terror com terror.
O terrorismo é a face oculta da lua, que é a guerra. O terrorismo nasce da guerra, da instituição do Inimigo, não é a guerra que nasce do terrorismo. A guerra é reservada aos Estados, o terrorismo é feito pelos Serviços Secretos. Os Estados fazem guerras sem razão, o terrorismo obedece à razão de Estado, crime um, crime o outro.
Toda guerra hoje é um genocídio, o terrorismo pode se tornar também.
Se tudo isso for verdade, significa que a guerra já não é mais o que era antes, considerada ao longo dos séculos “pai e rei de todas as coisas”, e até considerada justa pela velha teologia da Igreja; já não é mais apenas “fora da razão”, mas é um suicídio da razão, escancara abismos imprevisíveis.
Portanto, se ainda se quiser manter a “diferença humana”, a guerra deve ser proscrita, “repudiada”, totalmente e para sempre.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Armas públicas, armas privadas. Artigo de Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU