15 Fevereiro 2023
Por detrás dos números que nesta segunda-feira foram apresentados na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, “há vidas individuais”, há “um coração ferido, uma história de família ferida, há certamente muito que é preciso curar”, disse o padre jesuíta alemão Hans Zollner, membro da Comissão de Proteção de Menores, do Vaticano, e responsável do Instituto de Antropologia da Universidade Gregoriana.
A reportagem é de António Marujo, publicada por 7 Margens, 13-02-2023.
Hans Zollner, uma das vozes mais autorizadas na Igreja Católica no combate ao flagelo dos abusos, esteve em Lisboa a assistir à apresentação do relatório, a convite da Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica. Já em maio Zollner tinha estado no mesmo auditório a participar numa conferência de debate sobre o tema, organizada pela CI.
“Infelizmente, nos média falamos sobretudo de números e é muito difícil compreender que para lá dos números” há pessoas concretas, insistiu. “Isso tem de ser compreendido.”
Sobre o relatório apresentado em Lisboa na manhã desta segunda-feira, 13 de Fevereiro, Zollner considera que “infelizmente as proporções dos abusos, tal como as histórias, são muito familiares: isto repetiu-se em todos os cantos do mundo”. Paradoxalmente, este relatório “é também um sinal de esperança para esta Igreja e para este país”, considerou, já que “isto não é o fim, mas o início de algo”. Mas em primeiro lugar, insistiu, devem estar as vítimas, cujo testemunho é importante continuar a escutar: “Temos agora um certo número de pessoas que foram ouvidas, que responderam ao questionário, mas não é o fim. Mais vítimas se irão apresentar. Por isso, deve continuar-se a ouvi-las.”
O padre Zollner considera ainda que a escuta e a preocupação com as vítimas e as suas famílias, bem como com paróquias e escolas são uma “parte do ministério” da Igreja Católica. Por isso deve haver “um verdadeiro compromisso da Igreja, das dioceses e das congregações religiosas, tanto em Portugal como em outros locais” e percebendo que o apoio às vítimas e a preocupação por tudo fazer “para que não mais seja cometido um abuso, faça parte” são também parte “da missão da própria Igreja”.
Admitindo que os resultados do relatório sejam apresentados ao Papa Francisco pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Zollner acrescentou que a Igreja precisa de olhar para o seu passado, fazendo o que se puder para a “prevenção e salvaguarda”.
O relatório apresentado nesta segunda-feira identificou 512 testemunhos como válidos (entre os 564 recebidos) que, somados aos casso referenciados por essas vítimas, permitem chegar ao número de pelo menos 4815 vítimas de abuso sexual por parte de membros do clero, em Portugal.
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Portugal. Abusos Sexuais. “Há vidas de pessoas feridas por trás dos números” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU