05 Dezembro 2023
Os trabalhos continuam em Dubai até 12 de dezembro, depois das declarações dos chefes de Estado, é hora das negociações técnicas chegarem a um texto final, que deverá ser adotado por unanimidade. O secretário da Pontifícia Comissão América Latina: “É hora de iniciar uma transição para um novo modelo de produção industrial mais justa, abandonando aquela que mata”.
A reportagem é de Marine Henriot e Alessandro Di Bussolo, publicada por Vatican News, 04-12-2023.
Os trabalhos da COP28 no Dubai, a maior conferência das Nações Unidas sobre o clima alguma vez realizada, prosseguem até 12 de dezembro. Depois dos discursos e declarações dos Chefes de Estado e de Governo nos primeiros dias, agora é o momento das negociações técnicas chegarem a um texto final, que deverá ser aprovado por unanimidade.
O documento elaborado pela Grã-Bretanha e Singapura, que servirá de base para a discussão entre os negociadores nas próximas duas semanas, diz que os países devem preparar uma “redução/saída dos combustíveis fósseis”. Este texto definirá a linha política dos 197 países, mais a União Europeia, signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC).
Na verdade, para além dos anúncios e propostas feitas por vários países, por exemplo sobre triplicar a utilização da energia nuclear ou acelerar a eliminação do carvão, apenas o texto final tem autoridade. A escolha das palavras deste texto final é essencial e é objeto de difíceis negociações em curso na metrópole dos Emirados Árabes Unidos. A diferença entre “reduzir” e “eliminar” os combustíveis fósseis é “o sinal enviado, particularmente ao mercado e à comunidade empresarial em geral, para mostrar que a era dos combustíveis fósseis está a chegar ao fim e que estamos a avançar para um novo sistema energético”, em que será dada muito mais importância à eficiência energética e às energias renováveis em particular”, comenta Lola Vallejo, diretora do Programa Climático Iddri (Instituto do Desenvolvimento Durável e das Relações Internacionais).
Este texto-chave, que poderia ser utilizado no documento final da COP28, é na verdade uma “avaliação abrangente” do acordo climático de Paris de 2015. De acordo com um relatório da ONU publicado no início de Setembro, as ações tomadas pelos vários países são insuficientes para limitar a aumento da temperatura global para bem abaixo de 2°C e, se possível, para 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, que foi um dos objetivos definidos na COP21 em Paris.
Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, professora universitária de Teologia Moral e Social e escritora argentina, também esteve presente na Conferência de Dubai e falou na sala. Palavras que o especialista reiterou aos microfones da Rádio Vaticano – Vaticano News, sublinhando a urgência de se afastar de um modelo de produção industrial “que mata”, como recordou o Papa Francisco. Em Dubai “as diferentes posições estão colocadas sobre a mesa, mas é hora de iniciar um caminho de justiça social para a nossa terra”.
A abordagem integral do problema da proteção do ambiente natural, mas também humano, da doutrina social da Igreja, relançada pela encíclica Laudato Sì de Francisco, é aceite pelos participantes da COP28, segundo Cuda, que define a mensagem vídeo do Papa como muito importante para a inauguração do Pavilhão da Fé dentro da Conferência das Partes.
“O Papa fala de paz e ninguém aqui vê as alterações climáticas como parte da 'terceira guerra mundial fragmentada' – sublinha a secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina – mas sim a guerra da tecnocracia contra a humanidade. Uma guerra que não resulte numa morte violenta e imediata, mas sim numa morte lenta mas certa".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
COP28, Emilce Cuda: iniciar um caminho de justiça social também para o clima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU