Papa afirma que “o drama climático é também um drama religioso”

Parolin leu a mensagem do Papa na inauguração do 'Pavilhão da Fé' | Foto: Vaticano Media

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04 Dezembro 2023

  • É importante nos unirmos, além das nossas diferenças, como irmãos e irmãs da mesma humanidade, e sobretudo como crentes, para lembrar a nós mesmos e ao mundo que, como peregrinos acampados nesta terra, somos obrigados a cuidar do casa comum.

  • Que este pavilhão seja, ao contrário, um lugar de encontro, e que as religiões sejam sempre lugares de acolhimento que, testemunhando profeticamente a necessidade da transcendência, falem ao mundo da fraternidade, do respeito e do cuidado mútuo, sem justificar de forma alguma a maus-tratos à criação.

  • Um mundo pobre em contemplação será um mundo contaminado na alma, que continuará a descartar pessoas e a produzir resíduos; um mundo sem oração dirá muitas palavras, mas, carente de compaixão e de lágrimas, viverá apenas de um materialismo feito de dinheiro e armas.

  • Que os fatos não neguem o que é dito com os lábios, que não nos limitemos a falar de paz, mas que tomemos uma posição clara contra aqueles que se declaram crentes, que alimentam o ódio e não se opõem à violência.

A reportagem é de Sebastião Sansão Ferrari, publicada por Vatican News e reproduzida por Religión Digital, 03-12-2023.

Todo credo religioso autêntico é fonte de encontro e de ação. O Papa Francisco reitera isto no discurso proferido pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, durante a inauguração do “Pavilhão da Fé” na COP28. Anteriormente, foi projetada nos telões gigantes uma mensagem em vídeo na qual o Papa pedia a todas as religiões que trabalhassem juntas pela paz e pelo clima.

No seu texto, o Pontífice agradece ao doutor Ahmad Al-Tayyeb, Grande Imã de Al-Azhar, que lhe manifestou a sua proximidade; ao Conselho Muçulmano de Anciãos, com quem se encontrou há um ano, ao Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA) e a todos os colaboradores que organizaram e promoveram este pavilhão religioso.

Desenvolvendo o primeiro conceito (encontro), o Papa recorda que “é importante nos unirmos, além das nossas diferenças, como irmãos e irmãs da mesma humanidade, e sobretudo como crentes, para lembrar a nós mesmos e ao mundo que, como peregrinos acampados nesta terra, somos obrigados a cuidar da casa comum”.

O drama climático também é um drama religioso

Ele insiste que “as religiões, como consciências da humanidade, nos lembram que somos criaturas finitas, habitadas pela sede do infinito”.

“Sim, somos mortais, somos limitados, e cuidar da vida significa também se opor ao delírio da onipotência voraz que está devastando o planeta. Isto surge quando o homem se considera senhor do mundo; quando, vivendo como se Deus não existisse, ele se deixa arrebatar pelas coisas que acontecem. Então o ser humano, ao invés de ter a tecnologia à sua disposição, deixa-se dominar por ela, 'objetifica-se' e torna-se indiferente. Incapaz de chorar e sentir pena de si mesmo, fecha-se em si mesmo e, elevando-se além da moralidade e da prudência, destrói até aquilo que lhe permite viver. É por isso que o drama climático é também um drama religioso: porque a sua raiz está na presunção de autossuficiência da criatura. Mas 'a criatura sem o Criador desaparece' (Const. past. Gaudium et spes, 36). Que este pavilhão seja, ao contrário, um lugar de encontro, e que as religiões sejam sempre 'lugares de acolhimento' que, testemunhando profeticamente a necessidade da transcendência, falem ao mundo da fraternidade, do respeito e do cuidado mútuo, sem de forma alguma justificar os maus-tratos da criação" (cf. Documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a coexistência comum, Abu Dhabi, 4 de fevereiro de 2019).

Nas palavras lidas por Parolin, o Sucessor de Pedro aborda outro tema central do pavilhão: a ação. Sublinha a urgência da mobilização em favor do ambiente, mas esclarece que “não basta simplesmente utilizar mais recursos econômicos; é preciso mudar o modo de viver e por isso é preciso educar para estilos de vida sóbrios e fraternos. Esta é uma ação essencial para as religiões, que também são chamadas a educar para a contemplação, porque a criação não é apenas uma realidade que devemos preservar, mas um dom que devemos acolher na alma, que continuará a descartar pessoas e a produzir resíduos; um mundo sem oração dirá muitas palavras, mas, sem compaixão e lágrimas, viverá apenas de um materialismo feito de dinheiro e armas".

Um único apelo: paz!

O Papa também destaca a interdependência da paz e do cuidado da criação: “É claro para todos como as guerras e os conflitos prejudicam o ambiente e dividem as nações, impedindo um compromisso partilhado baseado em questões comuns, como a salvaguarda do planeta”, afirma. “Uma casa, de fato, só é habitável para todos se no seu interior se estabelece um clima de paz. É o caso da nossa terra, cujo solo parece unir-se ao grito das crianças e dos pobres para enviar uma única voz que chegue a céu em súplica: paz!"

Para o Santo Padre, "guardar a paz é também tarefa das religiões. Por favor, que não haja incoerências nisto" e exorta: "Que os fatos não neguem o que se diz com os lábios; não nos limitemos a falar de paz, mas que tomemos uma posição clara contra aqueles que, declarando-se crentes, alimentam o ódio e não se opõem à violência".

Bergoglio faz eco às palavras de Francisco de Assis na Lenda dos Três Companheiros, quando Il Poverello escreve: “Que tenham a paz que anunciam nas palavras e, em maior medida, nos seus corações”. E, por fim, peça que “o Todo-Poderoso abençoe nossos corações para que possamos ser, juntos, construtores de paz e guardiões da criação”.

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