19 Março 2024
"O ensinamento de Gandhi é um ensinamento incessante de todas as 'grandes almas', a começar por Jesus: 'Se alguém quiser me seguir, negue-se a si mesmo' (Marcos 8,34). Um convite que ele depois transforma numa miniparábola: 'se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto' (João 12,24)", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 10-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Se pudéssemos apagar o Eu e o Meu da religião, da política, da economia e assim por diante, em breve seríamos livres e traríamos o céu na terra.
Minha crença, meu pensamento: esse foi o título de uma coleção de artigos e diversos textos que Gandhi, conhecido como "Mahatma", ou seja, "a grande alma", compôs seguindo sempre o fio do não violência e do anseio à liberdade, até aquele dia de 1948, quando um fanático hindu o assassinou aos 79 anos. De um desses artigos publicado em 1926 extraí uma valiosa advertência moral universal que diz respeito à luta contra o egoísmo. É claro que existe um justo amor de si que é a base da relação com o outro, segundo o preceito bíblico de “amar ao próximo como a si mesmo”.
Infelizmente, porém, prospera e impera na política, na economia, na própria religião e na existência pessoal a erva maligna do interesse privado como norma única e exclusiva.
O ensinamento de Gandhi é um ensinamento incessante de todas as “grandes almas”, a começar por Jesus: “Se alguém quiser me seguir, negue-se a si mesmo” (Marcos 8,34). Um convite que ele depois transforma numa miniparábola: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12,24). É a força e a alegria de doar; é a plenitude do amor que num pai chega ao ponto de dar um órgão ou até mesmo a vida para salvar seu filho; é a capacidade - como sugeria o filósofo francês Jean-Luc Nancy - de não conjugar sempre e apenas o Ego sum, identitário de si mesmo, mas também o Ego cum do estar "com" o outro.