16 Março 2024
O Papa Francisco nomeou no dia 15 de março uma nova liderança para sua comissão papal contra o abuso sexual clerical, indicando um prelado colombiano e uma ex-funcionária da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos para dirigir as operações diárias do grupo.
A reportagem é de Christopher White, publicada em National Catholic Reporter, 15-03-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A mudança de liderança ocorre depois da demissão de um dos membros mais proeminentes da comissão e meses depois de uma reportagem sobre negociações financeiras anteriores do secretário cessante ter levantado questionamentos sobre sua adequação para liderar um grupo encarregado de promover melhores práticas para prevenir a má conduta e os abusos.
O padre oblata Andrew Small, com dupla nacionalidade britânica e estadunidense, atuava interinamente como número dois da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores desde 2021. Ele será sucedido por Dom Luis Manuel Alí Herrera, atualmente bispo auxiliar de Bogotá, Colômbia, que Francisco nomeou como novo secretário do grupo.
Alí Herrera, psicólogo, já atuou como membro da comissão. Desde 2022, atua como secretário-geral da Conferência dos Bispos da Colômbia.
Quem trabalhará ao lado de Alí Herrera será Teresa Kettelkamp, ex-policial dos Estados Unidos que anteriormente liderou o Escritório de Proteção de Crianças e Jovens dos bispos dos Estados Unidos. Kettelkamp, nomeada por Francisco como secretária-adjunta, atua como membro da comissão desde 2018.
O cardeal de Boston, Sean O’Malley, que atua como presidente da comissão desde sua criação por Francisco em 2014, permanece nesse cargo. Seu mandato deverá terminar em junho, quando O’Malley completar 80 anos.
Em comunicado, O’Malley disse que Alí Herrera é atualmente o membro mais antigo da comissão e que Kettelkamp já havia liderado um dos maiores escritórios nacionais de salvaguarda na Igreja dos Estados Unidos.
“Como membros da comissão há muitos anos, eles refletem um foco forte na continuidade do trabalho e da agenda da comissão desde sua expansão em 2022”, disse O’Malley. “Eles são bem conhecidos entre a comunidade de profissionais de proteção, e estou confiante de que trarão uma abordagem baseada no trabalho em equipe à nossa ação comum.”
O cardeal também elogiou aquilo que chamou de “visão e tenacidade” de Small em seu trabalho para a comissão.
Surgiram questionamentos sobre o futuro de Small há quase um ano, depois que uma investigação da Associated Press em maio de 2023 revelou detalhes sobre negociações financeiras que ele realizou em sua função anterior como diretor nacional de uma organização católica nos Estados Unidos encarregada de direcionar dinheiro para as missões da Igreja em países em desenvolvimento.
A reportagem detalhou a transferência de pelo menos 17 milhões de dólares das Pontifícias Obras Missionárias para uma operação de investimento de impacto criada por Small. O padre inicialmente continuou liderando essa operação enquanto atuava no Vaticano.
Small negou qualquer irregularidade financeira e não respondeu aos pedidos do NCR no ano passado para comentar a reportagem.
A situação da comissão provocou indignação de vários sobreviventes de abusos e de seus defensores, incluindo antigos membros da comissão antiabusos do Vaticano. Pelo menos um desses membros pediu uma investigação interna sobre as negociações financeiras de Small.
Três dias depois da publicação da reportagem inicial da AP sobre Small, Francisco deixou de lado o protocolo em uma reunião de arrecadação de fundos missionários do Vaticano para alertar sobre o risco de corrupção entre seus membros.
“Se falta espiritualidade e é apenas uma questão de empreendedorismo, a corrupção entra imediatamente”, disse o papa na época. “E vemos isso ainda hoje: nos jornais, veem-se tantas histórias de suposta corrupção em nome da natureza missionária da Igreja.”
O NCR confirmou mais tarde que o papa se referiu diretamente ao artigo da AP em uma reunião com jornalistas espanhóis no mesmo dia.
Além das Pontifícias Obras Missionárias, Small também já havia trabalhado como conselheiro de política externa na Conferência dos Bispos dos Estados Unidos.
Embora Small tenha sido elogiado pela sua capacidade de angariar fundos – incluindo a supervisão da mudança da comissão para um novo escritório em um palácio histórico do século XVI no centro de Roma – antigos membros da comissão levantaram questões repetidamente sobre sua liderança. Também questionaram a independência do grupo em relação às estruturas vaticanas, após uma revisão de seus membros e operações em 2022.
Em março de 2023, o padre jesuíta Hans Zollner, um conselheiro de longa data do papa no combate aos abusos clericais, demitiu-se da comissão depois de levantar publicamente sérios questionamentos sobre a liderança do órgão. Na época, O’Malley defendeu a eficácia do órgão, ao mesmo tempo que se comprometeu a resolver as preocupações levantadas por Zollner.
À luz da turbulência, a ex-membro da comissão e sobrevivente irlandesa de abusos Marie Collins, junto com a ex-presidente irlandesa Mary McAleese, foi coautora de uma carta ao papa em maio de 2023, alegando que a comissão havia sofrido “danos existenciais” e pedindo que Francisco interviesse para salvar o grupo.
Nos meses seguintes, questionamentos contínuos sobre a adequação de Small para a função continuaram surgindo.
Uma postagem de Small no dia 25 de dezembro de 2022 – que o exibia segurando uma filhotinha de cachorro, descrevendo-se “feliz na Cidade do Vaticano” e com a legenda “Feliz Natal para mim e para Mancia. Ela tem três meses. Mantendo os menores a salvo!” – foi amplamente divulgada entre autoridades vaticanas e sobreviventes de abusos. Isso suscitou preocupações sobre o uso das mídias sociais, nas quais ele aparentemente estava fazendo piada sobre a questão da proteção infantil.
No início deste mês, a comissão reuniu-se em Roma para sua assembleia plenária regularmente agendada e anunciou que divulgaria em breve seu “relatório-piloto anual” sobre políticas de salvaguarda, a pedido do papa.
O relatório, que está previsto para junho, oferecerá “recomendações sobre como avançar na consecução dos objetivos da verdade, da justiça, da reparação” e prevenir o abuso sexual de crianças na Igreja, disse a comissão.
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Papa troca líderes na comissão antiabusos depois de denúncias de negociações financeiras suspeitas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU